segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

CADA CACHO NO SEU GALHO, CADA GALHO NO SEU TERROIR

VINHEDO MODERNO COM TRATOS CULTURAIS ORGÂNICOS

A qualidade de um vinho se apoia principalmente em três conjuntos de fatores: naturais, agronômicos e enológicos.

Os fatores agronômicos estão perfeitamente dominados no que se refere ao preparo da terra, uso de fertilizantes, cuidados com as mudas, espaçamento, condução e tratos culturais do início do ciclo anual até a colheita, providências que já são de uso corrente em qualquer parte do mundo.

Os fatores enológicos retratam a tecnologia de vinificação, práticas de generalizado domínio mundial, que se amplia a cada momento com recursos mais sofisticados na adega, desde o controle da temperatura de cada fase do processamento até dimensionamentos mais adequados de instalações e tanques. A parte podre destes fatores é a enologia intervencionista que, a partir de produtos químicos vão transformando o vinho num produto desleal e modificado por muitos aditivos que aportam predicados ou escondem defeitos. Artificialismos à parte, a enologia honesta ainda é o melhor caminho para se elaborar os grandes vinhos sem truques químicos, enologia não intervencionista.

Mesmo sendo usados dentro de altos níveis de competência e de honestidade, se esses dois fatores fossem considerados como os únicos recursos, a difusão das boas práticas de vitivinicultura certamente iria promover uma progressiva pasteurização e homogeneização da qualidade e dos traços típicos dos vinhos. Que fazer?

Resta trabalhar fortemente os fatores naturais, próprios de cada pedaço de terra de uma região, como o microclima, insolação dos dias, temperaturas baixas da noites, relevo e estrutura do solo. Esses elementos são específicos e determinam miríades de terroirs distintos. O contexto de um terroir é inimitável e intransferível, ficando a cargo dele definir os potenciais de qualidade e de tipicidade do vinho, cuja realização depende do vitivinicultor.

VINHEDO SERTANEJO - LATITUDE 8° NO BRASIL

No contexto de um terroir, a altitude é uma componente determinante que interfere diretamente no conjunto de condições existentes no qual desempenha o papel crucial na amplitude térmica, oferecendo diferenças importantes entre as temperaturas do dia e da noite. Estas, quanto maiores, favorecem a maior da concentração dos componentes básicos, aromáticos, gustativos e os que determinam a cor, o corpo e a riqueza do vinho.

Como pode ser visto a conjunção competente desses três fatores garante bons vinhos, com clara personalidade de cada variedade de uva empregada, com tipicidade correta de cada origem de produção.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

EXPOVINIS BRASIL 2011 - ESTÁ CHEGANDO A HORA

No período de 26 a 28 de abril, no Pavilhão Vermelho do Expocenter Norte, São Paulo, vai acontecer a 15° edição do maior evento de vinhos da América Latina que promete superar o número de expositores que foi de 300 no ano passado e o número de visitantes que atingiu cerca de 16.500 pessoas na última edição .

A Expovinis Brasil oferece uma viagem através do mundo do vinho, possibilitando ao público e aos atores do mercado brasileiro degustação de amostras desde as mais tradicionais regiões produtoras até emergentes como foram os casos da Bolívia e da Sérvia no ano passado.

No conjunto das atrações será organizada a Olive Experience 2011 – Feira Internacional do Azeite, que permitirá ao visitante se aproximar ou expandir conhecimentos do mundo do azeite, variedades, cortes e harmonizações.
Maiores informações: Alessandra Casolato / CH2A / 11 - 3253 7052

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

AFRICA DO SUL – NOVOS VINHOS TRAZIDOS PELA KMM

No North Grill, São Paulo, os importadores Ken Marshal e Marli (KMM) receberam pessoal da mídia especializada em vinhos para uma apresentação com degustação e harmonização dos novos rótulos sulafricanos com um jantar.

Quando se fala de vinho da África do Sul vêm na ordem Stellenbosch, Constantia, Paarl-Wellington, Franschhoek, Worcester, Robertson... regiões que fizeram a história e que consolidaram a vitivinicultura daquele país. Nem porisso não existam origens de vinhos admiráveis em outras partes sulafricanas!

Na última vez que estive lá, dei um pulo na diferente região de Olifants River. Para os bebedores de vinho é um lugar que todos deveriam visitar.

Entre os que deveriam visitar e o fizeram, estão Ken e Marli, onde experimentaram vinhos das vinícolas Douglas, Upington, Keimoes, Groblershoop, Grootdrink, Kakamas e Namaqua. Com toda razão se apaixonaram por esta última, uma das melhores da região e entre os bons produtores do país.

A Namaqua é uma cooperativa diferente, trocou aquele quadrado espírito corporativista, por uma filosofia de associação dinâmica, sempre voltada para a inovação! Localizada às margens do rio Olifants, numa região seca e árida, precipitação anual de apenas 165 mm, os vinhedos recebem microirrigação controlada para resultar em uvas intensas e reclamam por muito pouco tratamento contra pragas. A colheita é realizada de madrugada, das duas às cinco, a fim de evitar o sol escaldante logo ao nascer do dia.

Foram degustados:

Namaqua dry white (Chenin Blanc+Colombard) e dry red (Shiraz+Merlot+Pinotage), dois vinhos envasados em bag-in-box de 3 litros, muito bons de boca, ideais para venda em taças nos restaurantes e pubs. R$ 99,00.

Varietais Namaqua – Sauvignon Blanc, Merlot, Pinotage, Shiraz e Cabernet Sauvignon – interessantes e revelando tipicidades. R$ 45,00.

Varietal Spencer Bay Cabernet Sauvignon, 24 meses em barrica de carvalho francês, vinho de guarda para cerca de 10 anos. R$ 180,00.

Os vinhos ofereceram um padrão de agradabilidade em toda a série mas destacaram-se os varietais Namaqua Pinotage e Shiraz, e o robusto Spencer Bay.

A outra vinícola fica em Wellington, pouco ao norte de Paarl, aos pés da montanha Hawequa. A propriedade foi adquirida em 1996 com o propósito de elaborar cortes expressivos de tintos:

Blouvlei – Cabernet Sauvignon(74)+Merlot(22)+Shiraz(3)+Cabernet Franc(1) – este vinho passa por carvalho francês por 12 meses e, de acordo com a política social dos donos, pertence aos empregados que coordenam desde a elaboração até as vendas, dividindo entre si os lucros! R$ 63,00.

Hawequas – Cabernet Sauvignon(75)+Merlot(18)+Shiraz(7) – com passagem de 16 meses por carvalho francês. R$ 89,00.

Les Coteaux – Cabernet Sauvignon(71)+Merlot(14)+Shiraz(12)+Alcante Bouschet(2) + Mourvèdre(1) – passagem por carvalho francês durante 22 meses. R$ 105,00.

Mont du Toit – Cabernet Sauvignon(63)+Merlot(20)+Shiraz(17) – passagem por 23 meses em carvalho francês. R$ 140,00.

Os vinhos apresentaram um toque de madeira forte, porém agradável, que sugere uma guarda mínima de mais alguns anos do atual estágio. O Blouvlei oferece uma boa relação preço/satisfação. O excelente Les Couteaux exibe potência, corpo e toques diferentes no nariz e na boca.

(maiores informações e compras: KMM – 11 – 3819 4020 / kmm@kmmvinhos.com.br)









quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

VINÍCOLA PERICÓ - AS UVAS COMEÇAM A AMADURECER

A Vinícola Pericó, localizada na região de São Joaquim, nas altitudes na serra catarinense, caminha para a sua 5° safra e mostra para todos a evolução da uva ainda verde para colorida, de 10 a 16 de fevereiro corrente, testemunhando o rápido fenômeno da "mudança de cor" ou das "uvas pintando", que marca o início da maturação.



No dia 8 de fevereiro os cachos se apresentavam com as bagas totalmente verdes, guardando um conteúdo pelo de ácidos. Notem que no dia 10 (primeira foto) já aparecem algumas bagas pintando, ou seja, mudando para a cor tinta. Nas duas fotos seguintes, a evolução da mudança de cor nos dias 12 e 14. Este espetáculo colorido testemunha o início da transformação de ácidos em açúcares (processo de amadurecimento da uva).



As fotografias do dia 16 de fevereiro mostram os cachos já sem bagas verdes mas com diversas tonalidades de uva tinta denotando a convivência de ácidos e açúcares.




Deste estágio em diante, vai ocorrer um lento processo de transformação dos ácidos em açúcares até que se atinja a maturação total.

Como o clima local é muito bom, pode-se escalonar a colheita a partir da maturação total e ir colhendo lotes com espaços de tempo entre eles, delimitando estilos de vinho a produzir.





Como já aconteceu anteriormente, cachos deixados nas videiras até a ocorrência de baixas temperaturas ( 7 a 8° C negativos) no vinhedo, permitem que a Pericó produza o Icewine Pericó, vinho elaborado de bagas de uvas congeladas, um néctar indispensável na boca do bom apreciador.

(informações: pericocomercial@vinicolaperico.com.br)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

CHAMPAGNE: PÉROLAS DE MAXIME BLIN NA VINEA



Zackia coordenou a apresentação do Maxime Blin

Foi no dia 21 de fevereiro passado que a Vinea, uma das importadoras mais bem focadas nas novidades internacionais, abriu espaço para que o produtior francês Maxime Blin, da Champagne, desfilasse suas pérolas de distintas sofisticações.
Seus 12 hectares de vinhedos estão localizados no vilarejo champanhês de Trigny, a cerca de dez quilômetros da capital Reims. Trata-se de produção familiar que já acontece há cinco gerações, porisso chamo de pérolas a esses champagnes elaborados pelo jovem especializado em viticultura e enologia.

Maxime Blin - produtor dos champagnes degustados e harmonizados.

Os champagnes apresentam todos 12% de teor alcoólico e uma bela explosão de intensas bolhas muito pequenas.


Alvaro Galvão - o engenheiro que virou vinho!

A seqüência das degustações foi a seguinte:
Champagne Grande Tradittion, 90% Chardonnay + 10% Pinot Noir, amarelo claro com toques verdeais, nariz de flores brancas, brioche e toques mélicos, boca com bom crescimento de espuma, boca de frutas secas e traços cítricos. Acidez agradável e fim de boca longo. R$ 196,00.
Champagne Brut Carte Blanche, 80% Pinot Meunier + 20% Pinot Noir, amarelo com tons de leve castor, nariz evoluído de maçã assada, feno e miolo de pão quente, textura mais gorda na boca, crescimento da musse sobre a língua, sabores de frutas maduras, alguma compota, acidez elegante e frescor agradável. Muito interessante, agradável e de ótimos traços degustativos. Um excelente custo benefício. R$ 96,00.
Champagne Milésime 2002, 80% Pinot Meunier + 20% Pinot Noir, amarelo claro com sutis toques dourados, aromas de maça assada sobre traços de discreta oxidação, figo rami e feno, encorpado e aveludado na boca, sabores de frutas bem maduras com leve oxidado, acidez correta dando frescor e final longo. R$ 219,00.
Champagne Cuvée Maxime, 1/3 Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay, amarelo claro com reflexos dourados, nariz com claros tons de oxidação sobre frutas cítricas, pontas de abacaxi e nozes, boca de corpo carnudo, mastigável e toque aveludado, acidez bem presente dando um agradável frescor na boca. Embora com oxidação presente, um excelente exemplar de champagne. Preço mais do que justo, R$ 411.00.
Champagne Brut Rosé, 100% Pinot Noir, cor salmão medianamente escuro, muito perfumado, notas florais de begônia e violeta, toques frutados de morango e figo, ampla boca lembrando cerejas e frutas silvestres, acidez refrescante e agradável, com final de boca persistente. Leve adocicado. Bom champagne rosé. R$ 190,00.




Gabi e Fernanda - que deram mais brilho ao evento de degustação e de harmonização.

Para o jantar, arte da Chef Gabi Rabelo, tivemos:
- entrada: salada de folhas suaves e tartar de salmão oriental / Champagne Brut Cuvée Tradition
- prato principal: casarecce (massa) com salmão defumado, sourcream e ovas com azeite aromatizado no limão siciliano / Champagne Carte Blancre
- sobremesa: sorvete italiano de iogurte com limão / Champagne Brut Rosé.
(informações e vendas - Vinea - 11 - 3059 5205)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

DEGUSTAÇÃO DE VINHOS – ORIGENS DA QUALIDADE


Para aprender degustação não precisa treinar contorcionismos faciais, olhares de conteúdo ou estudar anotações misteriosas. Aliás, nossas anotações só servem para nós mesmos! O prazer da degustação é intransferível, é pessoal e não é um ato platônico.

A degustação é mesmo como o namoro. A gente começa olhando, procurando ver detalhes, sem tocar fisicamente. É isso mesmo. A degustação é um ato de sensibilidade, eu diria que é um retrato da sensualidade humana.

Embora em muitos cursos os professores procurem dar um ar de ritual iniciático, a degustação não deve ser encarada como um fim em si mesma, muito pelo contrário, deve ser trabalhada como um meio, como um veículo para nos trazer prazer.

O prazer, além de agradar nosso paladar, de saciar nossa sede e de nos reconfortar, á aquele sentimento lúdico de saber identificar e descrever as qualidades de um vinho e de sorvê-las em cada gole.

Daí porque entender as raízes da qualidade de um vinho assume um papel importante. Decorar rótulos, palavras-chave e frases de efeito desenha uma atitude cansativa para quem representa o papel de enochato, além de correr o risco de exibir uma arrogância quase hostil, própria dos enopentelhos. Para fugir destes incômodos, vamos entender a arquitetura da qualidade dos vinhos.

Em primeiro lugar não custa repetir a frase pisada e repisada, mas nem sempre entendida, de que o vinho é uma bebida alcoólica resultante da fermentação de uvas maduras e sadias.

Na fermentação, o açúcar da uva se transforma no álcool do vinho. A uva madura tem maior concentração de açúcar para transformar em álcool. A uva madura e sadia, ou seja, a uva não estragada, não traz elementos que possam introduzir deformações no gosto e no aroma.

As uvas maduras de qualidade têm na polpa, alta concentração de açúcar para gerar teor alcoólico e traços adocicados, e uma correta acidez residual, para garantir a vivacidade e o frescor do vinho. Na casca, apresentam conteúdo variável de polifenóis que são os responsáveis pelos aromas e pelas cores do vinho.

O álcool é a estrutura fundamental da qualidade do vinho.

A videira, que é o pé de uva, trabalha movida pela energia solar. A uva de qualidade é resultado de um vinhedo bem orientado em relação ao sol. A posição e a inclinação do terreno dão ao vinhedo a característica de uma antena de captação dos raios solares. Solo e Clima completam as bases, ou seja, o vinhedo tem que estar implantado em um bom terroir.

Aplicando neste vinhedo tratos culturais bem ajustados e calibrados, o viticultor vai determinar o nível da qualidade da uva. Somente uva de qualidade proporciona vinho de qualidade!

A variedade da uva responde por determinadas características que definem a tipicidade do vinho de Merlot, de Tannat ou de um corte de castas.

O grau de maturação da uva na colheita condiciona do estilo de vinho possível de se vinificar. Colheita precoce, bom para espumantes. Colheita normal, serve para vinhos correntes. Colheita mais tarde, vinhos robustos e de guarda. Colheita tardia, vinhos especiais.

Na adega o enólogo faz o aproveitamento adequado do vinho trabalhando a matéria-prima uva sem intervenções estranhas. Se a uva não é perfeitamente adequada, podem ser aplicadas truques enológicos como acrescentar elementos corantes, flavorizantes, acidificantes... enfim, tem muito vinho por aí quer não é vinho, são engodos!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

JOEL FALCONI LAMENTA: TRINTENÁRIO ESQUECIDO

Lançada nacionalmente em julho de 1987 completou com o seu nº 06 relativos aos meses de maio/junho de 1988, seu primeiro ano de circulação que encadernamos em capa dura recebida da Editora acompanhada do índice remissivo relativo aquele primeiro período anual. De responsabilidade da UVIBRA - União Brasileira de Vinicultura, a REVISTA DO VINHO era destinada aos consumidores, tendo como proposta básica a formação e o desenvolvimento de uma cultura vinícola nacional; contendo informações, esclarecimentos e orientação, tanto das coisas do vinho, além de noticias relativas aos alimentos consumidos com a bebida, viticultura, distribuidores, restaurantes, hotéis e gastronomia em geral.

Com um Conselho Editorial formado por Adolfo Lona, Carlos Correia de Oliveira, José Alberici Filho, Lauro Rigoni, Marc Langon, Rinaldo Dal Pizzol e Severino Ferrari; tinha Lourenço Mônaco na Diretoria e Mauro Corte Real na Coordenação Geral. Entre seus principais articulistas, contava com Francisco Mônaco, José Manosso, José Albano do Amarante, Maria Regina Flores, Paulo Ledur, Dânio Braga, Julio Seabra Ingles de Sousa, Sergio de Paula Santos, que constituíam um verdadeiro serpentário naqueles tempos. A revista fez sucesso imediato, obtendo um bom número de assinantes Brasil afora, entre os quais o escrevinhador que vos fala, repercutindo no exterior de onde foram recebidas inúmeras cartas, inclusive da Itália, França, Espanha e Argentina, saudando a chegada e a qualidade editorial da nova Revista.
Na edição de primeiro aniversario, em bela reportagem de duas páginas, a “R.V.” informava que no dia 11.07.1988 a Soc. Bras. dos Amigos do Vinho–SBAV completaria oito anos de existência, relatando que a idéia de criação da entidade, que se conservava dentro dos padrões de autonomia inicialmente previstos, nascera durante uma das edições da FENIT em São Paulo, em torno de um estande de vinhos e de um pequeno grupo de apreciadores da bebida. Pouco tempo depois, cerca de trinta amigos reuniram-se na Estância Turística do Embu, com objetivo de oficializar a criação da SBAV, elegendo seu primeiro presidente o Consultor Carlos Ernesto Cabral, idealizador da sociedade para gerir seus interesses durante a primeira gestão.

Os propósitos da entidade nascente foram explicitados pelo idealizador, informando ter percebido no inicio da década que se iniciava, que a indústria vinícola depois dos investimentos efetuados, iria decolar em direção a um apreciável contingente de consumidores, ávidos por bons vinhos, nascendo dessa analise a necessidade de reunir um grupo, dentro da parcela mais exigente e esclarecida desses potenciais apreciadores que, até então, voltava-se quase exclusivamente para os vinhos estrangeiros.

A SBAV nasceu portanto, com a intenção de se constituir em braço direito não remunerado da nossa indústria vinhateira e acompanhar de mais perto a evolução dos vinhos nacionais. Incluía também em seus propósitos, desde o inicio, ser uma espécie de formadora de opinião e um paradigma para o Mundo do Vinho Brasileiro.

Sua expansão se deu de forma natural: os trinta fundadores agregaram novos associados que só no Estado de São Paulo, formavam em 1988, cerca de quatrocentos amigos do vinho. O velho escriba que assina este texto ainda tem em seu poder o Cartão de Sócio Efetivo nº 153 emitido em 15 de dezembro de 1987. Para associarmo-nos fora exigida uma doação de uma garrafa de vinho de serie esgotada ou que não houvesse ainda um exemplar no acervo da sua enoteca que, naquela altura já dispunha de mais de 200 garrafas; tendo a SBAV nos enviado uma relação do patrimônio, que nos permitiu levar algum tempo depois, pessoalmente ao escritório da entidade no Bairro do Paraíso, uma garrafa da safra 1934 (ano do nosso nascimento) de um Chambertin de Graves, sabidamente sem condições de consumo, mas, sem duvidas, uma ótima fonte de informações didáticas com seu rotulo apresentando boas condições como constatou a secretaria nisei chamada Yeko.

A sociedade com tão boas intenções, logo espalhou-se como fogo em campina seca, por todo o país. Capítulos foram criados em Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Recife, chegando posteriormente as outras capitais. Freqüentamos algumas das reuniões da Regional-Pe ao tempo em que José Luis Spencer foi presidente. Afora a eleição do expert Sergio Inglês de Sousa para a presidência da SBAV no final de 2008, nunca mais tivemos noticias de qualquer atividade das SBAVs no país.
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COMENTÁRIOS DE SÉRGIO INGLEZ DE SOUSA
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O meu amigo Jair Falconi é um dos mais ativos e interessados enófilos do país, sempre ligado aos assuntos e iniciativas do mundo do vinho. Esse desabafo é mais do que compreensível, são palavras que merecem aplauso geral.
O segmento vinícola brasileiro carece de união e de objetividade. Há que se esquecer a máxima "cada um por si" e iniciar a fase a fase "um por todos, todos por um". O maior problema será a histórica fogueira das vaidades.
Para apoiar o editorial do Jair Falconi é bom lembrar que a maioria das revistas especificamente voltadas para o vinho está falhando, está sem vigor... e as vinícolas não se aperceberam que um veículo de mídia constrói visibilidade e que a visibilidade de mercado garante as vendas!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

AS ESTRELAS QUE NUNCA SE ENTREGARAM

O Larousse des Vins (1964) destaca o Blanquette de Limoux como o espumante mais antigo da França. Este vetusto vinho crava sua história em tempos anteriores à epopéia do champanhe, tendo sido mencionado pelo cronista francês Froissard no transcorrer do século XIV, ou seja, nos anos 1300. Na parte sul francesa, o clima mais ameno fazia com que os vinhos dessa região apresentassem somente borbulhas discretas. A vantagem deles era que as garrafas quase não estouravam. Por outro lado, eles jamais alcançaram a espetacular qualidade do champanhe.

O mais nobre espumante foi criação da Champagne, os demais o imitaram. Marrison (Wines and Spirits,1962) lembra, no entanto, que quase duzentos anos antes, vinhos efervecentes eram vendidos na Itália como Refosco e Moscato spumante.




Quanto à Champagne, diz-se que seus vinhedos ancestrais precederam os romanos. Incrustada há séculos na confluência das principais rotas comerciais norte-sul, a Champagne sofreu devastações de guerras e coroou reis. De início, seu vinho característico era ligeiramente rosado, cuja qualidade não era objeto de muita consideração. Foi somente no século XVII, pela genialidade e tenacidade de um monge, bem como pelo advento da garrafa mais resistente e da descoberta da cortiça como vedante dos frascos que o mais cobiçado vinho do mundo pode nascer.



O tão propalado pai do champanhe, Dom Pierre Pérignon (1639-1715), aos vinte e nove anos foi designado para o cargo de tesoureiro da abadia beneditina de Hautvillers, no Marne, parte importante da Champagne. O tesouro dos mosteiros franceses de então eram seus vinhedos e seus vinhos. Ser tesoureiro significava, portanto, ocupar-se da complexa atividade vitivinícola. Na abadia de Hautvillers pretendia Dom Pérignon consolidar a base econômica de produção de vinhos, até então tímida, contando com o valor agregado da qualidade da produção local.

Na Champagne, lá estava ele concentrado em seu projeto econômico. Não que fosse um turrão. Era, sim, insistente, impertinente, pertinaz. Suas vestes, sopradas por seus impacientes movimentos pela adega, esvoaçavam em meio a monges e camponeses exauridos pelo trabalho estafante, seu suor empesteando o ar dos corredores do mosteiro. Sua luta era contra a indesejável mania que tinham seus vinhos de estourar as garrafas. Após a fermentação natural, o vinho era engarrafado normalmente, hibernando na tranqüilidade dos meses frios. Bastava vir a primavera e uma segunda fermentação começava, enchendo os frascos com perigosas minúsculas bolhas. Era tudo o que ele não queria, era o desafio cotidiano, apagar as estrelas ocultas no seio dos vinhos de Hautvillers.



O monge cismava: próximo a Carcassone, os vinhos traziam o abominável gás, mas as garrafas não estouravam, garantindo a passarela por onde desfilavam as estrelas dos Blanquettes de Limoux. Na Borgonha fazia-se vinho da mesma Pinot Noir que ele adotara na Champagne, e o gás não se formava, permitindo viagem tranqüila às frágeis garrafas, que iam agradar a consumidores em destinos distantes. Por que, então, o pesadelo estava reservado a ele? Todo o cuidado na seleção dos cachos, das bagas, todo o capricho no engarrafamento do vinho e o diabo fazia com que, de vinte garrafas a entregar, até dezoito podiam estourar. Mesmo dentro da própria adega, em meio ao silêncio e ao frio, havia o susto das explosões, que por vezes feriam alguém. O tesoureiro da abadia estremecia de indignação.

Revia o processo: observações cuidadosas selecionaram a Pinot Noir, cepa tinta, menos sujeita à segunda fermentação; pessoas rigidamente disciplinadas exerciam colheita primorosa, com seleção rigorosa das bagas; prensagem ininterrupta das uvas, após a chegada à adega, numa atividade febril que levava os homens à exaustão: uma receita de processo que tinha tudo para dar certo. Mesmo assim, o vinho tranqüilo que almejava não acontecia. Lá estava a terrível ameaça da espuma a atormentá-lo.



Durante mais de quarenta anos, na caça persistente como mal sucedido exterminador das estrelas, foi esse monge aumentando a qualidade decorrente das minúcias e requintes de cuidados, seus vinhos se sofisticando, alcançando preços que representavam o dobro, às vezes o triplo do valor pago a outros vinhos.

Quem não tem cão caça com gato! Não podendo acabar com as bolhas, procurou garantir a integridade de sua produção lançando mão de garrafas de melhor estrutura e resistência (favor devido aos ingleses) e da novas rolhas de cortiça íntegra (favor devido aos iberos).




O inesperado disso tudo aconteceu: as bolhas viraram moda, e os espumantes da Champagne passaram a gozar de mercado garantido. Dom Pérignon, vencido pelas circunstâncias, triunfalmente festejou o vinho que trouxe a riqueza a Hautvillers.

O champanhe que hoje tomamos devemos ao trabalho e à determinação de um monge. Outros gênios vinícolas, como a viúva Clicquot, também contribuíram para a melhoria do processo. Bebemos atualmente um vinho que é um blend de castas, cujo rótulo, a despeito do vinhedo ou da origem, nomeia o fabricante. As uvas são compradas aos vinhateiros num sistema de preço cruzado com qualidade que vai definir a elegância do vinho e o preço final da garrafa.

Apesar da lenda que mostra um Dom Pérignon provando seu vinho e exclamando estar bebendo estrelas, relatos da época (Hugh Johnson – A História do Vinho, 1999) apresentam um Dom Pérignon abstêmio.

Imaginem se ele gostasse de beber !!!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A FORÇA EXPORTADORA DA COOPERATIVA VINÍCOLA AURORA

A década de 1980 foi caracterizada pela revelação mundial de vinhos varietais de novos castas, tendência que foi absorvida pela Cooperativa Vinícola Aurora cuja produção acompanhou esta novidade e passou a comercializá-los nos seus lançamentos em 1985. Com essa iniciativa a Aurora ganhou capacidade para participar no mercado internacional, concretizando negócios com a Inglaterra, Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia, Japão, Canadá, Estados Unidos e outros,

Em 1982, aconteceu a primeira viagem de vendas aos Estados Unidos, quando nasceu o projeto Marcus James na negociação com a empresa United Liquors, de Boston, Massachussets, que mais adiante vendeu o negócio para o grupo Canandaigua Wine Company, do estado de New York. Este meganegócio obrigou a Aurora a se modernizar e a intensificar a convivência de seus diretores, gerentes, enólogos, engenheiros e técnicos para fazer o conjunto caminhar adequadamente.


Contra-rótulo do famoso Marcus James

A grande fase exportadora da Aurora teve início em 1988, na consolidação do grande projeto, com as vendas dos varietais Marcus James para os Estados Unidos, um volume inicial de negócios de 220.000 caixas anuais.

Dentre todas as exportações o grande "case" ficou mesmo com o rótulo Marcus James, cujo volume de vendas viria a atingir 1.100 containers por ano, ou seja, 1.100.000 caixas de vinho anuais. O volume inicial de 220 mil caixas foi crescendo ano a ano e, em 97/98, chegou a um milhão de caixas. Marcou época a propaganda deste vinho pela sua presença em cartas de vinhos de muitos restaurantes norte-americanos.

A marca Marcus James foi eleita pela revista americana Impact, por cinco anos consecutivos, como a "hot brand", ou seja, o grande rótulo do mercado de vinhos naquele país. Foi, sem dúvida, um dos maiores negócio de vinho do mundo até então e, em termos brasileiros, as exportações da Cooperativa representavam 99,9% vendas externas brasileiras do segmento vinícola.



Dentro de sua política de lançar sempre novos rótulos, ocorreu em 1994 o Amazon, um vinho para o mercado da Finlândia.



Rótulo do vinho Brazilian para a Finlândia

Em outra escala de quantidades, Bélgica e Alemanha foram outros significativos importadores de vinhos finos da AURORA até 93, quando medidas protecionistas da Comunidade Européia impuseram barreiras alfandegárias e determinaram o final destas exportações.

Na época, esta ocorrência não chegou a incomodar o esquema de exportação da AURORA, face aos volumes envolvidos no mercado norte-americano.

Não obstante, aqueles vinhos foram redirecionados no mercado europeu, passando a atender o mercado inglês em 1993. O consumidor inglês aprovou os varietais e as exportações passaram a exigir e manter volumes crescentes, ultrapassando em 1998, a casa do meio milhão de litros.

A Aurora viveu uma grande crise econômica ao longo da década de 1990 que foi vencida com muito tabalho e determinação.

Às vésperas de completar 80 anos de fundação, fato ocorrido neste último 14 de fevereiro, a Cooperativa Vinícola Aurora celebra o aumento de 60% das exportações em 2010 em relação ao ano anterior.

No ano passado, a maior e mais premiada vinícola brasileira também conquistou novos mercados internacionais - Irlanda, Polônia e Sirilanka - e voltou a operar com a Suécia e Dinamarca, que se somam à lista de mais de 20 países compradores da Aurora, entre eles França, Estados Unidos, Alemanha, Japão, Suécia e Vietnan.

Como se vê, a Aurora continua sendo a grande força exportadora de vinhos brasileiros.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

VINHOS BIODINÂMICOS DA ÁFRICA DO SUL

Foi no Empório Baglioni, São Paulo, que a importadora Mistral promoveu uma apresentação de vinhos biodinâmicos da África do Sul, conduzida pelo produtor Hohan Reyneke, cuja vinícola se localiza na capital do vinho daquele país, Stellembosch.

A Reyneke Organic iniciou atividade nos seus 37 hectares de terra em 1992 e produziu o primeiro lote de vinhos em 1998, coroando um processo de respeito ao meio ambiente e de cuidado com os consumidores, sem se afastar da questão da sustentabilidade econômica do empreendimento.







FERTILIZANTE BIO: COMPOSTO MINERAL, ANIMAL E VEGETAL DO LOCAL





DILUIÇÃO DO FERTILIZANTE: DINAMIZAÇÃO COMO NA HOMEOPATIA

Os vinhos degustados comprovam o que tenho defendido: são vinhos tão bons quanto os bons vinhos ditos normais com a vantagem de que não se corre o risco de tomar produto de enologia intervencionista, ou seja, que adiciona cor, aromas e sabores de farmácia.

Na seqüência foram degustados, com explicação do Johan Reyneke, os seguintes vinhos:

Reyneke Sauvignon Blanc 2009 - um vinho amarelo verdeal, lágrimas intensas, aromas de pêra e abacaxi sobre toques levemente tostados. Na boca repetiu as impressões do nariz, inclusive com um traço alcoólico incisivo. U$ 42,50.

Reyneke Chenin Blanc 2008 - um vinho amarelo dourado, lágrimas intensas, aromas de frutas em calda, rosa branca e toques minerais. Na boca as frutas maduras, a mineralidade e o tostado do carvalho, dão-lhe uma característica bem definida. U$ 52,50.
Reyneke Reserve Sauvignon Blanc 2009 - um vinho amarelo dourado, lágrimas intensas, aromas complexos de frutas brancas emolduradas nos toques tostados e de especiarias do carvalho. Boca intensa, complexa e gorda. O melhor vinho do painel! - U$ 73,90.
Reyneke Pinotage 2008 - um vinho vermelho rubis e reflexos levemente violáceos, aromas típicos da casta com uma leve borracha sobre frutas silvestres, gerânio, alcaçuz e açúcar mascavo. Na boca os traços sutis de borracha são competados com tons de marrasquino, açúcar mascavo e flores. Muito bom! - U$ 52,50.

Reyneke Cornerstone 2007 - um vinho vermelho rubi vivo e brilhante, 50% Cabernet Sauvignon/40% Shiraz/ 10% Merlot. Aromas de frutas vermelhas e pretas maduras, sutil toque mentolado, pimenta preta. Final agradável. U$ 42.50.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

VINHOS VELHOS SÃO OS MELHORES ?

Um vinho guardado por muito tempo não é necessariamente um vinho de guarda! Mais ainda, a maioria dos vinhos é liberada para a comercialização após algum tipo de amadurecimento na vinícola que, por menor tempo que leve, deixa-o em condições de consumo imediato ou dentro de três a cinco anos.

Ainda na vinícola, todo vinho recém-fermentado reclama por um período mínimo de amadurecimento de três a seis meses, que seria para um descanso pós-parto ou para evitar a doença da garrafa ou, ainda e principalmente, para que ele comece a liberar os seus aromas primários.

Esse amadurecimento mínimo pode ser conduzido em tonéis e completados com descanso na própria garrafa nas caves da vinícola. Para os vinhos de guarda a sequência é a mesma, com a diferença de períodos muito mais longos envolvidos. O apreciador compra as garrafas previamente semi-envelhecidas e vai completar o amadurecimento em sua adega. Por exemplo, um Bordeaux de alma pode ser comprado com alguns anos de garrafa e deve ser tomado, no mínimo, com mais de dez anos. Um Beaujolais Nouveau, vinho leve e alegre, quase sem alma, tem que ser tomado ao longo do primeiro anos de liberação pelo produtor.


ESCOLHA O SEU VINHO ENTRE AS SAFRAS 1980 E 1982...COM MUITO CUIDADO!

Quando se guarda um vinho corrente é a mesma coisa de se testar palito por palito de uma caixa de fósforos para uso futuro...nada vai funcionar!

Mas ao se guardar um vinho de bom teor alcoólico, de boa uva e de boa procedência, a tendência é que ele amadureça e se enriqueça com novos aromas e novas sensações de boca.

Um conselho para acompanhar a garrafa ao longo do tempo é cortar o topo da cápsula que protege a rolha e armazená-la deitada, até o momentgo de beber. Ao surgir vazamento através da rolha tem-se uma indicação de abrir e tomar!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

BORDEAUX - VINHOS BY BETO RANIERI

Foi em São Paulo que o comandante Roberto, em uma noite inspirada, reuniu uma tropa de elite para enfrentar uma missão praticamente impossível.




No grupo, além do Beto e deste cronista, estavam perfilados Filipe Xavier, Jorge Martinez, Antonio Carlos Nascimento, Fernando Navarro, Fernando Radoan, Eugênio de Zagotis e Tadeu Moreno.

A caça ao tesouro não obedeceu regras restritivas, como costumam ditar os enochatos metidos a sabichões. Pelo contrário, foi um processo de visadas sucessivas de pérola em pérola, num ambiente descontraído onde não faltaram conhecimento e vivência.



Foi o painel de vinhos Bordeaux e os exemplares ícones degustados que tornaram a missão "quase impossível" pois deveriam ser apontados os melhores dentre rótulos como:

Château Margaux 2001, vigoroso, ataque impetuoso de taninos devido a sua juventude, textura gorda, enfim um excelente vinho, com capacidade ainda para amadurecer pelo menos mais uns 5 a 10 anos. Para mim, foi o primeiro classificado. Aliás, na conceituada Cata de Berlim, votei e vi classificado em primeiro lugar um Margaux.

Château Haut-Brion 1996, bem evoluído na cor, aromas e sensações de boca delicados, lembrando café e palha. Envelheceu antes do tempo, porém com muita nobreza. Estava no momento máximo para ser tomado.

Château Pavie 1er Gran Cru Classé de Sain Émilion 1998, vigoroso, vivaz, pleno preenchimento do centro da boca, carnudo e mastigável. Suportaria muito bem mais alguns anos. Nível de excelência bem próximo ao do Margaux.

Vieux Château Certan Gran Vin Pomerol 1996, bem evoluído na cor, aromas e sensações de boca delicados lembrando caramelo, tabaco suave e sutis toques mentolados. No máximo de sua madurez, porém com muita nobreza.

La Mission Haut Brion 2002, cor jovem, lágrimas copiosas, incisivo ataque no nariz e na boca. Bem estruturado, agradável equilíbrio. Um vinho excelente, apesar de ter sido vítima de uma pedofilia enológica praticada por nós todos.

Château Gran Puy Lacoste de Pauillac 1986, um vinho muito bem amadurecido, sem sinais de fraqueza, aromas de camurça, caixa de charutos e frutas em compota. Excelente.

Château Beychevelli de Saint Julien Gran Vin 1997, inteiro, boa estrutura, boca equilibrada e de final muito agradável. Vinho muito bom.

Reserve de la Conteste de Pauillac 2003, vinho muito jovem, com alguma agressividade na boca que só uns bons anos de amadurecimento poderiam acalmar. Antevendo suas qualidades com mais uns oito anos, fica classificado de excelente. Bebido antes do temo correto, foi outro caso de pedofilia enológica!

Château d'Yquem Sur Saluces de Sauternes 1991, comentar este que é o néctar dos néctares é a mesma coisa que chover no molhado. Excelente. Se eu fosse Napoleão teria levado esse vinho para dar sentido aos anos derradeiros na ilha de Santa Helena!


VINHOS DE MAIOR GUARDA: BETO COM SACA-ROLHAS DE LÂMINAS!




ESTA GARRAFA ESTÁ SENDO CUIDADOSAMENTE VIGIADA POR MIM!

Fora do tema, o italianíssimo Tignanello 1982, corte de Sangiovese com uns pingos de Cabernet Sauvignon, do Val di Pesa, assinatura Antinori. Um vinho 1982 com a saúde e a estrutura deste Tignanello, merece a classificação excelente. Para mim ganhou classificação paralelamente ao Margaux.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

NO LO CREO EN BRUJAS, PERO QUE LAS HAY, LAS HAY!


Tenho lido os mais diferentes pontos de vista sobre a produção alternativa de vinhos. Segundo o produtor francês Jean-Pierre Amoreau, membro da longa descendência de proprietários do Château Le Puy, implantado em 1610, nesta casa secular sempre se trabalhou as videiras valendo-se de tratos culturais orgânicos e práticas enológicas isentas de produtos químicos.

Alguns ranzinzas escrevinhadores desandam em críticas acerca dos produtos ecológicos como se fossem donos absolutos da verdade.

A vitivinicultura tradicional sempre foi orgânica e, ao longo dos milênios, esteve baseada na ausência de produtos químicos e agrotóxicos. Segundo produtores franceses, foi somente a partir da necessidade de reaproveitamento das grandes sobras de matéria-prima para munição da Primeira Grande Guerra, que os vinhedos passaram a ser bombardeados pelos agrotóxicos, herbicidas, pesticidas e fertilizantes químicos. Assim, deu-se o advento da viticultura química!

Cresci no meio de vinhedos brasileiros e me desenvolvi através de vinhas do mundo afora. Testemunhei a pulverização sem parcimônia de fixadores químicos que precedem à aplicação de agrotóxicos. Na Austrália, o herbicida era tão ativo que foi desenvolvida uma máquina com protetores para não borrifar produto no caule... a videira não suportaria. O herbicida destina-se a matar as ervas “daninhas” mas os seus resíduos menos agressivos penetram no solo, são captados pelas raízes, alimentam as uvas e podem aparecer no vinho.

Na italiana Fratelli Bolla, devido a esquemas similares de seus fornecedores, ocorrem análises laboratoriais para identificar a presença destes resíduos no vinho e, na ocorrência, condenam-no à rejeição.

O assunto é tão importante que muitas vinícolas respeitáveis do mundo estão procurando formas de atenuar o uso de produtos nocivos à natureza e ao homem.

Um primeiro movimento chama-se PIF – Produção Integrada de Frutas que é uma metodologia reconhecida internacionalmente, passível de certificação do produtor. É baseada no tempo de atividade do agrotóxico aplicado que cumprido perde a nocividade e não deixa resíduos na fruta.

Nesta linha está a filosofia chamada Raisonée, que elimina a utilização programada dos agrotóxicos que só é aplicado na ocorrência de problemas.

Uma tecnologia recente é o controle térmico de pestes (TPC – thermal pest control). Um trator circula pelo vinhedo puxando um equipamento pulverizador que emite jato de ar a elevada temperatura e a alta velocidade o qual age sobre as videiras eliminando fungos, bactérias e pragas. Como resultado final, o método acorda o sistema imunológico, restabelece as resistências naturais da videira e elimina a aplicação de produtos químicos! No Brasil, a Cave de Amadeu está sendo a pioneira no país na implementação desta técnica, com resultados surpreendentes.

Mas a escalada dos vinhos ecologicamente corretos começa de forma mais efetiva com a vitivinicultura orgânica, que implica adoção de cuidados especiais no vinhedo, especialmente a eliminação de qualquer aplicação química de fertilizantes ou agrotóxicos. Na cantina, modernas técnicas de vinificação são adotadas como o controle de pressão e de temperatura nas diversas fases do processo, filtragem com elementos naturais e zero de correção química. As garrafas são paramentadas com cápsulas, rótulos e tinta biodegradáveis.

A produção dos orgânicos está crescendo: no Chile pode ser destacado o vinho da Conosur, na Áustrália o Mount Benson, na Alemanha o Hans Wirsching, no Rhône o Ferraton, na Alsácia o Domaine Huët, no Uruguai o De La Cruz... Para os mais incrédulos, na Borgonha, os vinhateiros Villaine que produzem o Romanée-Conti, elaboram talvez os vinhos orgânicos mais caros do mundo.

A produção mundial de vinhos orgânicos está ultrapassando a casa dos 5%, depois que o consumo multiplicou-se por sete nos últimos três anos. Assumindo uma atitude despojada de preconceitos, está na hora de começar a apreciar, também, os bons vinhos orgânicos!

Os vinhedos podem começar orgânicos, recebendo adubos naturais e tratando das videiras com a calda bordalesa e enxofre ventilado, ou são vinhedos químicos convertidos em orgânicos através de um processo de desintoxicação de alguns anos.

No Brasil, o movimento orgânico teve início na década de 1980, no município gaúcho de Ipê, com a criação da ONG Centro Ecológico, com objetivos de sensibilizar, divulgar e desenvolver a agroecologia. Para produzir uvas orgânicas sob as condições brasileiras, esta entidade desenvolveu técnicas especiais para manejo do solo, práticas nutricionais e ações fitosanitárias. Neste trabalho, foram criados biofertilizantes como, por exemplo, o Super Magro, que foi aprovado e tem sido utilizado em vários países do mundo.

Produtora de vinhos finos, a Velho do Museu, do professor Juan Carrau, cultiva vinhedos orgânicos em Livramento e vinifica em Caxias do Sul. Os vinhos de Cabernet Sauvignon e de Sémillon são os primeiros orgânicos finos do Brasil.

Outra modalidade ecológica de vinhos vem da chamada produção biodinâmica. Nesta, o solo só recebe insumos na forma de pequenas porções de preparados biodinâmicos à base de ervas medicinais, mineral de quartzo e invólucros animais.

Segundo a filosofia, nestes preparados estão concentradas forças naturais e elementares do próprio ambiente (consolidando efetivamente o terroir), que têm a função de acordar nas plantas suas capacidades e potencialidades naturais.

Somam-se a elas, as forças do calor solar mais ou menos intenso e do sutil calor cósmico lunar, planetário e estelar, vindas de seus posicionamentos astronômicos que, segundo estudiosos, traduzem ritmos cósmicos que se identificam com os momentos mais apropriados para agir no ambiente das plantas através de podas, adubações, maneja de solo, vegetação das videiras e assim por diante.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

DECANTER - NOVOS VINHOS IMPORTADOS

A Decanter é uma das grandes importadoras brasileiras de vinhos e tem na visão crítica (no olfato e no paladar também!) do Adolar uma arma para garimpar constantemente vinhos de qualidade nos vários níveis da relação custo-benefício.



Neste início de fevereiro, no dia 8, a Decanter recebeu formadores de opinião de relevância e colocou em degustação vinhos que estarão chegando com a maior brevidade com suas lojas. São vinhos alemães, italianos e franceses.

Sequência de serviço:

Ferrari Perle Nero Brut 2004 - Pinot Noir/ Ferrari - Trentino - R$ 325,00
Mas ded Mas Picpoul de Pinet - Picpoul / Domaines Paul Mas - Languedoc - R$ 67,00
Weissburgunder Spätlese Trocken - Pinot Blanc / Dr.Heger - Baden - R$ 148,00
E. Lump Silvaner Spätlese Trocken - Silvaner / H. Sauer - Francônia - R$ 134,00
Château Montus 2007 - Petit Corbu+Petit Manseng / A.Brumont - Madiran - R$ 140,00
Mimus Spätburgunder 2007 - Pinot Noir / Dr. Heger - Baden - R$ 185,00
Clos des Mures 2009 - Syrah+Grenache+Mourvèdre / D. Paul Mas - Languedoc - R$ 88,00
Arrogant Frog Croak Rotie 2009 - Syrah+Viognier / D. Paul Mas - Languedoc - R$ 48,00
Sauvignon de La Tour 2009 - Sauvignon Blanc / Villa Russiz - Friuli - R$ 155,00
Ch.Lagrezétte 500th 2003 - Malbec+Merlot+Tannat / D. Langrezétte - Cahrs - R$ 138,00
Lirac Confidentielle 2007 - Grenache+Mourvèdre+Syrah / Saint-Roch - Rhône - R$ 105,00
Cornas Terres Brulées 2007 = Syrah / J.L. Colombe - Rhône - R$ 190,00
Aglianico del Vulture 2004 - Agianico / Basilisco - Basilicata - R$ 210,00



Uma seleção heterogênea em estilos e muito interessante como sequência de degustação, muito bem preparada como "um passeio por várias regiões do mundo" e coordenada pelo sommelier Guilherme Correa.

Um detalhe não incomum nesses painéis de degustação é que nem sempre as preferências recaem nos vinhos mais caros. Para mim, os que mais impressionaram foram: Arrogant Frog Croak Rotie, Mas de Mas Picpoul de Pinet, Chateau Paul Mas Clos de Mures eAglianico del Vultura. O espumante Ferrari Perlé Nero Brut foi um show à parte.



Mais uma vez, parabéns Adolar pela apurada seleção apreciada por todos!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

E A MULHER DESCOBRIU O VINHO...


O que aconteceu em primeiro lugar, a viticultura ou a vinicultura?

Não parece exagerado imaginar que a viticultura somente teve lugar depois que o vinho foi descoberto, criando razões muito fortes para trazer as videiras para bem próximo das casas.

No Neolítico desenvolveram-se a tecelagem, a produção de instrumentos de pedra polida e a cerâmica.

A manufatura de peças cerâmicas como jarros e vasilhas descortinou um dia-a-dia completamente novo para estas populações fixas, proporcionando a guarda de água, de alimentos coletados nas florestas ou produzidos pelo grupo.

O nascedouro do vinho teve início com as jarras cerâmicas. A coleta de uvas nas florestas e a guarda neste vasilhame garantia ao homem a organização das despensas para elementos importantes da sua alimentação.

A bruteza dos bárbaros para apanhar uva dos jarros certamente causava o esmagamento dos cachos inferiores, dos quais escorria parte de seu suco. Este mosto ia se acumulando no fundo do jarro e a temperatura alta animava as leveduras (fermentos naturais) presentes na casca das uvas a iniciarem o processo de fermentação, transformando-o em vinho.

Por muitas vezes este caldo, misturado aos restos de cachos no fundo dos jarros, deve ter sido atirado fora para limpeza e liberação do vasilhame para a guarda de novas coletas.

Como o vinho é sonho, é deleite, imaginemos uma mulher chamada Vartanux, nome armênio feminino antiqüíssimo, cumprindo a rotina dos seus afazeres domésticos.

Num certo dia, Vartanux, desdobrava-se com os apetrechos domésticos e cuidava de preparar os jarros para receber frutas e alimentos a serem coletados nas matas. Neste dia, estava particularmente mais contemplativa que nos outros e, antes de despejar fora o líquido acumulado no fundo de um jarro, sentiu que dele emanava um aroma láctico agradável. Imediatamente lembrou-se do cheirinho que subia de seus seios durante a amamentação de suas crias. Teve despertada a curiosidade de examiná-lo e terminou por experimentá-lo. Aquela bebida fermentada e perfumada, ofereceu boca agradável e lhe trouxe um estado de alegria diferente. Sentiu como que uma liberação do espírito. Os demais componentes do grupo ficaram sabendo da novidade, repetiram a experimentação e, imediatamente, aprovaram a nova bebida.

O olfato de Vartanux exerceu seu importante papel psicológico ao captar aromas de amamentação passada que suscitam viagem a essas emoções e seus sentimentos, que reavivaram imagens e ambientes distantes, evocando a vontade de provar. Esta viagem na memória é a base da degustação consciente de vinho.

Estava descoberto o vinho, mesmo que acidentalmente, por uma ou algumas das muitas Vartanux ou Marias que batalharam anonimamente através da evolução da sociedade humana!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

VALLONTANO – ESSES VINHOS VÃO LONGE

A primeira vez em que visitei a Vallontano (Vale dos Vinhedos) , faz uns dez anos, dentro de um programa pessoal de conhecer as vinícolas brasileiras emergentes do final dos anos 1990 e início dos anos 2000. A Vallontano ainda estava em implantação, não existia a loja de varejo na frente da adega e outras ampliações.

Fui recebido pelo seu proprietário Laurindo Valduga e da nossa conversa pude verificar a visão e filosofia avançadas em relação ao padrão brasileiro. Mais adiante degustei alguns vinhos com explicações do enólogo Luís Henrique Zanini, cuja postura voltada para as questões do terroir e uma linha profissional não intervencionista, que completaram a visão altamente positiva que formei a respeito da Vallontano.

Dias atrás, coloquei o Vallontano Reserva Cabernet Sauvignon 2005 no painel de degustação da Free Time Magazine, Top Tintos Brasileiros, e ele se destacou no bloco dos Cabernet Sauvignon pela elegante combinação aromática de frutas maduras com os toques aportados pelo carvalho francês. Um sutil traço mentolado sob sabor de casca de jabuticaba completaram o contorno da tipicidade desta variedade. Teor alcoólico 13% bem equilibrado com a acidez correta e os taninos maduros.

Estas impressões foram confirmadas pelo grupo de degustação deste blog.



No painel do blog ainda provamos o Merlot Reserva 2005, o Tannat Reserva 2007 e o Brut Vallontano.

O Merlot Reserva 2005, com seus 13.5% de álcool apresenta uma grande estrutura e complexidade, oferecendo frutas como ameixas pretas maduras sobre sutis traços de carvalho francês, a boca aveludada mostra-se acidez saliente, decorrente do terroir, equilibrada com a generosidade do álcool e dos taninos macios.

Já o Tannat Reserva 2007... este é fora de série! Eu diria que se trata de um dos melhores exemplares brasileiros desta casta. Escurão, aromas típicos da variedade, mesclando frutas maduras, tabaco, chocolate e couro, emoldurados pelos aportes de baunilha e especiarias pela passagem pelo carvalho francês. Sutis toques de violeta e de morango. Com 13.4% de álcool e uma acidez vivaz, combinados com sua carga marcante de taninos típicos, que resulta boca bem preenchida e com personalidade.

Finalizando, o espumante Vallontano Brut tem o frescor da acidez característica dos bons exemplares brasileiros, aliado à elegância do corte da Pinot Noir com a Chardonnay. Perlage persistente e final de boca agradável. Teor alcoólico de 12%.

Para comprar, procure a Mistral – www.mistral.com.br / tel. 11 – 3572 3400.








sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

REVISTA FREE TIME - DEGUSTAÇÃO DE TOP TINTOS BRASILEIROS

Walter Tommasi, Free Time Magazine, convocou um time de degustadores de peso para realizar o 19° Painel de Degustação Mensal, destavez para avaliar vinhos tintos brasileiros de preço acima de R$ 40,00. Como já houve outra sessão especial para os Merlot, estes não participaram.



Para melhor retratar os vinhos tintos brasileiros, Tommasi pediu que eu coordenasse a escolha e os convites aos produtores que têm realizado algum trabalho diferente para atingir o nível mundial de qualidade. O espírito da minha seleção foi o de reunir uma amostragem bem significativa do atual vinho brasileiro.

Procurei dar espaço para os que já são marcas consolidadas como Aurora, Salton, Casa Valduga, Don Laurindo, Boscato, Vallontano, Pizzato, Lidio Carraro, Cordilheira, Angheben, Panceri, Villa Francioni, Miolo e Don Guerino.



Em complementação, coloquei vinicolas emergentes gaúchas como Alma Única, Campos de Cima, Don Abel e Guatambu, e as catarinenses de altitude como Suzin, Sanjo, Pericó e Villaggio Grando. Outras convidadas, por diversos motivos, não participaram.



O painel dividiu as 36 amostras em três grupos de acordo com a composição de castas dos vinhos:

1. vinhos varietais (9): Anchellotta, Arinarnoa, Syrah, Teroldego (2), Pinot Noir(2) e Tannat (2).

2. varietais de Cabernet Sauvignon (11).

3. cortes de composição diversa (14): C.Sauvignon/Merlot (2); Carignan/C. Sauvignon; C. Sauvignon/C. Franc/MerlotMalbec/Pinot Noir/Petit Verdot; Merlot /C.Sauvignon/C.Franc/Malbec/Syrah; C. Sauvignon/Merlot/Tannat; Touriga Nacional/Alfrocheiro/Tinta Roriz; Merlot/Tannat/C. Sauvignon; Malbec/Tannat/Ancellotta; C.Franc/Merlot/Malbec; Merlot/Tannat/Malbec; C.Sauvignon/Malbec; C.Sauvignon/Merlot/C.Franc; Tannat/Ancellotta.

Os resultados e comentários serão publicados no próximo número da revista Free Time porém, chamou a minha atenção o desempenho do Ancellotta Don Guerino, Arinarnoa Casa Valduga, Cabernet Sauvignon Suzin, Cabernet Sauvignon Vallontano, Villaggio Grando Innomibabile, Talento Salton, Miolo Casta Portuguesas e Gran Reserva Don Laurindo.




O que marcou deste painel foram as pontuações em um nível muito interessante.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

MODERNA GEOGRAFIA VINÍCOLA BRASILEIRA

A primeira manifestação vitivinícola brasileira se deu com o plantio do primeiro vinhedo em local onde é hoje o populoso bairro do Tatuapé, na grande cidade de São Paulo, por obra do português Brás Cubas a partir de 1548. Dos vinhedos colheu uvas e as vinificou na altura do ano de 1551, marcando talvez um dos primeiros vinhos do Hemisfério Sul.

Essa proeza não sensibilizou os portugueses que, no sentido contrário, não queriam que se desenvolvesse vitivinicultura no Brasil, cujo povo deveria consumir vinhos de Portugal.

Depois da morte de Brás Cubas adormeceu a potencial vitivinicultura brasileira por mais de 200 anos, aniquilada pela concentração das atenções governamentais e pessoais à garimpagem de ouro, prata e pedras preciosas pelos sertões da época.

As tentativas vitivinícolas na cidade de São Paulo no início dos anos 1800 foram fugazes uma vez que seus empreendedores eram abastados senhores que em nada dependiam dos resultados das videiras, vivendo de suas empresas ou profissões. O predomínio foi das videiras americanas trazidas para a Fazenda Morumbi (SP) e plantadas em chácaras de fim-de-semana.

A vitivinicultura brasileira teve início efetivo nas décadas de 1880/1890, a partir do trabalho dos imigrantes italianos na Serra Gaúcha, Rio Grande do Sul. A evolução ocorreu com a imagem predominante das híbridas americanas e seus péssimos vinhos.



VINÍCOLADA ÉPOCA PIONEIRA - ALIMENTAÇÃO COM CARROÇÕES PUXADOS A MULAS

Esquecendo iniciativas pontuais de vinhos finos como Granja União na década de 1930 e outros até a década de 1970, a vitivinicultura brasileira de viníferas somente teve início consistente na década de 1980, grande evolução nos anos 1990 e consolidação no despertar do terceiro milênio.

Desde a entrada do terceiro milênio a geografia vitivinícola brasileira vem apresentando forte expansão mostrando as nova geografia e suas potenciais províncias.

O maior problema para a qualidade do vinho brasileiro está nas mãos do clima úmido. Desde há muito que as regiões tradicionais vêm se debatendo com a interferência negativa das chuvas de verão na qualidade das uvas e, consequentemente, dos vinhos. Nestes locais, quando a uva está na etapa final de maturação as chuvas acabam diluindo o conteúdo das bagas das uvas, condenando-as a resultar vinhos de baixa qualidade, chaptalizados. Mudanças em microclimas destas mesmas regiões estão ajudando a obtenção de safras melhores, somando-se aos esforços vitícolas de fazer a redução de produção por videira assim concentrando o conteúdo da uva e proporcionando vinhos de qualidade aceitável.



No entanto, a novidade da vitivinicultura brasileira está na descoberta de nichos de qualidade em regiões afastadas das áreas tradicionais da Serra Gaúcha. Mesmo no Rio Grande do Sul, pode-se encontrar origens de uvas excepcionais como a Serra do Sudeste (Vinícolas Angheben, Chandon, Lídio Carraro, Casa Valduga), Campanha Gaúcha (Vinícola Guatambu), Campanha Oriental (Vinicola Campos de Cima), Alto Uruguai (Vinicola Antonio Dias) e Campos de Cima da Serra (Muitos Capões).

Mas regiões de Santa Catarina estão se revelando as maiores potencialidades em termos de alta qualidade de vinhos, São os vinhos catarinenses de altitude. Associados em torno da ACAVITIS, vinícolas de São Joaquim (Quinta da Neve, Suzin, Pericó, Quinta Santa Maria, Villa Francioni), Campos Novos (Vinicola Edson Ubaldo), Videira (Panceri) e Caçador (Villaggio Grando), estão deixando os apreciadores realmente entusiasmados.

A explicação vem da própria situação de estarem os vinhedos acima dos 1.000 metros de altitude, condição que pelos dias ensolarados e noites frias, resulta numa lentidão do ciclo de amadurecimento das uvas que vão ser colhidas de meados de abril até quase o final de maio, com maturação e colheita completamente fora da época das chuvas de verão. Resultado: uvas concentradas e com maturação completa de seus componentes aromáticos, corantes e de sabor.

