A natureza humana se comporta basicamente levada pelos instintos do estômago e do sexo. Enquanto que o estômago traduz ímpetos que mais cedo governam o humor humano, influenciando desde os primeiros instantes extra-uterinos, o sexo acontece depois de existir um mínimo de amadurecimento físico e mental. O sexo envolve rituais mais elaborados, portanto, mais demorados, o estômago faz-se imperativo e impõe atendimento imediato.
Sempre foi assim – sempre será.
Soltando a imaginação. mergulhemos na poeira dos tempos imemoriais. Alcançamos aí a infância da humanidade e a cena não é tão difícil de se imaginar: nossos antepassados sub-humanos dependurados na segurança de frondosas árvores, perambulando de galho em galho, exercendo a rotineira atividade de coletar alimentos como frutas, folhas, brotos, sementes, insetos e ovos.
A visão que tinham do alto dos arvoredos permitia-lhes observar o cenário perigoso do chão, onde grandes animais roedores cavoucavam o solo e dele extraiam apetitosas e nutritivas raízes. Num ato reflexo de imitação, desceram das árvores e foram experimentando cavar ao redor de diferentes tipos de vegetação, assim ampliando seu cardápio com raízes, tubérculos e bulbos. Descobriram uma nova dimensão de vida andando sobre os quatro membros, achando nas águas moluscos, peixes e répteis, que eram devorados crus.
Não foram poucos os sustos e sobressaltos diante de lutas ferozes e de caçadas dos grandes animais carnívoros, vorazes ataques desses animais a gazelas e outros herbívoros praticamente indefesos. Depois da matança sobrevinha a comilança quando as vítimas eram devoradas avidamente, ato que deixava exalar um intenso aroma de carne fresca.
Estimulados pela visão do festim gastronômico das bestas feras que mastigavam avidamente a carne fresca e suculenta de suas presas, sentiram o segundo estágio da degustação na potência aromática do festim, estabelecendo uma relação direta com aquele tipo de refeição. A saliva brotava grossa das bocas arreganhadas, o estômago gritava em agudas cólicas de fome. Depois de saciadas as feras, os homens aproveitavam-se dos restos, iniciando, com esse gesto, sua vida de carnívoros.
A primeira evolução viriam com a união dos homens que, armados de paus e pedras, passaram a atacar as feras na fase inicial da comilança, melhorando o nível da carne crua de suas refeições. O consumo de carne fresca arraigou-se aos costumes da alimentação humana fazendo com que não fosse aceitável esperar-se as caçadas das feras que, quando não ocorriam, submetiam os homens a longos e doloridos jejuns. Os homens passaram a se organizar em grupos de caçadores, ficando para as mulheres a coleta dos vegetais, frutas e insetos.
As migrações da animália em busca de comida faziam com que os homens seguissem essas rotas e marcassem sua existência em grupos nômades.
Mas foi por volta de 600 mil anos passados que o homem logrou conservar fogo dentro de suas cavernas. Dos incêndios provocados pelas descargas elétricas atmosféricas, arrastavam troncos em chamas cujo fogo era mantido colocando-se novos galhos secos.
O fogo domesticado criou uma nova relação do homem com a alimentação, do homem com a carne, ampliando as técnicas culinárias e inaugurando o churrasqueiro primitivo. A cocção pela ação direta das labaredas, pelo calor das brasas e pelo uso de pedras aquecidas, exemplificam as alternativas que se apresentaram.
Podemos dizer que o churrasqueiro tem 600 mil anos de tradição!
A visão mágica do fogo, as reações da carne churrasqueada, os múltiplos aromas e os nacos saboreados marcaram definitivamente a memória gustativa dos nossos antepassados que nos legaram a herança atávica dos prazeres da carne...carne assada.
Com técnicas rudimentares de culinária o churrasco de caça saciou a fome e o apetite voraz dos seres humanos durante 590 mil anos até que, ao redor de 10 mil anos atrás, aconteceu o início da agricultura, com a fixação do homem em um lugar e o advento do churrasco de animais domésticos.
Coincidentemente, nesta época o homem esbarrou na fermentação natural de suco de uvas e conheceu aquele que seria para sempre o seu companheiro nas alegrias – o vinho.
Nesta nova fase, anteciparia a harmonização do vinho e da carne, traduzindo-se em festas, comemorações ou grandes refeições, marcando o início da sociabilização do homem que, com churrasco e vinho, repetiram nesses últimos 10 mil anos a confraternização com muita alegria e amizade.
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