As tão festejadas estrelas dos espumantes brasileiros
iniciaram sua trajetória bem antes da oficialização da Champagne como produtora
única e oficial do espumante champagne. Porisso, em épocas passadas, ainda se admitia a rotulação de espumantes brasileiros como champagne.
Em Carlos Barbosa, cidade da Serra Gaúcha, a vinícola Alfredo Dillenburg vinha conquistando espaços
importantes no mercado da época, com sua linha composta dos rótulos Rheno,
Medoc e Champagne, que brilharam na Grande Exposição de Garibaldi de outubro de
1914.
Natural de Trento (Tirol), o agrimensor Emanuelle
Peterlongo Filho chegou à região de Garibaldi com sua mulher Regina, para realizar
medições de terras na região e, particularmente, para estabelecer o traçado da atual cidade de
Garibaldi. Permaneceu no Brasil e tornou-se conhecido. Foi nomeado coletor estadual de Garibaldi, dado seu
grande talento e capacidade de trabalho. Era especial apreciador de vinhos
brancos e aficionado dos espumantes. Em caráter damador, paralelamente às
atividades da vinícola Dillenburg, iniciou um tímida produção em sua casa, com
a ajuda do religioso francês Irmão Pacômio, de quem recebeu conhecimentos sobre a
elaboração dos espumantes, aprimorando-os com o tempo
.
.
Em 1913, ainda em caráter doméstico, numa casa de madeira
que mandara construir, iniciou de fato a produção de um espumante, pelo
processo Asti, obtido a partir da uva Moscato de Canelli, ali cultivada. Foi um
sucesso e, na I Exposição de Uvas de Garibaldi, em 1913 conquistou medalha de
ouro.
Emanuelle Peterlongo Filho destacou-se pelo incentivo do
plantio de castas finas destinadas a vinhos brancos. Em seguida, introduziu a produção
de espumantes com fermentação na própria garrafa, saindo-se como pioneiro no
processo champenoise no País.
Um ano depois da primeira medalha, alcançou mais duas,
desta vez de prata,em Garibaldi. Foi agraciado, em 1925, com medalha de ouro na
Esposizione del Lavoro Italiano (Porto Alegre). Cinco anos depois, em 1930,
recebeu medalha de ouro em Antuérpia, Holanda...marcos de uma trajetória de
crescimento e de sucesso nas décadas que se seguiram.
Fato curioso aconteceu na chegada desses franceses na
estação ferroviária de Garibaldi: ao descerem do trem tiveram um choque com a
primeira visão panorâmica da pequena cidade: o alongado edifício na encosta
oposta mostrava escrito em suas paredes: Champagne Peterlongo. Quase voltaram
para a França!.
Em 1951, a Georges Aubert já trabalhava em regime normal
de operação. Em 1953 foi iniciada a construção do parque industrial. Em 1956, a
Georges Aubert trabalhava a todo vapor em suas instalações.
A pioneira brasileira Peterlongo e a primeira
multinacional Georges Aubert conviveram bem, cresceram e foram os grandes
produtores de espumantes brasileiros ao longo das décadas que se seguiram,
marcando a consolidação da elaboração deste produto no Brasil. Ao lado desses
pioneiros, outras vinícolas, como a Sociedade Riograndense, elaboraram
espumantes, mas seu papel não foi tão decisivo ou abrangente, pelo volume
produzido.
Em 1976, outro acontecimento iria marcar uma nova era da
indústria de espumantes brasileiros. Neste ano, Mario Geisse que vinha
trabalhando para a Chandon, iniciou, na Linha Amadeu o cultivo das uvas
européias finas para espumantes, a Pinot Noir e a Chardonnay.
Com a implantação da Cave de Amadeu, Mário Geisse
exerceu o papel de difusor das práticas de elaboração de espumantes finos,
produziu para muitas marcas famosas e tornou-se o vitorioso criador de ícones como
Cave de Amadeu e Cave Geisse, muitas vezes premiados nos grandes concursos
internacionais. Sem medo de cometer injustiças, Mário Geisse foi o grande pai
dos espumantes brasileiros de alta qualidade.
Um brinde ao espumante brasileiro!
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