segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

ÁFRICA DO SUL E NAPOLEÃO BONAPARTE

Em 1488, naus portuguesas comandadas por Bartolomeu Dias conseguiram dobrar o Cabo da Boa Esperança e suas turbulências, tocando o início do Oceano Índico. Nove anos depois, em 1497, outro navegador português, Vasco da Gama, descobre a rota para as Índias, inaugurado um novo ciclo mundial de navegação para um grande fluxo de caravelas.


CABO DA BOA ESPERANÇA - O INÍCIO DE TUDO.

Os holandeses, grandes comerciantes, logo perceberam que a demorada viagem ao longo das costas africanas iria necessitar de postos de suprimentos vitais, especialmente na sua posição intermediária, ou seja, no próprio Cabo.

Sem perda de tempo, a 6 de abril de 1652, a holandesa Companhia das Índias Orientais, através do comandante Jan Van Riebeck, implantou na região a Cidade do Cabo um posto comercial permanente, especializado no abastecimento das naus com água e outros víveres indispensáveis aos embarcados. A colonização da região não era o primeiro objetivo.

Como não se entendeu com os Khoikhois (Hottentots), fez guerra a este povo, aprisionando seus líderes em Robben Island, liberando a área para exploração.

A vitivinicultura sul-africana nasceu por iniciativa do próprio Jan van Riedeeck, que estabeleceu em Table Bay, Cidade do Cabo, os primeiros vinhedos que, numa iniciativa pioneira, deram não mais do que vinhos rascantes e adstringentes.


PRÉDIO ORIGINAL DA GROOT CONSTANTIA - ATUALMENTE MUSEU

Esta realidade só veio a se alterar quando, em 1685, o governador Simon van der Stel formou 750 hectares de vinhedos de Moscatel na sua propriedade de Groot Constantia, nas proximidades da cidade do Cabo, inaugurando aquela zona vinícola.

Em 1668, chegam cerca de 200 famílias de hughenotes, fugindo da perseguição religiosa na França, instalando-se mais para o interior, onde atualmente fica a localidade de Franschoeck, trazendo consigo toda a cultura e os conhecimentos da elaboração de vinhos, que foram aplicados também em Groot Constantia.

Quase um século mais tarde, em 1778, a região de Constantia voltou a ser palco de importantes lances na viticultura quando Hendrick Cloete, ambicioso empreendedor, comprou um vinhedo de Moscatel e, a partir dele, deu início à produção dos vinhos de sobremesa Vin de Constance.

ROTULO DE VINHO DA GROOT CONTANTIA DA ATUALIDADE.

O Vin de Constance prontamente invadiu como modismo os requintados salões aristocratas europeus. O poeta francês Charles Baudelaire tinha o Vin de Constance como sua preferência. Outro famoso consumidor foi o soldado-imperador Napoleão Bonaparte que, após ser derrotado, teve que amargar o exílio na minúscula Ilha de Santa Helena, a meio caminho da África do Sul.

NAPOLEÃO RUMO AO EXÍLIO.

Essa ilha não tem praias e a sua capital, Jamestown, fica incrustada entre inexpugnáveis paredões de rocha.

Vigiado rigorosamente pelo exército inglês e isolado de tudo e de todos, Napoleão encontrou no Vin de Constance um refrigério para trazer-lhe recordações da boa vida nas cortes européias, até morrer, aos 51 anos.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

VINHO CHILENO AGRADA A TODOS

Aconteceu nos escritórios da Maná - Produções, Comunicação & Eventos, uma das mais competentes organizadoras de mega-eventos do Brasil, um encontro descontraído para degustar uma linha chilena de vinhos para verificar a aplicação em algumas situações pontuais e no atendimento do dia-a-dia do consumidor.

Os vinhos DVINO se propõem a agradar uma gama de gostos distintos, atendendo ao que espera cada padrão de paladar.




Estavam recepcionando para o bate-papo o pessoal da Maná, André Guimaraes, Gê e Tiago, e participando o empresário Mario Martim e os especialistas em comunicações e marketing Thiago Valadares e Gabi Cywinski. Apresentando os vinhos o consultor Sérgio Inglez de Sousa (TODOVINHO) e um dos proprietários da DVINO Carlos Aguilar Paris.




O grupo debateu temas como grandes eventos assessorados pela Maná, circuitos culturais universitários estruturados por Thiago e Gabi, desenvolvimento de produtos, promoções e vendas por Mario Martim.

Um ponto comum foi a consideração de que o vinho poderia sempre estar presente.


Foi conduzida a degustação comentada de dois rótulos DVINO Reserva Privada 2010, um branco Chardonnay e um tinto Cabernet Sauvignon, ambos com 13,5% de teor alcoólico.

O Chardonnay mostrou-se de cor amarelo claro, próprio de suas origens mais frias e chamou a atenção pelos seus aromas de frutas brancas mais delicadas como a pêra e a maçã verde, boca com textura oleosa, equilibrando toques ácidos de abacaxi com uma maciez bem evidente. Um vinho classificado como "muito muito agradável de se tomar em muitas ocasiões".

O Cabernet Sauvignon mostrou boa intensidade da cor vermelho com reflexos rubi, lágrimas intensas, aromas de frutas como a ameixa preta e a groselha, boca equilibrada pelos taninos maduros, acidez correta e uma maciez marcante.

Não resolvemos todos os problemas do país, mas identificamos as aplicações nos eventos do Norte e Nordeste (bumba-meu-boi, carnaval e micareta), tanto quanto nos momentos do dia-a-dia.

No Sudeste e Sul e sua multifacetada gastronomia, os vinhos podem fazer harmonizações nas refeições e nos eventos, assim como alegrar momentos especiais da vida do apreciador.



COOPERATIVA VINÍCOLA AURORA FAZ 80 ANOS


A grande crise que se instalou na vitivinicultura brasileira da Serra Gaúcha face à queda do consumo e crescimento desregrado da produção, envolvia preços abatidos e estoques excessivos, fazendo disparar no segundo semestre de 1929, a movimentação de pequenos produtores e comerciantes no sentido de buscar auto-proteção. Esse movimento culminou com a fundação das primeiras cooperativas vinícolas.

Na realidade este foi um processo gradual em que a aglutinação de pessoas foi acontecendo à medida que aumentavam os riscos para cada que continuava trabalhando individualmente e a na proporção em que crescia o conhecimento e a confiança mútua dentro do grupo de cooperados. si.

Os colonos, isolados na zona rural, eram submetidos ao sistema do comprador.

Os comerciantes impunham os preços e as formas de pagamento, não raro alongando os prazos de pagamento, usando este capital para benefício próprio e, sob o pretexto de guardar os valores em lugar seguro, até cobravam taxa. Os colonos sem quaisquer direitos resolveram associar-se “em cooperação”, assim somando forças e configurando uma capacidade de enfrentar “de igual para igual” os “grandes” da cidade, negociando regras mais justas.

Dentro deste contexto, em Bento Gonçalves, produtores passaram a considerar a idéia de se associarem em torno de uma cooperativa vinícola. As primeiras conversas, provavelmente iniciadas informalmente em 1930, foram evoluindo, tomando corpo, até que aos 14 de fevereiro de 1931, o grupo mais central promoveu uma reunião na propriedade rural do Sr. Antônio Pértile, situada na Linha Geral, número 20, 1° Distrito de Bento Gonçalves.

Segundo opiniões de pessoas que acompanharam todo o processo de organização desde o início, a escolha do nome da sociedade foi um momento muito interessante.

Havia um pedreiro italiano em Bento Gonçalves, Luiz Cao, imigrado para o Brasil depois da Primeira Guerra Mundial, que também produzia uva e vinho. Suas duas filhas gêmeas idênticas chamavam a atenção de todos por serem tão parecidas, em suas aparências físicas, roupas, sapatos e penteados, gerando a dúvida de quem seria quem: Alba ou Aurora. Segundo consta, em 1931 com sete anos de idade, elas ajudavam nos afazeres domésticos e, em torno do meio-dia, levavam o almoço do pai, que trabalhava como pedreiro na construção dos primeiros pavilhões da Cooperativa. Como figuras popularmente graciosas, é aceito como uma suposição válida, que inspiraram a denominação da cooperativa, mesmo aí gerando a dúvida, Alba ou Aurora, para finalmente chegar-se à conclusão Cooperativa “Aurora”.

Segundo Valdemiro e Rosa Picoli, foi realizado um churrasco para oficializar e tornar pública a fundação da cooperativa e, neste evento, foram especialmente convidadas e estiveram presentes autoridades da cidade como: Olinto F. Oliveira Freitas, Prefeito Municipal; Amadeu Petrolli, Sub-Prefeito do 1° Distrito; Belo da Cunha Amorim, Coletor Federal; Achylles Mincarone, advogado; Magipe Buses, advogado; Antônio Milani e Fiorelo Ozelame, representantes da Cooperativa Bento Gonçalves.

Os registros acerca da fundação da cooperativa dão conta de que foram dezesseis os sócios fundadores, embora na ata de fundação podem ser contadas dezoito pessoas integralizando cotas de capital na constituição da Cooperativa Agrícola Aurora. Provavelmente, no lapso de tempo entre a solenidade pública e a lavratura a ata de fundação, tenham ocorrido novas adesões, até porque, além destes fundadores, outros 25 produtores foram registrados no livro matrícula, configurando os primeiros associados.

O livro-matrícula, um grosso compêndio de 500 páginas, recebeu o apontamento desta ata, manuscrita em caligrafia impecável de estilo antigo, nos termos seguintes:

“ Ata da Constituição da Cooperativa “Aurora”

Aos quatorze dias do mês de Fevereiro de mil novecentos e trinta e um, na propriedade rural de Antônio Pertile, sita a linha Geral, n° 20, 1° Distrito deste município de Bento Gonçalves, presentes o Sr. Dr. Olinto F. de Oliveira Freitas, M. D. Prefeito Municipal, Sr. Belo da Cunha Amorim, dd. Colector Federal, Dr. Nagipe Buaes, Sr. Achyles Mincaroni, dd. Advogado das auditorias desta Comarca, Sr. Antonio Milani e Fiorello Oselame, representantes da Cooperativa Agricola “Bento Gonçalves” e numerosos agricultores commigo Amedeo Vettorelli, subintendente, digo sub-prefeito do 1° distrito, servindo como secretário para este acto, por indicação dos presentes assumiu a presidencia dos trabalhos o Sr. Dr. Prefeito Municipal, que, depois de explicar os fins da reunião, determinou a leitura dos estatutos para discussão e aprovação. Após a leitura foram approvados unanimemente. Ditos Estatutos constam de um livro especial, occupando 32 folhas escriptos em uma só laudo e cuja materia acha-se distribuida em oito capitulos com setenta e um artigos. Em seguida tendo desde logo entrado em vigor os estatutos, de accôrdo com os mesmos procedeu-se á eleição da 1° Diretoria que por unanimidade ficou assim constituida: Director-presidente: Guilherme Fontanari; Director comercial: Ernesto Caron; Director Gerente: Romano Constantino; Conselho deliberativo, José Baú, Zatt Irmãos, João Cordazzo, José Possamai e Anselmo Piccoli; Conselho Fiscal: Angelo Schanato, Jose Dall’Oglio e Santo Cobalchini. Suplentes: Carlos Torconi, Antonio Pertile e Libero Puerari.

A seguir procedeu-se a formação do capital pela forma seguinte: Ernesto Caron e Zatt Irmãos cincoenta acções cada um; José Baú, Anselmo Piccoli e José Pessamai vinte acções cada um; Antonio Pertile quinze acções; Romano Cobalchini, Ernesto Pessamai, Guilherme Fontanari, João Cordazzo, Luiz Moret, Libero Puerari, Irmãos Turconi, Antonio Crestani e Felis Roman dez acções cada um; Jose Mafessoni cinco acções; a asemblea deliberou manter abertas as inscripções até a integralização do capital, autorizando a Diretoria Executiva a subscrever o original dos Estatutos aprovados e a lavrar os termos de abertura e encerramento rubricando as respectivas folhas do livro no qual, ditos estatutos, foram lançados. O Sr. Presidente extendendo-se em considerações sobre o acto, deu posse a Diretoria recem eleita, declarando definitivamente installada a Cooperativa “Agricola Aurora” fazendo votos pela sua prosperidade em beneficio do progresso economico deste municipio. Foi ainda feota a comunicação official de fundação da nova Cooperativaao meretíssimo Governo do Estado. O Sr. Presidente após deu a palavra a quem della quisesse fazer uso e como ninguem a pedisse declarou encerrada a presente sessão, de que para constar foi lavrada acta que lida e achada conforme, vae assignada por mim secretario, pelo presidente, pela Diretoria e demais pessoas presentes. "

No dia 14 próximo vamos festejar os 80 anos da lider brasileira Vinícola Aurora!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

DEGUSTAÇÃO VISUAL – DA ADEGA AO CÁLICE


A degustação visual observa os aspectos do vinho que dependem de fatores de uma das três fases: da produção da uva no vinhedo, da metodologia de vinificação na cantina e, finalmente, dos procedimentos relativos à garrafa depois que sai da adega. A formação da estrutura e cor do vinho no vinhedo foi comentada em texto de novembro de 2010, enquanto que a construção da estrutura e cor do vinho nas atividades da adega está registrada no texto de dezembro de 2010.

Ao deixar a adega, o vinho vai experimentar, na garrafa, a evolução da estrutura e da cor. A viagem até o momento do serviço na taça pode percorrer muitos caminhos.

A distância é longa, por exemplo, para que chegue um vinho chileno ao Brasil por via terrestre. A economia sem critérios leva a uma carga em caminhão aberto e sem refrigeração, expondo as caixas superiores ou as garrafas posicionadas para o exterior da carga a um calor maior ao longo do dia... temperaturas amenas durante a noite. Os vinhos submetidos aos choques maiores vão mostrar uma evolução mais rápida que o desejável e eventualmente um amadurecimento ou mesmo morte precoce. Com temperaturas acima de 20°C, a velocidade de envelhecimento é muito maior e o vinho pode alcançar a sua taça com coloração mais opaca, reflexos atijolados ou até na cor caramelo.

Chegando à importadora, a armazenagem que antecede à distribuição pelas lojas criam as condições de estocagem. Se climatizadas, são favoráveis à conservação do vinho, enquanto que temperaturas altas aliadas a variações dia-noite continuam sendo elemento de aceleração do amadurecimento e da decadência do vinho.

Além da estocagem, as lojas dispõem as garrafas em expositores para venda. Falhas que deixem de garantir ao vinho condições de baixa luminosidade, vibração zero e temperatura baixa acarretam problemas.

Finalmente, a guarda do vinho na casa do consumidor deve respeitar a natureza viva do vinho e selecionar local de guarda no qual haja condições ideais: ausência de vibração (como acontece em cômodos próximos a poço de elevador), abrigo contra a luz e, ainda, temperaturas baixas (16°C) constantes, evitando-se de choques térmicos.

Evolução ou amadurecimento do vinho pode ser observada visualmente, pela cor nos diferentes estágios. Tintos e brancos começam brilhantes e morrem na cor marrom apagada.

Mesmo que vigilante, toda essa maratona pode ser prejudicada pelo serviço em taças inadequadas, quer grossas, quer de cristal com entalhes e cores, prejudicando a avaliação, por exemplo de um tinto rubi vivo e brilhante com reflexos violáceos ou um tinto vermelho desmaiado com reflexos atijolados ou de um branco amarelo vivo e brilhante ou dourado avermelhado.

Ufa! Sensível, vivo e com frágil imunidade, o bom vinho é um herói!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

PROGRAMAÇÃO FEVEREIRO SBAV-RIO


A SBAV-RIO está elaborando a agenda de eventos que ocorrerão em fevereiro e já tem os seguintes encontros programados:

10/02 – Cocktail para iniciar as atividades de 2011.
Diversos rótulos a serem degustados acompanhados de pães, queijos e frios.

Local: Sede da Sbav – Rio > Rua Martins Ferreira, 71 – Botafogo
Horário: 19:30h
Investimento: Apenas Sócios R$ 30,00
Adquira sua taça com a logomarca da SBAV-Rio por mais R$ 15,00 !


17/02 – “Experiências Perfeitas de Cortes Exóticos”, ministrada por Paulinho Gomes, presidente da SBAV-Rio.
1º) Ramirana Sauvignon Blanc / Gewürztraminer – Chile (Valle Colchagua)
2º) Ramirana Chardonnay / Sauvignon Blanc – Chile (Valle Rapel)
3º) Masi Passo Doble - Malbec / Corvina – Argentina (Tupungato)
4º) Planeta Nero D’Avola / Frappato – Itália (Sicilia)
5º) Surpresa !!!

Local: Sede da Sbav – Rio > Rua Martins Ferreira, 71 – Botafogo
Horário: 19:30h


24/02 – “Loire – O Vale dos Reis e seus Nobres Vinhos”, ministrada pelo especialista Homero Sodré.

Em breve mais informações dos eventos.
As degustações temáticas estarão sujeitas ao quórum mínimo de 13 participantes.

Mais informações pelo e-mail da secretaria@sbav-rio.com.br ou no telefone (21) 2537 2474 á partir de 13h.

TORRONTÉS: O ÍCONE BRANCO DA ARGENTINA


Quando falamos de uma determinada variedade de uva automaticamente pensamos na sua origem: Cabernet Sauvignon-Bordeaux, Pinot Noir-Borgonha, Chenin-Loire, Riesling-Alemanha, Sangiovese-Toscana e assim por diante.

No Novo Mundo do vinho, o encepamento não é tão rico em especificidades mas poderíamos citar a revelação da Zinfandel na Califórnia, da Pinotage na África do Sul e da Torrontés na Argentina.

Por muito tempo pensava-se que a Torrontés seria a mesma Tarrantez da Espanha mas estudos recentes com análises de DNA mostraram finalmente a origem da Torrontés – esta variedade foi resultante do trabalho de abelhas silvestres na polinização cruzada entre videiras, um tipo de Moscatel com a Criolla Chica. É uma variedade tipicamente argentina

Um traço que marcou os primeiros exemplares de Torrontês chegados ao Brasil foi o aroma excessivamente forte, às vezes, enjoativo e grosseiro, coroando por um final de boca marcado pelo forte amargor.

Há alguns anos têm aparecido vinhos Torrontés que contrariam este perfil e mostram mais delicadeza nos aromas, mais redondeza na boca e final sem aquele amargor. Isso animou vinícolas de maior densidade técnica a aplicar-se na produção de bons rótulos desse varietal.

A expressão dos vinhos da Torrontés vem de sua surpreendente adaptação e evolução nas províncias mais setentrionais como Salta, bordando encostas de altitudes expressivas, numa faixa que vai desde 1700 metros em Cafayate até 3.100 em Payogasta, passando por 1750 na Finca Chimpa, 1890 em San Pedro de Yacochuya, 2260 em Humanao, 2490 em Cachi, e assim por diante.

Nas alturas desses vinhedos o clima oferece favores.

O primeiro deles está representado pela insolação mais intensa com maior atividade da fotosíntese durante o dia, assim como gerando proteção contra os raios ultravioletas e infravermelhos em cascas de maior conteúdo de flavonas e clorofila. Para não se ter exageros as videiras são podadas de tal sorte a manter folhas protetoras para os cachos.

Outro favor emprestado pela altitude reside nas temperaturas ambientes que são altas porém temperadas porque não ocorre o efeito estufa pela falta de camada atmosférica. Daí porque as noites são bem frias obrigando a maturação a seguir um ritmo mais lento. O contraste das temperaturas de dia e de noite determinam uma grande amplitude térmica, 18 a 22°C, responsável pela maior concentração de polifenóis, substâncias antioxidantes muito benéficas a nossa saúde.

