quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

MODERNA GEOGRAFIA VINÍCOLA BRASILEIRA

A primeira manifestação vitivinícola brasileira se deu com o plantio do primeiro vinhedo em local onde é hoje o populoso bairro do Tatuapé, na grande cidade de São Paulo, por obra do português Brás Cubas a partir de 1548. Dos vinhedos colheu uvas e as vinificou na altura do ano de 1551, marcando talvez um dos primeiros vinhos do Hemisfério Sul.

Essa proeza não sensibilizou os portugueses que, no sentido contrário, não queriam que se desenvolvesse vitivinicultura no Brasil, cujo povo deveria consumir vinhos de Portugal.

Depois da morte de Brás Cubas adormeceu a potencial vitivinicultura brasileira por mais de 200 anos, aniquilada pela concentração das atenções governamentais e pessoais à garimpagem de ouro, prata e pedras preciosas pelos sertões da época.

As tentativas vitivinícolas na cidade de São Paulo no início dos anos 1800 foram fugazes uma vez que seus empreendedores eram abastados senhores que em nada dependiam dos resultados das videiras, vivendo de suas empresas ou profissões. O predomínio foi das videiras americanas trazidas para a Fazenda Morumbi (SP) e plantadas em chácaras de fim-de-semana.

A vitivinicultura brasileira teve início efetivo nas décadas de 1880/1890, a partir do trabalho dos imigrantes italianos na Serra Gaúcha, Rio Grande do Sul. A evolução ocorreu com a imagem predominante das híbridas americanas e seus péssimos vinhos.



VINÍCOLADA ÉPOCA PIONEIRA - ALIMENTAÇÃO COM CARROÇÕES PUXADOS A MULAS

Esquecendo iniciativas pontuais de vinhos finos como Granja União na década de 1930 e outros até a década de 1970, a vitivinicultura brasileira de viníferas somente teve início consistente na década de 1980, grande evolução nos anos 1990 e consolidação no despertar do terceiro milênio.

Desde a entrada do terceiro milênio a geografia vitivinícola brasileira vem apresentando forte expansão mostrando as nova geografia e suas potenciais províncias.

O maior problema para a qualidade do vinho brasileiro está nas mãos do clima úmido. Desde há muito que as regiões tradicionais vêm se debatendo com a interferência negativa das chuvas de verão na qualidade das uvas e, consequentemente, dos vinhos. Nestes locais, quando a uva está na etapa final de maturação as chuvas acabam diluindo o conteúdo das bagas das uvas, condenando-as a resultar vinhos de baixa qualidade, chaptalizados. Mudanças em microclimas destas mesmas regiões estão ajudando a obtenção de safras melhores, somando-se aos esforços vitícolas de fazer a redução de produção por videira assim concentrando o conteúdo da uva e proporcionando vinhos de qualidade aceitável.



No entanto, a novidade da vitivinicultura brasileira está na descoberta de nichos de qualidade em regiões afastadas das áreas tradicionais da Serra Gaúcha. Mesmo no Rio Grande do Sul, pode-se encontrar origens de uvas excepcionais como a Serra do Sudeste (Vinícolas Angheben, Chandon, Lídio Carraro, Casa Valduga), Campanha Gaúcha (Vinícola Guatambu), Campanha Oriental (Vinicola Campos de Cima), Alto Uruguai (Vinicola Antonio Dias) e Campos de Cima da Serra (Muitos Capões).

Mas regiões de Santa Catarina estão se revelando as maiores potencialidades em termos de alta qualidade de vinhos, São os vinhos catarinenses de altitude. Associados em torno da ACAVITIS, vinícolas de São Joaquim (Quinta da Neve, Suzin, Pericó, Quinta Santa Maria, Villa Francioni), Campos Novos (Vinicola Edson Ubaldo), Videira (Panceri) e Caçador (Villaggio Grando), estão deixando os apreciadores realmente entusiasmados.

A explicação vem da própria situação de estarem os vinhedos acima dos 1.000 metros de altitude, condição que pelos dias ensolarados e noites frias, resulta numa lentidão do ciclo de amadurecimento das uvas que vão ser colhidas de meados de abril até quase o final de maio, com maturação e colheita completamente fora da época das chuvas de verão. Resultado: uvas concentradas e com maturação completa de seus componentes aromáticos, corantes e de sabor.

Iniciativas em outras regiões vinícolas brasileiras: Serra Gaúcha (híbridas e viníferas); Campanha Gaúcha; Campanha Oriental; Alto Vale do Rio Uruguai; Serra do Sudeste; Campos de Cima da Serra; Urussanga (híbridas); Altitudes Catarinenses; Vale do Rio do Peixe -SC (híbridas e viníferas); Paraná – Toledo, Maringá e Colombo (híbridas e viníferas); São Paulo – São Carlos, Pinhal, etc; Minas Gerais – Andradas, Pinheiro Preto, etc. (híbridas e viniferas); Goiás – Pirenópolis; Mato Grosso – Mutum (híbridas); Bahia – Casa Nova; Pernambuco – Santa Maria da Boa Vista, Belém do São Francisco, etc.

A grande produção ocorre no Rio Grande do Sul, seguida de Santa Catarina e Nordeste (Bahia e Pernambuco), restando participa~]oes insignificantes para as demais partes do país.

Apesar de todo esforço, a vitivinicultura brasileira permanece refém das híbridas americanas em quase 80% da sua produção, atendendo com vinhos finos somente 30% do consumo nacional. Os vinhos importados abastecem 70% do consumo de vinhos finos!

O Brasil com 220 milhões de habitantes e o consumo per capita (ridículo) de 2 litros por ano é um dos mercados mais promissores do mundo pois não há capacidade doméstica de atendimento de qualquer grande evolução no consumo.

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