Iniciativas em outras regiões vinícolas brasileiras: Serra Gaúcha (híbridas e viníferas); Campanha Gaúcha; Campanha Oriental; Alto Vale do Rio Uruguai; Serra do Sudeste; Campos de Cima da Serra; Urussanga (híbridas); Altitudes Catarinenses; Vale do Rio do Peixe -SC (híbridas e viníferas); Paraná – Toledo, Maringá e Colombo (híbridas e viníferas); São Paulo – São Carlos, Pinhal, etc; Minas Gerais – Andradas, Pinheiro Preto, etc. (híbridas e viniferas); Goiás – Pirenópolis; Mato Grosso – Mutum (híbridas); Bahia – Casa Nova; Pernambuco – Santa Maria da Boa Vista, Belém do São Francisco, etc.

A grande produção ocorre no Rio Grande do Sul, seguida de Santa Catarina e Nordeste (Bahia e Pernambuco), restando participa~]oes insignificantes para as demais partes do país.

Apesar de todo esforço, a vitivinicultura brasileira permanece refém das híbridas americanas em quase 80% da sua produção, atendendo com vinhos finos somente 30% do consumo nacional. Os vinhos importados abastecem 70% do consumo de vinhos finos!

O Brasil com 220 milhões de habitantes e o consumo per capita (ridículo) de 2 litros por ano é um dos mercados mais promissores do mundo pois não há capacidade doméstica de atendimento de qualquer grande evolução no consumo.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

VINHO DA ITÁLIA – RAÍZES ETRUSCAS E GREGAS

A origem dos etruscos é motivo para demoradas elucubrações e constantes discussões, e explorada por várias teorias. Esse povo habitava uma região balizada pelos rios Arno e Tibre, englobando terras da atual Toscana e chegando até o Lácio. A chegada dos etruscos na região por volta do século XIII a .C., vindos da Lídia (parte da Grécia), é defendida por uma corrente de opinião que se apoia nas características de seus costumes e religião, assim como no nível mais evoluído de civilização. Para completar, a ainda hoje misteriosa língua etrusca utilizava alfabeto com semelhanças ao do grego e diferente em relação às demais línguas dos povos vizinhos.

As cidades etruscas eram as mais avançadas da península italiana. Eram doze as principais cidades, com governo independente, e exerceram notável influência sobre os romanos. A cidade etrusca de Fescênia que ficava bem próxima a Roma, notabilizou-se pela devassidão e costumes libertinos, comportamento que em certa proporção foi muito bem assimilado pelos romanos em suas bacanálias. O certo é que Roma venceu os povos da Etrúria nos anos 200 a .C.

O fato de os etruscos dominarem a vitivinicultura a ponto de exportar vinho para povos para além dos Alpes corrobora de alguma forma a tese de sua origem grega. Segundo diferentes historiadores, o advento dos vinhos italianos está relacionado à chegada dos etruscos, em remotas datas do século XIII a .C.! A mais antiga ânfora para vinho encontrada na Itália data de 600 a .C. e era de fabricação etrusca.

Segundo o site www.alimentação&cultura, os etruscos eram o povo “mais guloso e comilão da terra”, com mesa atendida por muitos escravos que serviam pratos suculentos e grandes taças de vinho. O cenário nos remete à comilança nos restaurantes italianos e o prazer do garçom italiano em ver o cliente se empanturrando!

Paralelamente, gregos que colonizaram o sul da Itália também deram valiosa contribuição quando lá chegaram por volta dos anos 800 a.C.. Trataram imediatamente de iniciar a introdução da vitivinicultura numa vasta região mais tarde conhecida como Magna Grécia.

Nesta parte sul da Itália a produção vitivinícola prosperou a tal ponto que a região recebeu outra denominação, Enótria, a terra do vinho (eno=vinho).

Quando os romanos conquistaram a Magna Grécia e a Etrúria, assimilaram as sólidas práticas vitivinícolas e o vinho passou a ser uma espécie de sombra das tropas romanas por todas partes conquistadas. Nas terras dominadas ocorreu a introdução do vinho, a implantação de vinhedos e o ensino das práticas enológicas.

Foi neste período grandioso do Império Romano que estudiosos clássicos iniciaram estudos científicos sobre a uva, a videira e a vinificação, legando escritos até hoje respeitados e seguidos.

Bebida apreciada por alegrar o espírito nas comemorações humanas, valorizada pelo papel importante na alimentação e empregada nas festas libertinas por seus efeitos inebriantes, o vinho assumiu presença em todas as partes da Magna Grécia, na qual os vinhedos se espalharam em tal medida que chegaram a representar, ao redor do século IV a .C., cerca de 30% da vegetação que cobria os campos! Greco Nero e Aglianico, por exemplo, são duas castas introduzidas pelos gregos.

Ah! Esta pouca gente sabe: os gregos também introduziram um prato feito de massa sovada e aberta em forma plana... que se tornou a mundialmente conhecida como a pizza italiana.

Tendo os romanos dominado gregos ao sul e etruscos ao norte, mantiveram a cultura do vinho e das vinhas, legando para a posteridade uma Itália pródiga nesta bebida e generosa na mesa farta.

Quando tomamos um Barolo, um Amarone, um Brunelo, um Aglianico... e muitos outros néctares italianos, temos na taça mais de 3.000 anos de história vinícola!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

CASA MARIN – BUTIQUE ÍCONE DO CHILE COMPLETA 10 ANOS

Se estou bem lembrado conheci Maria Luz Marin, a simpática Marilu, num stand da Expovinis, lá se vão bons anos, quando degustamos a linha de vinhos de vinificações iniciais da Casa Marin e ouvi explicações da filosofia desse empreendimento.


A chilena Maria Luz Marin é enóloga criativa e competente, que se aplicou num projeto ousado e pioneiro no desconhecido Valle de San Antonio, na pequena cidade de Lo Abarca, a apenas 4 km do mar. Não fossem as características revolucionárias da vinícola, com a sua consolidação, Marilu se tornou a primeira mulher a comandar integralmente uma produção de vinhos no Chile.

Conta ela que, em certa oportunidade, na década de 1990, depois de assistir a palestra de renomado especialista que dedicava altas apologias às grandes vinícolas chilenas, pediu a opinião dele sobre seus planos de explorar vitivinicultura no nível de boutique winery em Lo Abarca. Ele, sem descer do pedestal de sua pretensa grandeza, não titubeou em decretar um julgamento definitivo: ela não deveria desperdiçar dinheiro e tempo num terroir sem a menor chance de sucesso.

Maria Luz Marin, mulher de sólidos conhecimentos e de convicções ferrenhas, não se deixou abater pelas palavras duras do “pretencioso especialista” e, fiel a seus ideais, seguiu seus planos e entrou no novo milênio com as primeiras vinificações do terroir. Não demorou para que os verdadeiros especialistas lhe reservassem especiais distinções, tanto no Chile quanto no Exterior. Robert Parker, por exemplo, destacou os vinhos da Casa Marin com classificações que vão dos 89 aos 92 pontos!

No dia 22 de setembro do ano retrasado, foi realizado um almoço harmonizado na importadora Vinea com vinhos da Casa Marin, ocasião em que pudemos ouvir os sempre interessantes comentários de Maria Luz.



No coquetel, a sopa de alçafrão e o tartar de salmão caíram muito bem com o Cartagena Chardonnay 02, uvas de Casablanca. A entrada, composta de mini abobrinha recheada com camarão e salada verde ao molho de queijo de cabra, casou-se perfeitamente com o Laurel Sauvignon Blanc 05, de Lo Abarca. O prato principal foi perdiz confitada ao azeite de tomilho com batatas gratin, que se revelou perfeitamente harmonizado com o Litoral Pinot Noir 03, de Lo Abarca.

No ano passado, ao revés do que protagonizou aquele falso especialista, a Casa Marin completou 10 anos de existência com uma lista de premiações excepcionais. A empresária assim se manifestou:


"Fue hace 10 años cuando empecé mi sueño y planté las primeras vides en Lo Abarca. La gente pensó que estaba loco, pero ahora, 10 años después Casa Marín es reconocido como uno de los viñedos más atrevidos e innovadores del mundo, mostrando al mundo que Chile sí puede producir vinos Premium de alta calidad! ...

...El año 2010 nos ha dado muchas razones para celebrar. Los muchos premios internacionales que hemos ganados: elegido dos veces como mejor Sauvignon Blanc del mundo, Vinos de Chile nos ha elegido como "Mejor Viña de Chile 2010" .