A ausência de chuvas durante a fase de amadurecimento e colheita garante a concentração de açúcares na polpa da baga da uva.

Um vento soprando quase sem parar, chega até a 16 horas por dia, faz uma constante varredura dos fungos, insetos e outros elementos nocivos que poderiam se instalar nas folhas e cachos da uva.

Com esses fatores positivos, a Torrontés conhece seu nível máximo nos vales das alturas de Salta,e o vinho esbanja toques delicados de perfumes florais, notas frutadas lembrando lichia, boca refrescante e agradável.

O Torrontés já pode ser considerado um vinho branco típicamente argentino e os principais rótulos que revelaram suas tipicidades foram, entre outros, o Santa Silvia (Bodegas Sainte Sylvie), o Rincón del 900 (Robino Y Cia), Fernando G (Paponi Hermanos), o Viñas de Orfila (Bodegas Jose Orfila), o Nacari (Sociedad Nacari), o Don David e o Michel Torino Torrontés Blush (Bodega La Rosa), o Waidatt Torrontés Privé (Bodega La Rioja), o Uvas del Sol (La Agricola), o Humberto Canale (Humberto Canale), e o Cafayate Torrontés (Arnaldo Etchard).

O Terrazas Reserva Torrontés (Cafayate, Salta, 1800 msnm) carrega em seu nome a expressão UNOAKED uma vez que não passa por barris de carvalho permitindo potencializar plenamente seu intenso frescor, seus aromas florais e frutados. Apresenta uma cor amarela esverdeada brilhante com reflexos dourados. No nariz destacam-se aromas florais como o jasmim e a rosa, que se conjugam harmoniosamente com intensas notas frutadas como a pêra, a manga e o maracujá. No paladar, nota-se o frutado, sensual e com uma excelente acidez que se manifesta em uma notável sensação de frescor. Com grande persistência aromática e gustativa, característica marcante dessa variedade.

No nosso clima mais quente, essa aromática é um acompanhamento natural para pratos frescos como saladas, frutos do mar e cozinha japonesa, porisso mesmo, deverá ganhar muitos apreciadores no Brasil. Um detalhe muito importante: o vinho Torrontés deve ser servido a temperaturas bem baixas, digamos, 6 a 8°C.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

VINHOS DE LUXO OU MARCAS ÍCONES

Já escrevi várias vezes sobre os vinhos de luxo focando a questão do mito e da realidade que os envolve.

Sempre se enaltece a qualidade do inatingível Château Pétrus, o melhor bordalês do Pomerol, do Romanée Conti, o mais mitológico da Borgonha, ou do Cheval Blanc, a maior expressão de St Emilion. Indiscutivelmente, são grandes néctares da enologia mundial.



No entretanto, esses vinhos, quando colocados em degustação às cegas, não são garantia de arrebatar os primeiros lugares, embora isso não seja desmerecimento. Para a agradar a um isento apreciador de vinhos a qualidade tem que aparecer na taça, no momento e na companhia, descartando rótulos e indicações profissionaias. Ai repousa a realidade do vinho.

O valor de um vinho resulta de uma série de fatores de distintas naturezas que se somam à sua alta qualidade. O mito de todos esses vinhos de luxo repousa na forma de determinação de seus altíssimos preços.

O professor Michael Beverland, Monash University, Austrália, desenvolveu uma longa pesquisa sobre a construção de grandes marcas-ícone de vinho, procurando desenhar a natureza sistêmica dos vinhos de luxo.

Encontrou que as marcas de luxo guardam relação com seis temas-chave: integridade do produto, aprovação do consumidor, história, descobertas de valor e ações de marketing.

Por mais que se possa sistematizar o caminho para o sucesso de um determinado vinho de luxo, a história e a tradição que se entrelaçam ao longo de períodos relativamente longos, fazem que vinhos como os da Champagne, Porto, Bordeaux ou Borgonha tenham seus altos preços aceitos com maior naturalidade.

sábado, 22 de janeiro de 2011

HISTÓRIA DO VINHO – O HOMEM SE FIXA À TERRA


Nos primórdios o que existia no berço das viníferas na Armênia, Geórgia e arredores era uma vegetação exuberante cujas árvores altas sustentavam as videiras primevas, na forma de longas trepadeiras que se carregavam de cachos vistosos de uvas apetitosas.

Os agrupamentos humanos eram formados por homens errantes que estacionavam em determinados lugares para a coleta de alimentos. Na época da frutificação das videiras nas florestas as uvas eram recolhidas e levadas para os acampamentos temporários.

Com o crescimento das famílias e grupos, a vida nômade foi se tornando muito complicada, ficando praticamente inviáveis os constantes deslocamentos. Resulta daí a escolha de determinados sítios onde os agrupamentos foram se fixando.

Nessa nova condição, fixado a uma região, o Homem foi se transformando gradativamente de Nômade para Sedentário e, dentre tantas outras conseqüências, gerou o nascimento da agricultura e da domesticação dos animais. Estamos falando de 10.000 anos antes de Cristo.

Mais adiante ocorreria um dos descobrimentos mais auspiciosos para a humanidade que foi o desenvolvimento da cerâmica queimada que proporcionou a fabricação de uma multiplicidade de recipientes que foram sendo incorporados ao dia-a-dia das famílias.

Grandes jarros passaram a ser usados na coleta e na guarda das uvas e outros alimentos.

Jarros eram preenchidos de cachos de uva para consumo ao longo dos dias. Na retirada das uvas a bruteza das pessoas ia amassando as uvas remanescentes e gerando um suco de uva e restos de cachos no fundo do jarro.

Para as novas coletas, os jarros eram desocupados e limpos deste conteúdo. Este detalhe viria a conduzir a humanidade na direção do vinho!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

UM VISIONÁRIO DAS ALTITUDES CATARINENSES

Nos dias correntes o vinho catarinense de altitude ganhou espaço na mídia especializada e suas vitoriosas participações em painéis e concursos estão fazendo com que ele se torne uma verdadeira grife vinícola brasileira. São os mais conhecidos, Innominabile (Villaggio Grando), Maestrale (Sanjo), Utopia (Santa Maria), Suzin, Panceri e assim por diante.

Com a revelação nacional de São Joaquim, esta polarizou a questão dos vinhos de altitude, sobressaindo-se o empreendimento revolucionário do saudoso Dilor de Freitas, a emblemática Villa Francioni. A Quinta da Neve que foi anterior percorreu um caminho mais conservador na questão dos investimentos na adega e focou a formação dos vinhedos para chegar aos vinhos de alta qualidade.

No entanto, iniciativas pioneiras já vinham acontecendo em Tangará, Campos Novos e Água Doce.

Em Campos Novos, o jurista Edson Ubaldo trabalhou pioneiramente seus vinhedos de Cabernet Sauvignon que tomamos em grupo por várias oportunidades.

Em Água Doce, nos altos de Caçador, o empresário Maurício Grando trabalhou um projeto baseado na perfeição dos detalhes vitícolas e foi aos poucos soltando edições limitadas de grandes vinhos como Chardonnay, Chardonnay Reserva, Cabernet Sauvignon, Merlot, Sauvignon Blanc e Innomimabile.

Em Tangará, o pioneiro Nilo Panceri vindo da Serra Gaúcha estabeleceu-se no vale do rio do Peixe no início da década de 1950 e desenvolvendo atividades vitivinícolas nas suas novas terras.

FOTO TESTEMUNHA DOS TEMPOS INICIAIS NO VALE DO RIO DO PEIXE

O tempo se encarregou de mostrar que as terras ribeirinhas dos vales eram freqüentemente palco de fortes geadas tardias e chuvas persistentes na maturação. Como bom viticultor foi atraído pelas terras mais altas, menos assoladas pelas geadas, e acabou se instalando nas encostas da serra do Marari, na qual descobriu um ciclo vegetativo mais lento e uma frutificação fora das chuvas de verão. Sem saber estava abrindo caminho para o futuro das altitudes catarinenses.

A vocação catarinense para vinhos de altitude finalmente se revelou nesta primeira década do novo milênio, impondo-se no cenário brasileiro como vinhos de estrutura e de predicados especiais.







quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

CONFRARIA DOS SOMMELIERS GANHA NOVO PRESIDENTE

Foi no Centro de Treinamento da Miolo, em São Paulo, que a Confraria dos Sommeliers de São paulo fez a primeira reunião de 2011 a fim de estabelecer temas das degustações e discutir aspectos gerais da atração e fidelização dos associados.

Como professor em vários cursos de sommelieria, gastronomia e chefe de cozinha internacional em algumas unidades do Senac e na Escola de Gastronomia da Univale, Itajai, SC, sempre ouvi os reclamos destes profissionais sobre a falta de um ambiente onde se dispusesse de palestras e degustações de vinhos das mais distintas origens. Tentei trabalhar o assunto quando era presidente da SBAV-SP mas a conjuntura não foi favorável.

Como membro convidado da Confraria dos Sommeliers de São Paulo finalmente conheci uma instituição ideal para que profissionais, experientes ou principiantes, possam desenvolver conhecimentos variados sobre o mundo do vinho, vinhos e fazer suas comparações, além de poder ouvir opiniões de outras pessoas com experiência no segmento.


DIDU RUSSO - FUNDADOR E PRESIDENTE ATÉ A REUNIÃO

A Confraria dos Sommeliers oferece esta possibilidade e muito mais, através de experiências que não custam absolutamente nada. Além disso, há divulgação em revista como a Prazeres da Mesa, em blogs como o meu e do Didu Russo, sites como do Renato Manzoli (www.universeduvin.com.br) e entrevistas com o Didu Russo que vão aparecer na televisão. Em resumo, tem-se a possibilidade de desenvolvimento profissional diversificado, ao mesmo tempo em que o profissional ganha visibilidade no segmento em âmbito nacional.


RENATO - COORDENADOR DAS DEGUSTAÇÕES

Para 2011 os temas das degustações mensais são os mais variados e incluirão rápida apresentação sobre regiões e vinhos, melhorando a visão do profissional sobre cada origem. Assim, desde Jerez até Cortes Tintos Brasileiros, Velho a Novo Mundo, a diversidade cobrirá vinhos de grande importância para a enogastronomia.


ANDRÉ - NOVO PRERSIDENTE A PARTIR DA REUNIÃO

O Didu Russo que foi presidente até agora, cede lugar ao André Cavalcanti que terá o apoio do Renato Manzoli e a parte de divulgação externa com a Eliana Araújo. Obviamente que os fundadores não vão cruzar os braços e iremos assistir a um time reforçado buscando alcançar com muita determinação os objetivos da confraria.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O CURSO AIS-ICIF TEM NOVO CALENDÁRIO

Devido aviso da Matriz informando que o Instrutor AIS italiano para o primeiro nível do curso para Sommeliers, só poderá chegar no dia 27/1 domingo, o calendário de início do curso teve pequeno atraso de uma semana. Veja programa revisado abaixo.

PROGRAMA e CUSTOS CURSO AIS-ICIF - TURMA II
com certificação internacional pela AIS – Associação Italiana Sommeliers e a WSA – Worldwide Sommelier Association


1° NÍVEL

As aulas serão divididas em 2 sessões de 3 horas cada, por dia (das 9:30 às 12:30 e das 14.00 às 17.00) , em 5 dias consecutivos. O curso terá tradução simultânea em português.
Data em São Paulo: o curso será de 28 de fevereiro a 4 de março de 2011.
Local: “Accademia Gastronomica” – Rua Inhambu 1.126 – Moema www.agastronomica.com.br


Docente
Aula n.1 DIA 1 Viticultura+ Enologia AIS
Aula n.2 DIA 1 Enologia + Vinhos Espumantes e vinhos doces AIS
Aula n.3 DIA 2 Técnica degustação: ex. visual AIS
Aula n.4 DIA 2 Técnica degustação: olfativo AIS
Aula n.5 DIA 2 Técnica degustação: gustativo AIS
Aula n.6 DIA 3 Destilados AIS
Aula n.7 DIA 3 Cerveja e outros destilados AIS
Aula n.8 DIA 4 Funções do Sommelier AIS
Aula n.9 DIA 4 O Serviço e a Adega AIS
Aula n.10 DIA 5 Autoverificação e Revisão AIS


2° NÍVEL

As aulas serão divididas em 2 sessões de 3 horas cada, por dia (das 9:30 às 12:30 e das 14.00 às 17.00) , em 5 dias consecutivos. O curso terá tradução simultânea em português.
Data em São Paulo: de 14 a 18 de março de 2011.
Local: “Accademia Gastronomica” – Rua Inhambu 1.126 – Moema


Docente
Aula n.1 DIA 1 Degustação/ Ficha de avaliação AIS
Aula n. 2 DIA 1 Valle d'Aosta – Piemonte - Liguria Lombardia AIS
Aula n.3 DIA 1 Trentino Alto Adige FVG Veneto AIS
Aula n.4 DIA 2 Toscana Emilia Romagna Marche Umbria Lazio AIS
Aula n. 5 DIA 2 Abruzzo Molise Campania Puglia Basilicata Calabria Sicilia Sardegna AIS
Aula n.6 DIA 3 França I AIS
Aula n. 7 DIA 3 França II AIS
Aula n. 8 DIA 4 Países Europeus (Espanha, Portugal, Alemanha, Áustria, Hungria…) AIS
Aula n. 9 DIA 4 Países Europeus (Espanha, Portugal, Alemanha, Áustria, Hungria…) AIS
Aula n. 10 DIA 4 America do Norte e do Sul (California, Chile, Argentina...) AIS
Aula n. 11 DIA 4 Austrália, Nova Zelândia, África do Sul AIS
Aula n. 12 DIA 5 Aprofundamento da Técnica da degustação – Provas finais AIS


3° NÍVEL
O curso será ministrado
na Itália – na sede do ICIF – Castelo de Costigliole d’ Asti – Piemonte
Data: de 4 a 9 de Abril 2011
No final do curso, os alunos terão a possibilidade de visitar a Feira Vinitaly

Docente
Aula n.1 DIA 1 Análise Sensorial do Alimento ICIF - AIS
Aula n. 2 DIA 1 Técnica de harmonização alimento-vinho ICIF - AIS
Aula n. 3 DIA 1 Ovos e molhos, azeite, vinagre e outros condimentos ICIF - AIS
Aula n. 4 DIA 2 Cereais e derivados ICIF - AIS
Aula n. 5 DIA 2 Carnes e embutidos ICIF - AIS
Aula n. 6 DIA 2 Peixes, crustáceos e moluscos ICIF - AIS
Aula n. 7 DIA 3 Cogumelos, trufas, hortaliças, legumes ICIF - AIS
Aula n. 8 DIA 3 Queijos ICIF - AIS
Aula n. 9 DIA 3 Sobremesas ICIF - AIS
Aula n. 10 DIA 3 Jantar didático ICIF - AIS
Exame DIA 4 Prova escrita ICIF – AIS
DIA 5 Correção das Provas ICIF - AIS
Exame DIA 6 Prova Oral ICIF - AIS


NÃO SERÁ POSSÍVEL CURSAR SOMENTE UM OU DOIS NÍVEIS,
É OBRIGATÓRIA A FREQÜÊNCIA AOS TRÊS NÍVEIS


SE, POR MOTIVO DE FORÇA MAIOR, O ALUNO FOR IMPEDIDO DE CURSAR UM DOS NÍVEIS, HAVERÁ A POSSIBILIDADE DE RECUPERAÇÃO EM CURSOS FUTUROS.

VINHO: A UNIÃO SEMPRE FAZ A FORÇA...QUANDO SE TEM!


Se procurarmos no passado as vertentes das grandes mudanças no mundo do vinho, certamente chegaremos às décadas de 1970/1980, nas quais atuaram pessoas idealistas que se doaram em grandes contribuições, garantindo aquilo que hoje todos desfrutam.

Por se tratar de fatos do volátil cenário dos dias idos e por ter a memória via de regra as dimensões do cérebro das galinhas, as versões que ficam vão misturando pessoas de real valor com oportunistas. Estes aparecem nas fotografias das comemorações das vitórias, sem terem nunca se apresentado na horas difíceis de crises, decisões e de construções de uma realidade nova.

Philippe de Rothschild, levado pela pretensa superioridade vinícola francesa, classificou, na década de 1970, os vinhos da Califórnia como Coca-Cola pois, segundo ele, todos tinham o mesmo gosto. Em 1980, o Barão teve que mudar sua avaliação, diante da indiscutível qualidade dos vinhos do Novo Mundo, e anunciou sua sociedade com o californiano Robert Moldavi. A Califórnia, por seus próprios méritos e pela união de seus atores, foi a arquiteta da construção do Novo Mundo vinícola e o Barão teve que correr atrás para reparar o erro do seu preconceito!

Do outro lado do mundo, na Nova Zelândia, a vinicultura vivia sob o incômodo predomínio da híbrida americana Isabel, presente na maior parte de seus vinhedos. Almejando o patamar dos bons vinhos, os empresários tiveram que se unir com os órgãos do governo para planejar o futuro dos vinhos neozelandeses, hoje presença brilhante, como se conhece mundialmente.

No Uruguai, os vinhos nacionais de viníferas dominavam o comércio doméstico com baixa qualidade. Diante da anunciada abertura do mercado, os grandes vitivinicultores e o governo compuseram-se em torno das avaliações e recomendações de especialistas californianos para desenvolver o emblemático vinho uruguaio Tannat, em vitoriosa empreitada.

Na Argentina, pessoas como Raul Castellani, Reina Rutini, Raul Arizu, Eduardo Baldini e outros heróis da modernidade, traçaram as bases da mudança do vinho argentino a partir da década de 1980. Uma corrente unida de pensamentos e de ações foi tirando gradualmente o vinho argentino do atoleiro do império da quantidade, colocando-o em lugar de destaque no teatro da qualidade.

No Brasil, nesta mesma época, homens como Onofre Pimentel, Atílio Dal Pizzol, Luiz Valduga, Mário Geisse, Lucindo Copat, Rinaldo Dal Pizzol, Antônio Csarnobay, Toninho Salton e outros tantos, empreenderam ações para mudanças, num movimento que permitiu ao vinho brasileiro timidamente levantar vôo rumo à qualidade mundial, situação sentida definitivamente na metade final da década de 1990.

Enquanto isso, outros fizeram a escola negativista e deformaram a visão de seus seguidores trabalhando pela desunião e pelo confronto das partes baseado na fogueira das vaidades. Foi o que comentou o jornalista gaúcho Ucha, no seu blog cordeiroevinhobyucha.blogspot.com (Confraria do Sagu) do dia 23/12/2010, sobre mais uma desunião no setor do vinho brasileiro, texto do qual transcrevo um trecho:

“Um dos aspectos que mais prejudicaram a vitivinicultura gaúcha foram as brigas e disputas interegionais e até intervicinais que existiam nos anos 50, 60, 70 e 80 do século passado na região produtora italiana. Hoje, quando o vinho brasileiro (gaúcho) ganha os mercados nacionais e internacionais, pelo aumento de qualidade, e as exportações de vinhos não são mais apenas um sonho, acreditava-se que o passado de desentendimentos e rivalidades estava sepultado.

Parece que não. Bento Gonçalves, que sempre teve o comando do Sindicato do Vinho (Sindivinho), um dos mais antigos do estado, vem desde 1928, perdeu, em 2007, a presidência para Cristiane Passarin, de Flores da Cunha, e não se conformou muito.

Para complicar a situação, a nova presidente transferiu o sindicato para Caxias do Sul, aumentando o desgosto dos bentogonçalvenses. Agora, o pessoal de Bento fez um movimento para retomar o comando do Sindivinho e perdeu a eleição, novamente para Cristiane. Em 2007, havia duas chapas, que acabaram entrando em consenso em favor de Cristiane. Hoje, não. Resultado: os industriais do vinho de Bento Gonçalves estão criando um novo sindicato da indústria do vinho. Mais um. Marcos Valduga, da Dom Cândido, comanda a dissidência.”

Na contramão da história segue o vinho brasileiro tentando exportar quando não atende minimamente o mercado doméstico, vendendo ilusória união quando vive novas dissidências.

Quando, quando vamos ver um corpo unido e consistente chamado vinho brasileiro?







segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

VINHOS FORTIFICADOS, ABAFADOS OU RETIFICADOS

Muitas vezes as pessoas perguntam se o adocicado dos Vinhos do Porto é obtido através da adição de açúcar de cana ao mosto. A resposta é “não” - o doce deste vinho vem do açúcar da própria uva que não foi transformada pelos fermentos.

O processo é fácil de se entender: o mosto é colocado a fermentar e, quando atinge uma graduação alcoólica, recebe a adição de álcool vínico que eleva imediatamente o teor para 18 a 22%, meio no qual os fermentos não sobrevivem.


MANGUEIRA ADICIONANDO AGUARDENTE VÍNICA (CARLOS C ABRAL).

Nesse processo o vinhateiro escolhe o estilo de Vinho do Porto que quer produzir e estabelece o momento exato da adicionar o álcool vínico, ou seja, do abafamento, retificação ou fortificação.

Para os Vinhos do Porto secos, o abafamento é realizado depois que todo açúcar do mosto foi fermentado naturalmente.

sábado, 15 de janeiro de 2011

18ª DEGUSTAÇÃO DA FREE TIME - TOP TINTOS BRASILEIROS

Durante a última semana de Janeiro a revista FREE TIME estará realizando a décima oitava degustação temática que será publicada na próxima edição.

Para este painel foi decidido mais uma vez prestigiar a indústria nacional, com a participação de Sérgio Inglêz de Souza, especialista em vinhos brasileiros, que fez as indicações e convite inicial aos participantes.

O tema será: Vinhos Tinto TOP Nacionais ( menos da variedade Merlot)

A idéia é proporcionar aos leitores uma visão abrangente da produção de vinhos nacionais TOP hoje disponíveis no mercado. Devido à grande diversidade de rótulos hoje produzidos, a revista vai limitar a participação a vinhos que tenham preço superior a R$ 45,00 a garrafa para consumidor final. Ainda pelo mesmo motivo, será limitada a participação a dois rótulos por produtor.

Como de praxe a revista solicita que sejam enviados DOIS EXEMPLARES de cada rótulo escolhido e que a entrega seja feita até o dia 21 de Janeiro para o endereço abaixo de 9 às 17 horas :

Free Time Magazine / Walter Tommasi
Al Platina 114 Residencial 9 - Alphaville - Santana de Parnaíba . São Paulo
CEP 06482-150

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

TO BEER OR NOT TO BEER

A cerveja é a prima mais próxima do vinho dentro da família dos fermentados. Elas são as duas bebidas alcóolicas mais consumidas no mundo. A cerveja tem natureza de uma bebida mais leve porém, em dezenas de diferentes tipos e estilos, abrigam potência e predicados que a credenciam para participar com sucesso dos jogos de harmonização gastronômica.

As cervejas podem ser classificadas sob distintos critérios para agrupar seus diferentes tipos. Uma das formas mais aceitas dividem as cervejas em dois grandes grupos de acordo com o processo de fermentação. As cervejas Ale são de fermentação no alto, e as cervejas Lager são de fermentação em baixo.

A grande diversidade de tipos faz com que cada um dos dois grupos se subdivida em múltiplos estilos ou mesmo que se tenham outros agrupamentos de cervejas formando classes especiais. Ainda dentro desses grupos as cervejas podem ser claras ou escuras, com distintos teores de álcool, e de variado teor de extrato primitivo (fracas, normais, extras e fortes).



No grupo das Ale a fermentação é conduzida em ambiente com temperatura mais alta (fermentação a quente), média entre 15 e 25°C, durante um tempo menor variando entre três e cinco dias. Quando a fermentação atinge a fase alta, a levedura Saccharomyces cerevisae sobe e se localiza na superfície. Esse processo é o mais antigo e abasteceu a totalidade das cervejas consumidas até meados do século XIX, quando foi desenvolvida a elaboração de cervejas por baixa fermentação. As cervejas Ale são encorpadas e vigorosas mostrando sabores mais complexos, com toques frutados e traços de lúpulos. Conforme o cervejeiro assumem cores de claras a escuras, e sabores de adocicados a amargos.

Tipos principais de Ale: Pale, Amber, Stout, India Pale, American IPA e outros.

No grupo das Lager (do alemão lagern = armazenar) de fermentação em baixo, as leveduras Saccharomyces carlsbergensis no final do processo se acumulam na parte baixa do recipiente de fermentação. A fermentação transcorre em temperatura bem mais baixa durante semanas ou meses, amadurecendo a cerveja que ganha maior concentração de gás carbônico. Sabor moderadamente amargo e teor alcoólico variando entre 3 e 6%.

A cerveja mais bebida no Brasil é da família Lager, representada por dezenas de rótulos de bebidas de qualidade comercial (básica), produzidos em grandes bateladas, sem grande alma, consumidos em grandes talagadas como se fossem água. Muitos que não conhecem cerveja avaliam esta bebida por esses exemplares simples e insossos, cometendo grandes erros de avaliação.

Além da comercial, existem tipos muito interessantes de Lager: Premium, Pilsner, Bock, Dunkel, Rauchbeer, Schwarzbeer e outros.

Uma terceira “família” reúne cervejas distintas que são elaboradas com uma mistura de malte claro e malte de trigo (Weissbier). A adição de lúpulos resulta em toques cítricos, revigorantes e traços frutados. A levedura aporta notas de banana, cravo e baunilha. Esta cerveja pode ser opaca (Hefeweizen) ou clara (Kristall). As escuras são chamadas de Dunkel, as mais fortes de Weizenbock.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

ENOTECA SAINT VIN SAINT - O POINT DO VINHO EM SAMPA

Quem trabalha na área da enogastronomia conhece a Lis Cereja. Empreendedora, a dinâmica empresária adotou o vinho como tema central e oferece para os apreciadores da comida saborosa e do bom vinho um espaço especial, o Empório Sain Vin Saint, na cidade de São Paulo, Rua Professor Atilio Innocenti, 811 - Vila Nova Conceição.


DIVERSÃO NA ENOTECA: LIS CEREJA E LUCIANA ZAMBRANO EM AÇÃO

O Sain Vin Saint opera como importadora e distribuidora, empório, loja virtual, bistrot e espaço para cursos relacionados com vinho e gastronomia.

Ano novo, novo horário. Agora o jantar é servido de segunda a sábado, desde as 18:00 h até o início da madruga, às 2:00 h.

O menu foi revisado e ampliado com pratos como Steak Tartar, Pimentas Pellenas, Risotto de camarões com banana da terra, Magret de Canar com kinkan confitada, Brulee de Champagne e muito mais.

Informações? Tel. 11 - 3846 0384.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

HARMONIZAÇÃO ENOGASTRONÔMICA – O VINHO CASA COM O PRATO

Estava lendo um comentário sobre harmonização, mas o autor cometeu um pequeno deslize ao afirmar que a harmonização enogastronômica é sempre uma contraposição dos predicados da bebida contra os descritores de um prato.

Tanto quanto a cerveja, o vinho joga sob várias combinações com a comida. Logicamente que o tipo de saliva e as predileções de uma pessoa vão gerar opiniões diferentes em relação a outras.

Genericamente, a harmonização enogastronômica pode ocorrer em uma das seguintes condições: neutra, ativa com atenuação, ativa com exaltação, com similaridade e persistência e por associação defeituosa.

Na Harmonização neutra, procura-se complementaridade sem influências de uma parte sobre a outra como, por exemplo, grandes vinhos envelhecidos com pratos de pouco tempero e nenhuma pimenta, ou carnes grelhadas com pouco sal.



Na Harmonização ativa com atenuação unilateral o objetivo gastronômico é tornar o conjunto mais harmonioso, sem arestas gustativas, como o match do Merlot com rosbife ao vinagrete suave. Nessa harmonização, a maciez do vinho atenua o caráter acídulo da carne.

Na Harmonização ativa com atenuação recíproca, o que se busca é o equilíbrio entre duas arestas gustativas fortes como, por exemplo, a acidez saliente de um Sauvignon Blanc com a untuosidade de determinados peixes. A soma destes opostos resulta em bom casamento.



Na Harmonização ativa com exaltação unilateral, o vinho presta-se para preparar a boca para maior sensibilidade em relação ao prato como, por exemplo, vinhos verdes de acidez saliente limpando as papilas gustativas para destacar mais intensamente uma Paella Valenciana.

Na Harmonização ativa com exaltação recíproca busca-se um conjunto formado pelo crescimento do vinho e do prato em suas qualidades mais típicas. Este é o caso de vinhos robustos e taninosos (Tannat Roble uruguaio) com a potente Bacalhoada Portuguesa.



Finalmente, quando se trata de uma Harmonização ativa com similaridade e continuidade, a meta enogastronômica é somar traços gustativos potentes de ambos os componentes, com harmonia e continuidade gustativa. Isso acontece quando se combina salmão defumado e Chardonnay com passagem na madeira.

Harmonizar é pessoal, traduz o gosto individual, o que vale tanto para o paladar quanto para a escolha de uma roupa ou da cor para pintar a sala . Cabe a cada um a escolha do vinho e do prato para destacar aquilo que agrada a seu paladar.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

UM BLOG QUE DEVE SER VISITADO

A degustação não é um fim em si mesma, muito pelo contrário, deve ser sempre um veículo para aumentar nosso prazer. Infelizmente muitos que se aplicam ao vinho acabam se perdendo pelo caminho e se transformam nos incômodos enochatos.

Tenho comentado sobre os enochatos ritualistas que colocam os óculos na testa e ficam observando minuciosamente cada traço do rótulo, como se fossem encontrar a pedra filosofal.

Fazem intermináveis anotações em seus cadernos e, depois, degustam o vinho como se fossem os únicos donos da verdade autorizados a interpretar a bebida. São especialistas em preencher com letras pequenas, verdadeiros hierogrifos, cadernetas e mais cadernetas, como se elas tivessem alguma importância para a formação da cultura vinícola dos principiantes. Pá de cal neles!

Visitei o blog vinotesousa.blogspot.com e me senti aliviado por encontrar mais gente batalhando para que o consumo do vinho seja prazeroso e lúdico (abaixo os enochatos!) e que a indústria vinícola brasileira acorde para a modernidade do marketing e para a realidade do mercado nacional.

Ensinar o brasileiro a tomar vinho cada vez melhor faz parte do negócio.



Recomendo a leitura deste blog!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O LADO GAY DE BACO

Inúmeras lendas ligam a videira, a viticultura e o vinho ao deus Baco. Sob este nome romano ou sob muitos outros, como Dionísio, na Grécia, Líber, na Índia e Osiris, no Egito, a história mitológica de Baco é cercada de fantasias e rica em versões.

Segundo a lenda mais corrente, Baco era fruto do amor de Semele, amante de Júpiter. Hera, mulher do deus, sabendo do romance, mata Semele, grávida. Júpiter costurou o feto em sua perna, numa paródia da enxertia da videira, até que ficasse pronto para nascer. A criança Baco foi dada para Cibele que o criou nos bosques da Frígia. Valente caçador e grande curtidor da vida, Baco passa o tempo nesses bosques, em caçadas e divertimentos, num vale-tudo total.

O homossexualismo masculino é muito frequente na mitologia ocidental, como é o caso do amor entre Aquiles e Pátroco, entre Apolo e Branco e outros. Cavazza (Viticoltura, Torino,1923) conta que um dia Baco conhece Ampelo, jovem gracioso, e dele se enamora. Ate, a deusa do mal, mata Ampelo usando um touro enfurecido. Baco, desesperado, chora a perda do jovem amante.


Segundo rezam as lendas, dos cabelos de Ampelo e das lágrimas de Baco nasce a videira, e do sangue de Ampelo brota o vinho. O termo ampelografia origina-se do nome do jovem rapaz amante de Baco.

Se dermos crédito à mitologia, é graças ao lado gay de Baco que podemos desfrutar dos prazeres do vinho...

domingo, 9 de janeiro de 2011

VINHO: ORIGENS MUNDIAIS DAS VIDEIRAS

Houve uma época em que o clima da Terra era relativamente homogêneo, calor e umidade reinavam nas grandes florestas equatoriais que cobriam praticamente toda a sua superfície. Especificamente na região do atual polo norte floresciam as Euvitis, subgênero das Vitis, ancestrais das videiras dos nossos tempos.

No processo de consolidação da Terra aconteceu um gradual resfriamento das calotas polares e o correspondente aquecimento da faixa equatorial. Com o recrudescimento daquele esfriamento, mudando radicalmente o clima no berço primeiro tornando-o cada vez mais radicalmente frio, foram se conformando três grandes troncos de videiras.



O primeiro tronco de videiras afeito a climas secos, deslocou-se na busca do terroir mais adequado à sua fisiologia e migrou através da Islândia, Grã Bretanha, Europa e foi se estabelecer definitivamente no Oriente. Fósseis de Vitis islandica, encontrados na Islândia, de Vitis britanica, encontrados na Grã Bretanha, de Vitis sezanensis, encontrados ao redor da vila francesa de Sezanne, e muitos outros, foram as testemunhas materiais desta trajetória.



No Oriente, o berço final desse primeiro tronco foi a região dominada pela Armênia, Turquia e Geórgia, próximo das balizas naturais dos montes Taurus, Ararat e Cáucaso. Este grupo constituiu a espécie Vitis vinifera ou o tronco Euroasiático.

O segundo tronco, mais ajustado a climas úmidos, pouco disposto a grandes esforços e aos sacrifícios das longas migrações, limitou-se a fugir do frio descendo pelo Canadá, através da região dos grandes lagos e de Niagara Falls, passou pela costa leste dos Estados Unidos, do México até chegar à Costa Rica. Animaram-se com vários pontos úmidos especiais e formaram as diversas espécies de videiras americanas (V. labrusca, V. aestivalis, V. caribae, V.riparia e muitas outras), todas do tronco Americano.

Finalmente, o terceiro tronco, por mais que se ajustasse a climas frios, sentiu que as temperaturas polares estavam abaixo da temperatura mínima aceitável pela sua fisiologia e fugiram através do Alasca para se estabelecer em região de frio suportável no norte do Japão e em partes da Mongólia e Sibéria, especialmente na bacia do rio Amur.

Ai foram ocorrendo as espécies de videiras de clima frio, as Vitis amurensis, Vitis romanetti e outras, do tronco Sinoasiático.

Cada um desses troncos, suas espécies e suas variedades de videiras tem importância específica para a viticultura mundial mas, para o mundo do vinho, a grande figura pertence às Vitis vinifera.

sábado, 8 de janeiro de 2011

BONS VENTOS SOPRAM DOS PAMPAS

A exploração pioneira de vitivinicultura na Campanha Gaúcha, faixa do território riograndense que acompanha a divisa com o Uruguai desde Uruguaiana até Candiota, foi uma conseqüência da imigração espanhola para aquele país vizinho, ocorrida no século XIX, destacando-se especialmente a figura pioneira do basco Harriague.

Na década de 1870, em Salto, no norte do Uruguai, Pascual Harriague, realizava experiências buscando uma variedade que permitisse elaborar um vinho tinto semelhante ao Bordeaux. Dentre as cepas, identificou e formou os primeiros grandes vinhedos com a francesa Tannat, alcançando cerca de 800.000 pés. O sucesso fez com que essa uva logo se difundisse por todo o Uruguai sob a denominação de Harriague.

A partir daí, os vinhos uruguaios encontraram seu lugar o mercado interno daquele país, sob a denominação de vino criollo. Ocorreu um movimento de expansão para o norte de Salto, ao longo da fronteira com a Argentina, até a cidade de Bella Union, de onde mais tarde saíram as mudas plantadas no Brasil, consolidando a fase pioneira da Campanha Gaúcha.

Em 1904, esteve no Rio Grande do Sul o estudioso Brasilino Moura, que observou e registrou as ocorrências de vitivinicultura na região, assim comentando: “Na Uruguayana é onde são produzidos os melhores vinhos do Rio Grande do Sul e onde as terras se mostram mais propícias a essa cultura.”

Assim, essa região, que compreende longa faixa que abrange os municípios de Uruguaiana, Alegrete, Santana do Livramento, Dom Pedrito e Bagé, foi palco da primeira onda de cultivo de videiras européias no final do século XIX. Bem, a essa altura, 1904, temos que considerar que no Brasil (entenda-se São Paulo e Serra Gaúcha), a vitivinicultura engatinhava sobre a estrutura de vinhos rascantes de Isabel.


(Fotografia: Chris Ingles)

A vitivinicultura moderna da Campanha Gaúcha teve início na década de 70, com a visita de pesquisadores da Universidade de Davis, Califórnia, juntamente com especialistas da Universidade Federal de Pelotas. Os estudos dessa equipe identificou a faixa de terra na fronteira do Brasil com o Uruguai, de aproximadamente 270 mil hectares, com condições ideais para o cultivo de uvas.

Como conseqüência, a empresa americana National Distillers implantou o Projeto Almadén, com investimento de US$ 25 milhões e foi pioneira na implantação da atividade vitivinícola em Santana do Livramento, em 1974.

Colada ao município de Santana do Livramento, na parte central da Campanha Gaúcha, está o município de Dom Pedrito, que se beneficia dos atributos do solo e, principalmente, do clima local.

A alta insolação que ocorre na região nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, acima das 740 horas, associada à baixa ocorrência de menos de 330 mm de chuvas, geram um Quociente de Maturação (QM) superior a 2,2. Este quociente é o somatório das horas de insolação dividido pelo somatório dos mm de chuva. Quanto mais alto, maior aptidão para o cultivo de uvas viníferas. Como referência, o QM da Serra Gaúcha, de 1,6, é menor.

A ocorrência de frio noturno e da grande insolação durante o dia gera a amplitude térmica benéfica que atende às necessidades da cultura para a obtenção de uvas com maior conteúdo de açúcar e com maturação fenólica, e conseqüente obtenção de vinho de qualidade.

A vinícola Guatambu começou em 2003 a implantar 9 hectares de vinhedos das tintas Cabernet Sauvignon, Tempranillo, Merlot e Tannat, e das brancas Chardonnay, Sauvignon Blanc e Gewürztraminer. O vinhedo localiza-se na Estância Leões, tendo como coordenada geográfica 30°58" S, a 260m de altitude, incluindo-se na faixa das melhores zonas para vitivinicultura mundial. As mudas foram importadas da França e da Itália.

Em 2007 a Guatambu Vinhos Finos firmou parceria com a Embrapa Uva e Vinho, para estruturar a exploração do potencial vitivinícola da região. Os resultados logo começaram a aparecer.

Fruto desta parceria, foi produzido o primeiro vinho Cabernet Sauvignon da Estância, que destacou-se ficando entre as 30% de amostras superiores da safra 2008, na Avaliação Nacional dos Vinhos promovida pela Associação Brasileira de Enologia.

Em comemoração aos 50 anos da empresa Guatambu em 2009, foi lançado o vinho Rastros do Pampa, Premium, um robusto Cabernet Sauvignon com 13% de álcool, cor rubi, aromas de frutas negras maduras, encorpado e complexo na boca, com sabores de frutas maduras e toques de especiarias. Equilibrado, agradável e persistente. Preço ao consumidor: R$ 32,00 a 40,00.


(Fotografia: Chris Ingles)
Em 2010, foi lançado o varietal Ecos do Pampa, 100% Sauvignon Blanc, com a assinatura do enólogo uruguaio Alejandro Cardoso, um dos mais habilitados profissionais na elaboração de vinhos brancos e espumantes do Brasil.

O vinho com 12,5% de álcool, preencheu um lote limitado de 2.570 garrafas, de coloração amarelo esverdeado com reflexos platinados brilhantes, aromas florais de brotos de tomate sobre frutas como pomelo e maçã verde. Na boca explode um frescor intenso decorrente da sua agradável acidez, equilibrada pelo álcool e pela untuosidade que dá ao seu corpo um aveludado e agradável preenchimento do centro da língua. Sua presença de boca é persistente. Preço ao consumidor: R$ 25,00 a 30,00.
(Informações: 52 - 3243 3253 / http://www.estanciaguatambu.com.br/)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

SUSTAINABILITY: NATURAL CORK, PLASTIC CORK OR CORK SCREW?

Sustentabilidade é a palavra forte do momento: ar e água poluídos, buraco negro, desertificação, extinção vegetal e animal... A sociedade timidamente começa a acordar para o problema e ações isoladas estão sendo tomadas.

As vinícolas de alguns países estão trabalhando nessa direção, racionalizando os materiais empregados no envase do vinho: garrafas mais leves, rolhas ecológicas, rotulação reciclável, caixas e assim por diante.

A cortiça natural, empregada no fechamento de garrafas de vinho desde o século 17, representa um ponto crítico na questão. A rolha responde pela sofisticação do serviço, impondo elegância aos rituais de abertura dos grandes vinhos.

A face negativa das rolhas são as doenças que podem se desenvolver na cortiça com os fungos, principalmente o TCA - tricloroanisole, que ocorre em cerca de 5% das garrafas de vinho, aportando-lhes aromas deformados conhecidos como bouchonné.

Se tomarmos como mero exemplo a produção mundial de garrafas de vinho de 2008, que totalizou algo em torno de 32 bilhões de unidades, a perda por doença de rolha poderia potencialmente atingir a astronômica cifra de 1,6 bilhões de garrafas!!!

Pela expressiva quantidade, iniciativas estão sendo tomadas para separar o vinho da rolha. Uma solução foi desenvolvida pela empresa australiana Procork, que consta de cinco camadas de membranas distintas colocadas no topo interior da rolha para impedir a passagem de qualquer contaminante para o vinho. Este dispositivo garante a manutenção da tradição da rolha e a decorrente operação de extração.

Por um lado, isso tem desvantagens, pois a monumental quantidade de rolhas requeridas para o fechamento dessa infinidade de garrafas exigiria, no mínimo, uma exploração predatória da corticeira ou sobreiro (Quercus Suber) existente em alguns países mediterrâneos. Portugal, maior produtor mundial, explora a grande quantidade de sobreiros do Alentejo e contribui com 51% da produção de rolhas de cortiça.

A cortiça é extraída da casca quando a árvore atinge cerca de 25 anos de idade, e após essa primeira extração, somente a cada 9 anos. Esse detalhe acende um sinal de alerta sobre a impossibilidade das florestas de sobreiros acompanharem o crescimento da demanda mundial de vinhos.

Devido à crescente escassez da cortiça e dos custos resultantes da oferta reduzida, além das perdas por TCA, as rolhas de material sintético vêm encontrado crescente aplicação. O mito de que as rolhas sintéticas não fazem a devida micro-oxigenação foi de certa forma derrubado por testes que mostraram índice de transferência de oxigênio, correspondente a 1/3 do que ocorre com as rolhas de cortiça, além de não haver ocorrência de transmissão de gostos ou aromas estranhos.

A rolha sintética atende ao fechamento de cerca de 90% dos vinhos produzidos para consumo dentro do período de 2 a 5 anos após o engarrafamento. A rolha sintética trouxe especial benefício aos vinhos brancos, nos quais reduziu o volume de devoluções devido à alterações organolépticas decorrentes das rolhas de cortiça.

Outra solução que se insere na questão da sustentabilidade é o sistema de fechamento por cork screw. Esse dispositivo consiste numa tampa metálica rosqueada na ponta do pescoço da garrafa. Esta solução não é novidade porque foi muito empregada no auge de consumo de vinhos das décadas de 1970-80. O cork screw original nada tem em comum com o atual, conhecido como fechamento Stelvin, de projeto mais refinado e de construção mais precisa. Existem dois modelos, o comum e o de luxo, que têm sido empregados para fechar garrafas de vinho para consumo de dois a três anos após o engarrafamento, ou até vinhos de alta gama.

O Cork Screw participa na redução do consumo compulsório de rolhas de cortiça e oferece excelente vedação para conservação dos aromas dos brancos, além de dispensar saca-rolhas para a sua abertura.

No conjunto dos vinhos produzidos anualmente, a questão da sustentabilidade do planeta, aliada ao emprego de rolhas adequadas, deve ser abordada levando em conta a classificação dos vinhos e orientando cada grupo para um tipo de fechamento. Vinhos de alta gama, produções limitadas e de alto custo unitário continuarão a ser fechados com rolhas de cortiça de alta qualidade. A grande maioria dos vinhos poderá receber o fechamento com rolhas aglomeradas, rolhas plásticas e cork screw.

O futuro se encarregará de mostrar as melhores soluções!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

OLD VINES - IS IT IMPORTANT FOR GOOD WINES?

Os termos single vineyards e old vineyards, que aparecem em rótulos de vinhos de expressão, não são sinônimos. Os vinhos rotulados como single vineyards são elaborados de uvas provenientes de um único vinhedo, antigo ou não. Grande parte dos vinhos de alta gama single vineyards utilizam uvas de old vineyards, provenientes de vinhedos com idade média de 50 anos.



Segundo conceito talhado pelos australianos, videiras velhas são aquelas com 35 ou mais anos de idade. A Austrália mantém a maior superfície mundial de old vineyards. A Argentina tem quase 50% de seus vinhedos com mais de 25 anos de idade.





MALBEC COM CERCA DE 75 ANOS, BASE PARA O CHEVAL DES ANDES, MENDOZA.




Que importância tem a idade das vinhas sobre a qualidade do vinho?



Resumidamente, vinhas com idade superior a 25 anos, bem trabalhadas e tratadas, comportam-se com maior estabilidade e estão em pleno equilíbrio como planta, oferecendo uvas positivamente diferentes.


ENG. RAFAEL RACEDO, COLOMÉ, SALTA, MOSTRA VIDEIRAS QUASE CENTENÁRIAS.

Embora os técnicos ainda estejam pesquisando os fatores determinantes desta diferença, a explicação para nós, leigos, é de simples compreensão: as videiras vão lançando anualmente novas radicelas (raízes finíssimas) nas pontas das raízes, em busca de fontes de nutrientes; na medida em que as raízes se aprofundam, vão se tornando cada vez menos sensíveis às mudanças que ocorrem na superfície, garantindo estabilidade de comportamento e personalidade própria.

Os vinhedos de vinhas velhas podem ter atingido naturalmente o equilíbrio entre o crescimento da parte vegetativa, o volume explorado pelas raízes e a atividade de frutificação, ou seja, a planta está atendida por uma ótima relação entre a área foliar, a extensão radicular e a quantidade de frutificação.

Nessas condições ótimas e com pequenos ajustes de controle da quantidade produzida, obtêm-se uvas com taninos mais maduros e gentis, concentração maior de polifenóis, madurez homogênea, acidez residual correta, enfim, tudo que uma vinificação necessita para resultar em vinhos elegantes, complexos, concentrados e estruturados.


SÉMILLON, TALVEZ DE 160 ANOS, BASE DO BLEND MISTERIOSO COLOMÉ, SALTA, ARGENTINA

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

ALENTEJO - VINHO PORTUGUÊS QUE GANHOU O MUNDO

O mundo se acostumou com os vinhos portugueses a partir do Vinho do Porto e do Vinho Verde, com ocorrências dos vinhos rosés, especialmente o Mateus Rosé.


De repente, fomos surpreendidos pelos "super-alentejanos" que fugindo ao rigor dos DOC, reinventaram o vinho lusitano e encantaram novamente o mundo.


O Alentejo é uma região no sudoeste de Portugal onde impera clima quente e seco, estilo mediterrâneo, com temperaturas médias emtrno de 16°C, máximas de verão perto dos 35°C e mínimas de inverno descendo abaixo dos 0°C. As chuvas somam 800 mm anuais ao norte e cerca de 500 mm anuais no sul da região.




As colheitas de uvas concentradas e com maturação completa ocorre sem chuva, garantindo vinhos de cor ntensa e corpo robusto que preenche o centro de nossas bocas.


A topografia da região mostra uma série de planícies alongadas e onduladas, balizadas pelas serras Portel (421m), Ossa (649m) e São mamede (1025m), acidentes que criam condições muito interessantes de microclimas.


A viticultura é moderna e as videiras, em sua grande parte, são conduzidas como cercas vivas no sistema de cordão duplo bilateral, a 70 cm do solo, recebendo irrigação artificial por gotejamento.


As variedades típicas alentejanas são as tintas Trincedeira, Aragonez, Touriga Nacional e Alicante Bouschet, e as brancas Antão Vaz, Arinto e Roupeiro.



No dia 4 de novembro do an0 passado, a Cantu promoveu uma degustação com a presença e explicações do enólogo português Alexandre Relvas, ocasião em que foram servidos:

Ciconia Rosé - Aragonês, Syrah e Touriga Nacional - 12.6 % - um vinho salmão claro e brilhante, nariz a flores brancas sobre toques de morango. Boca fresca e agradável.
Consumidor - R$ 29,90.


Ciconia Branco - Vinho Verde - Avesso, Azal e Loureiro - 10 % - um vinho verdeal com levíssimo dourado, aromas de flores brancas e tooques cítricos, pouca agulha, leve com persistência interessante no centro da boca. Consumidor - R$ 29,90.



Ciconia Tinto Reserva - Aragonês, Touriga Nacional e Trincadeira - 14.6 % - um vinho de cor escura, aromas complexos de cereja e framboesa, flores brancas, tons de especiarias, leve tostado sobre a maciez da baunilha. Boca equilibrada, franca, de elegante frutado sobre notas tostadas. Consumidor - R$ 73,00.

Descobridores Tinto Reserva - Alicante Bouschet, Touriga Franca e Touriga Nacional - 14.5 % - um vinho tinto negro, robusto e elegante, toques incisivos de madeira sobre frutas vermelhas e pretas (amora, groselha e cassis). Os toques tostados mesclam-se com frutas secas. Preenche muito bem o centro da boca, untuoso e mastigável. Boca agradável e persistente. Consumidor - R$ 102,00.

Foram servidos três vinhos ainda não disponíveis no mercado:

São Miguel Touriga Franca - 2009 - cor negra - aromas a especiarias e casca de laranja. Um estilo que lembra Borgonha.

Herdade São Miguel Reserva - Alicante Bouschet, Aragonês e Cabernet Sauvignon - cor negra - frutas maduras, um sutil toque mentolado, elegante tostado. Talvez o melhor vinho da noite.

Herdade Private Collection - Alicante Bouschet, Aragonês e Touriga Nacional - 2007 - cor negra - frutas maduras, flores brancas, tabaco. Um vinho vivo que preenche a boca com peso e agradabilidade. Persistente.

domingo, 2 de janeiro de 2011

COOPERATIVISMO: PATERNÓ E AS RAÍZES NO VINHO DO BRASIL

A partir de 1875, deu-se a exploração econômica dos lotes coloniais de terras adquiridos por imigrantes italianos o que resultou em uma produção agrícola diversificada e, na entrada dos anos 1900, teve o incremento das atividades vitivinícolas na Serra Gaúcha e outras regiões do interior do estado do Rio Grande do Sul.

Conviviam os produtores rurais, isolados em seus lotes, e os comerciantes, instalados nas pequenas cidades. Esses últimos detinham informações importantes sobre a comercialização e do uso do dinheiro, criando condições prejudiciais para os pequenos produtores.

Essa situação disparou o trabalho solitário de um padre chamado Amstad que tentou agregar as pequenas forças produtivas do estado em torno de cooperativas, dando-lhes força nas negociações. Quando morreu, aos 86 anos, em 1938, suas andanças tinham acumulado ao redor de 129 mil quilômetros pelo interior riograndense, contexto em que participou da fundação de 62 cooperativas de produtores agrícolas. Foi uma primeira onda cooperativista que não atacou o problema da área vinícola.

Com a influência desse movimento acenderam calorosas discussões em congressos agrícolas ao redor do ano de 1908 que deram início intensa propaganda para a aglutinação dos esforços agrários sob a forma de cooperativas.

Assim o Brasil estava absorvendo resultados do pensamento ideológico europeu. No Rio Grande do Sul, esta corrente foi apoiada firmemente pelo Governo Estadual que, para levar avante a tarefa de difundir conceitos e mobilizar simpatizantes, trouxe o ideólogo italiano Dr. Stefano Paternó, que estava aderido ao movimento cooperativista europeu de longa data.


Reunião histórica de Paternó)

A absorção e aceitação das idéias cooperativistas, eloqüentemente defendidas por Paternó, ocorreram de forma surpreendente em todas as partes visitadas por ele. Uns por convicção, outros por necessidade e, ainda outros, para agradar às autoridades locais, engrossaram fila em torno do cooperativismo e foram ingressando, em massa, nas sociedades que iam surgindo.

Num curto espaço de tempo, foram sendo formadas cooperativas, sob a liderança de Paterno, em Porto Alegre, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi e outras cidades.

Estas organizações, totalizando condições operacionais de praticamente 13.000.000 litros, dispunham de uma capacidade de vinificação para atender quase que completamente a produção dos parreirais da região.

Tão rapidamente como foram constituídas, também desmoronavam fulminante e desastrosamente, devido, principalmente, aos seguintes fatores:

1°) a admissão de sócios despreparados para uma ação cooperativista e outros com interesses ocultos de fazer capitular essas novas sociedades;

2°) a contrapropaganda e o boicote que o negociante fez junto ao produtor;

3°) a má administração que geralmente era atribuída a gente sem idoneidade que agia em benefício próprio ou de outros;

4°) a deficiência gerencial de elementos despreparados colocados em funções importantes;

5°) as múltiplas finalidades sem simetria conceitual a que se propunham as cooperativas;

6°) a crítica situação da conjuntura econômica brasileira;

O que sobrou de positivo deste movimento fracassado foram as sementes dos conceitos cooperativistas, lembranças marcadas pela eloqüência das palestras e pelo que restou dos grandiosos prédios e equipamentos de produção, que viriam a renascer com força máxima na nova fase de 1929.

sábado, 1 de janeiro de 2011

CHURRASCO: 600 MIL ANOS DE TRADIÇÃO!

A natureza humana se comporta basicamente levada pelos instintos do estômago e do sexo. Enquanto que o estômago traduz ímpetos que mais cedo governam o humor humano, influenciando desde os primeiros instantes extra-uterinos, o sexo acontece depois de existir um mínimo de amadurecimento físico e mental. O sexo envolve rituais mais elaborados, portanto, mais demorados, o estômago faz-se imperativo e impõe atendimento imediato.

Sempre foi assim – sempre será.

Soltando a imaginação. mergulhemos na poeira dos tempos imemoriais. Alcançamos aí a infância da humanidade e a cena não é tão difícil de se imaginar: nossos antepassados sub-humanos dependurados na segurança de frondosas árvores, perambulando de galho em galho, exercendo a rotineira atividade de coletar alimentos como frutas, folhas, brotos, sementes, insetos e ovos.



A visão que tinham do alto dos arvoredos permitia-lhes observar o cenário perigoso do chão, onde grandes animais roedores cavoucavam o solo e dele extraiam apetitosas e nutritivas raízes. Num ato reflexo de imitação, desceram das árvores e foram experimentando cavar ao redor de diferentes tipos de vegetação, assim ampliando seu cardápio com raízes, tubérculos e bulbos. Descobriram uma nova dimensão de vida andando sobre os quatro membros, achando nas águas moluscos, peixes e répteis, que eram devorados crus.

Não foram poucos os sustos e sobressaltos diante de lutas ferozes e de caçadas dos grandes animais carnívoros, vorazes ataques desses animais a gazelas e outros herbívoros praticamente indefesos. Depois da matança sobrevinha a comilança quando as vítimas eram devoradas avidamente, ato que deixava exalar um intenso aroma de carne fresca.



Estimulados pela visão do festim gastronômico das bestas feras que mastigavam avidamente a carne fresca e suculenta de suas presas, sentiram o segundo estágio da degustação na potência aromática do festim, estabelecendo uma relação direta com aquele tipo de refeição. A saliva brotava grossa das bocas arreganhadas, o estômago gritava em agudas cólicas de fome. Depois de saciadas as feras, os homens aproveitavam-se dos restos, iniciando, com esse gesto, sua vida de carnívoros.

A primeira evolução viriam com a união dos homens que, armados de paus e pedras, passaram a atacar as feras na fase inicial da comilança, melhorando o nível da carne crua de suas refeições. O consumo de carne fresca arraigou-se aos costumes da alimentação humana fazendo com que não fosse aceitável esperar-se as caçadas das feras que, quando não ocorriam, submetiam os homens a longos e doloridos jejuns. Os homens passaram a se organizar em grupos de caçadores, ficando para as mulheres a coleta dos vegetais, frutas e insetos.

As migrações da animália em busca de comida faziam com que os homens seguissem essas rotas e marcassem sua existência em grupos nômades.

Mas foi por volta de 600 mil anos passados que o homem logrou conservar fogo dentro de suas cavernas. Dos incêndios provocados pelas descargas elétricas atmosféricas, arrastavam troncos em chamas cujo fogo era mantido colocando-se novos galhos secos.




O fogo domesticado criou uma nova relação do homem com a alimentação, do homem com a carne, ampliando as técnicas culinárias e inaugurando o churrasqueiro primitivo. A cocção pela ação direta das labaredas, pelo calor das brasas e pelo uso de pedras aquecidas, exemplificam as alternativas que se apresentaram.

Podemos dizer que o churrasqueiro tem 600 mil anos de tradição!

A visão mágica do fogo, as reações da carne churrasqueada, os múltiplos aromas e os nacos saboreados marcaram definitivamente a memória gustativa dos nossos antepassados que nos legaram a herança atávica dos prazeres da carne...carne assada.

Com técnicas rudimentares de culinária o churrasco de caça saciou a fome e o apetite voraz dos seres humanos durante 590 mil anos até que, ao redor de 10 mil anos atrás, aconteceu o início da agricultura, com a fixação do homem em um lugar e o advento do churrasco de animais domésticos.

Coincidentemente, nesta época o homem esbarrou na fermentação natural de suco de uvas e conheceu aquele que seria para sempre o seu companheiro nas alegrias – o vinho.

Nesta nova fase, anteciparia a harmonização do vinho e da carne, traduzindo-se em festas, comemorações ou grandes refeições, marcando o início da sociabilização do homem que, com churrasco e vinho, repetiram nesses últimos 10 mil anos a confraternização com muita alegria e amizade.