quarta-feira, 9 de março de 2011

A TRAJETÓRIA CHILENA RUMO AOS TERROIRS

Em termos vitivinícolas a geografia física do Chile pode ser descrita simplificadamente como um território estreito e alongado, definido longitudinalmente por duas cordilheiras, dos Andes e da Costa, fracionado por uma série de vales isolados pela presença de cordões de montanhas transversais. Por sobre a cordilheira da Costa e pelas passagens dos rios, em diferentes intensidades, sopram os ventos frios típicos do Oceano Pacífico, enquanto que, encostas abaixo, agem em distintas naturezas os ventos frios que vem das neves eternas dos Andes.

Dentro dos vales, desde as encostas, em sucessivos terraços, às partes planas ribeirinhas, o solo exibe terrenos formados pelo acúmulo de detritos e matérias trazidas pelos cursos de rios que impõe mudanças de seu curso, ou terrenos com declividade variável nas partes baixas onde se acumulam materiais lavados secularmente dos altos. Os solos, via de regra, apresentam boa permeabilidade sobre subsolo calcário, pH ligeiramente alcalino, com ocorrências discretas de matérias orgânicas.

O clima chileno é seco, muito seco, não oferecendo os problemas de chuva durante a parte final da maturação e colheita, permitindo uvas de madurez plena e conteúdo concentrado de qualidade.

Seria tudo igual não fossem as diferenças!

Essas diferenças começaram a ficar evidentes a partir de 1995 com a aprovação oficial da Ley de Denominación de Origen, baseada na divisão do longo conjunto de vales em quatro regiões vitivinícolas de expressão, definidas pelo curso de rios de relevância e batizadas como Coquimbo, Aconcagua, Central e Sul. Estas quatro regiões foram divididas em sub-regiões totalizando treze Valles de origem qualificadas: Elqui, Limari, Aconcagua, Casablanca, San Antonio, Maipo, Cachapoal, Colchagua, Curicó, Maule, Itata, Bio-Bio e Malleco.

Inicialmente, esta divisão oficial obedeceu aos conhecimentos vitícolas da época que vêm sendo ampliados pelos estudos detalhados desenvolvidos por instituições universitárias e de pesquisa, abordando temas como tipo de solo, declividade dos terrenos, fertilidade da terra, influência marítima, temperaturas diurnas e noturnas, regime e distribuição de chuvas, horas de luz solar, insolação, produtividade e aclimatação das diversas cepas.

As principais dentre as treze zonas vinícolas que oferecem detalhes específicos as seguintes:

Maipo – área tradicional de instalação de vinícolas importantes desde 1850, com o predomínio inicial da casta colonial Pais (Criolla), que foi sendo substituída pela Cabernet Sauvignon e pela Merlot. As brancas atualmente ficam rstritas a cerca de 18% da área de vinhedos. Aqui figuram vinícolas muito conhecidas como Undurraga, Cousiño Macul, Concha y Toro, Carmen, Canepa, Santa Carolina, Santa Rita, Almaviva, El Principal, De Martino, Baron Philippe de Rothschild, Ventisquero e Tarapacá.

Aconcagua – inaugurada em 1870 pelo visionário Maximiano Érrazuriz Valdivieso que formou seus primeiros vinhedos, esta região vem se consolidando desde os pioneiros Cabernet Sauvignon e Merlot, até os atuais de Syrah e Carmenère.

Casablanca – descoberta recente sob a visão do enólogo Pablo Morandé, exibe atualmente uma grande área plantada de castas brancas como Chardonnay e Sauvignon Blanc, complementadas por vinhedos de Merlot.

Cachapoal – uma das áreas mais férteis da viticultura chilena, abriga especialmente Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenère e Syrah. As brancas, com 20% da área, são dominadas pelo Sauvignon Blanc e pela Chardonnay.

Colchagua – reúne os terroirs mais interessantes do país distribuídos em três zonas distintas: encostas dos Andes (Los Lingues), planície espremida entre dois cordões transversais de montanhas (Angustura) e áreas encostadas na Cordilheira da Costa (Lolol). Predominam as castas tintas , com vinhos potentes e concentrados de Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenère e Syrah. Das brancas destacam-se Chardonnay e Sauvignon Blanc.

Curicó – região de antiga tradição vinícola, desde que os Correa Albano implantaram vinhedos com mudas trazidas da França e Alemanha em 1851, iniciaram atividades naquilo que é atualmente a Viña San Pedro. As variedades mais cultivadas são a tinta Cabernet Sauvignon e a branca Sauvignon Blanc. Em tempos recentes foi palco de uma redescoberta pelo espanhol Miguel Torres que, atraído pelas especificidades da área e pela Sauvignon Blanc, produziu uma grande revolução no seio do vinho branco chileno.



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