terça-feira, 25 de setembro de 2012

ESPUMANTE BRASILEIRO - TEM HISTÓRIAS PARA CONTAR

As tão festejadas estrelas dos espumantes brasileiros iniciaram sua trajetória bem antes da oficialização da Champagne como produtora única e oficial do espumante champagne. Porisso, em épocas passadas, ainda se admitia a rotulação de espumantes brasileiros como champagne.
 
Em Carlos Barbosa, cidade da Serra Gaúcha, a vinícola Alfredo Dillenburg vinha conquistando espaços importantes no mercado da época, com sua linha composta dos rótulos Rheno, Medoc e Champagne, que brilharam na Grande Exposição de Garibaldi de outubro de 1914.
 
Natural de Trento (Tirol), o agrimensor Emanuelle Peterlongo Filho chegou à região de Garibaldi com sua mulher Regina, para realizar medições de terras na região e, particularmente, para  estabelecer o traçado da atual cidade de Garibaldi. Permaneceu no Brasil e tornou-se conhecido. Foi nomeado coletor estadual de Garibaldi, dado seu grande talento e capacidade de trabalho. Era especial apreciador de vinhos brancos e aficionado dos espumantes. Em caráter damador, paralelamente às atividades da vinícola Dillenburg, iniciou um tímida produção em sua casa, com a ajuda do religioso francês Irmão Pacômio, de quem recebeu conhecimentos sobre a elaboração dos espumantes, aprimorando-os com o tempo
.
Em 1913, ainda em caráter doméstico, numa casa de madeira que mandara construir, iniciou de fato a produção de um espumante, pelo processo Asti, obtido a partir da uva Moscato de Canelli, ali cultivada. Foi um sucesso e, na I Exposição de Uvas de Garibaldi, em 1913 conquistou medalha de ouro. 
 
Emanuelle Peterlongo Filho destacou-se pelo incentivo do plantio de castas finas destinadas a vinhos brancos. Em seguida, introduziu a produção de espumantes com fermentação na própria garrafa, saindo-se como pioneiro no processo champenoise no País.
 
Um ano depois da primeira medalha, alcançou mais duas, desta vez de prata,em Garibaldi. Foi agraciado, em 1925, com medalha de ouro na Esposizione del Lavoro Italiano (Porto Alegre). Cinco anos depois, em 1930, recebeu medalha de ouro em Antuérpia, Holanda...marcos de uma trajetória de crescimento e de sucesso nas décadas que se seguiram.
 
 Na década de 1950 aconteceria um fato inusitado na vitivinicultura brasileira. A Georges Aubert, produtora francesa dos espumantes Clairette de Die, vin mousseux naturel, AOC’s Aurel e Saillams, com mais de 75 anos de tradição, enfrentava problemas políticos após o encerramento da Segunda Grande Guerra e tinha planos de deixar a França.
 
 Os primos René e Georges Aubert tiveram contato com Irmão Otão, marista de Garibaldi, que estava na França pesquisando o mundo vinícola. O religioso passou estratégicas informações sobre as potencialidades de Garibaldi. Era tudo o que eles queriam ouvir. Em 1950 a Georges Aubert simplesmente arrumou as malas (com todas as instalações vinícolas importantes) e  mudou-se para o Brasil.
 
Fato curioso aconteceu na chegada desses franceses na estação ferroviária de Garibaldi: ao descerem do trem tiveram um choque com a primeira visão panorâmica da pequena cidade: o alongado edifício na encosta oposta mostrava escrito em suas paredes: Champagne Peterlongo. Quase voltaram para a França!.
 
Em 1951, a Georges Aubert já trabalhava em regime normal de operação. Em 1953 foi iniciada a construção do parque industrial. Em 1956, a Georges Aubert trabalhava a todo vapor em suas instalações.
 
A pioneira brasileira Peterlongo e a primeira multinacional Georges Aubert conviveram bem, cresceram e foram os grandes produtores de espumantes brasileiros ao longo das décadas que se seguiram, marcando a consolidação da elaboração deste produto no Brasil. Ao lado desses pioneiros, outras vinícolas, como a Sociedade Riograndense, elaboraram espumantes, mas seu papel não foi tão decisivo ou abrangente, pelo volume produzido.
 
 Em 1973, a indústria vinícola brasileira de espumante daria um grande salto com a constituição da Provifin, atual Chandon, que passou a plantar vinhedos próprios em 1975, trazendo do Chile o jovem engenheiro agrônomo Mário Geisse. A Chandon somou ao parque brasileiro instalações, tecnologia e filosofia de elaboração de espumantes finos de qualidade internacional.
 
Em 1976, outro acontecimento iria marcar uma nova era da indústria de espumantes brasileiros. Neste ano, Mario Geisse que vinha trabalhando para a Chandon, iniciou, na Linha Amadeu o cultivo das uvas européias finas para espumantes, a Pinot Noir e a Chardonnay.
 
 
Com a implantação da Cave de Amadeu, Mário Geisse exerceu o papel de difusor das práticas de elaboração de espumantes finos, produziu para muitas marcas famosas e tornou-se o vitorioso criador de ícones como Cave de Amadeu e Cave Geisse, muitas vezes premiados nos grandes concursos internacionais. Sem medo de cometer injustiças, Mário Geisse foi o grande pai dos espumantes brasileiros de alta qualidade.
 
Um brinde ao espumante brasileiro!

 

 

Nenhum comentário: