domingo, 22 de agosto de 2010

A RÁPIDA ASCENÇÃO DOS VINHOS DE URUGUAI



Sebastián Delorrio, Encargado de Marketing da Filgueira Viñedos y Bodegas

A história do vinho uruguaio é bem recente. Foi por volta do ano de 1870 que um imigrante basco, Pascual Harriague, formou os primeiros vinhedos de Tannat em Salto, noroeste do país. Desse projeto e por iniciativa dele ocorreu uma difusão de vinhedos de Tannat pela região, uva que acabou ficando conhecida pelo nome de Harriague.

Na mesma época, o catalão Francisco Vidiella trouxe mudas da uva francesa Folle Noire e formou vinhedos em Colón, no sul do Uruguai. A Folle Noire foi chamada inicialmente de Peñarol porém, por força da situação, ficou com o nome de Vidiella.

Em 1883, já ocorria a primeira festa nacional da vindima, que marcou uma fase de expansão dos vinhedos até alcançarem a marca dos mil hectares, quando foram literalmente tragados pela chegada da filoxera aos vinhedos uruguaios. Foi uma freada que perdurou por muitos anos.

No início do século XX chegaram imigrantes italianos que deram novo arranque à vitivinicultura, então baseada em videiras enxertadas, resistentes à filoxera.

A área ocupada por vinhedos cresceu vigorosamente até atingir 16.000 hectares. Porém, na segunda metade do século XX, teve lugar uma gradual redução das áreas plantadas com castas inferiores, para alcançar qualidade mundial para os vinhos. Na década final, a área plantada se resumiu a cerca de 10.000 hectares, com os vinhedos de maior qualidade cultivando apenas castas nobres para vinho, eliminando as variedades menos expressivas.

Nesse período, também acontecia a transição política do Uruguai que, entre outras medidas, estava prestes a abrir-se ao mercado internacional, terminando com o protecionismo para seus produtos. No segmento da vitivinicultura estava claro que o vinho uruguaio ainda não teria condições de competir com o importado.

Em 1988, com o amparo do governo, foi iniciado um estudo das potencialidades do vinho uruguaio que contou com a contratação de uma dupla de especialistas da Califórnia.

Depois de um longo período de degustação, os consultores chegaram à conclusão que os vinhos de castas finas tradicionais não tinham tipicidade, não apresentavam qualidade suficiente e não tinham preço para enfrentar os importados.

Os consultores só não haviam degustado o Tannat porque este era um vinho elaborado rusticamente, muitas vezes cortado com Isabel e comercializado em garrafões.



Carlo Ottieri, Representante da Wines of Uruguay e
Juan Martin Borda, General Manager da Bouza

Mas o impasse estava formado. Os gringos queriam saber se não havia nada mais para se provar. Como última tentativa, Juan José Arocena, executivo da Vinos de la Cruz, escolheu um garrafão varietal de Tannat, preencheu umas garrafas normais e, mesmo sem convicção, entregou para degustação. Estava descoberto o Tannat uruguaio em 1989!

Na época, o problema do Tannat era resultado das péssimas condições de vinificação. Daí para a frente desenvolveu-se um programa de vinificação correta do Tannat que foi apresentando evolução efetiva na qualidade do vinho. A década de 1990 marcou a grande evolução do Tannat que se revelou como a versão uruguaia para a vaiedade e deu destaque aos demais vinhos do país no exterior.

Na primeira vez que, a convite de vinícolas uruguaias, visitei empreendimentos uruguaios, em 2002, minha intenção era tirar a prova dos nove dos muitos rótulos de Tannat, respeitando a hierarquia de preços e considerando a relação custo-qualidade ou custo-satisfação para cada nível. Foi possível armar uma pirâmide de qualificação dos vinhos, com alguns exemplos de ultra premium ou ícones.



Chardonnay Reserva 2006 - Filgueira - 9 meses de carvalho - R$ 39,15 na Decanter

Desta época para cá, muitas vinícolas novas entraram mais efetivamente em cena e hoje o vinho uruguaio tem grande expressão internacional. Basta degustar vinhos modernos como os da Bouza e da Filgueira.

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