domingo, 10 de julho de 2011

VINOS DE URUGUAY - JOYAS DEL CONOSUR

O Uruguai foi parte do Brasil nos tempos coloniais e isso explica o retardamento de se estabelecer a vitivinicultura naquelas plagas platinas. Os espanhóis fizeram um arrastão vinícola desde a porta de entrada no México e caminharam costa pacífica abaixo, espalhando vinhedos, disseminando a cultura do vinho, o que culminaria na belíssima província de Mendoza.

Embora com sua grande produção inicial de vinhos acídulos as terras mendocinas só vieram a conhecer a atividade vinícola emgrande escala após dois eventos importantíssimos: a fazenda experimental Quinta Normal de Agricultura e a inauguração da estrada de ferro para Buenos Aires, em 1885. Mais ou menos nessa época os imigrantes italianos inauguravam a vitivinicultura brasileira baseada nos vinhos inferiores de híbridas anericanas!



Somente em 1726, com a chegada dos primeiros imigrantes espanhóis ao Uruguai que foram plantadas as primeiras videiras e elaborados os vinhos pioneiros para consumo no restrito âmbito familiar. A partir daí o vinho de viníferas incorporou-se decididamente nos hábitos uruguaios.

A partir de 1828, quando foi finalizada a guerra de emancipação e consolidou-se o Estado Oriental del Uruguay que tiveram início oo primeiros passos para o desenvolvimento da vitivinicultura nacional.

Nos idos de 1870  ocorrem efetivamente ações para a produção comercial de vinhos, sobressaindo-se os trabalhos de duas importantes personalidades.

No sul, Francisco Vidiella introduziu a variedade francesa Folle Noire, chamada inicialmente de Peñarol e, no final, de Vidiella. Na sua granja foi festejada a primeira fiesta nacional de la vendimia.

Ao norte, no departamento de Salto, em terras próximas a Uruguaiana, Pascual Harriague formou seus vinhedos de Tannat, que logo se estenderam por outras terras, recebendo a denominação de Harriague.

Em 1893, os vinhedos uruguaios ultrapassavam a casa dos mil hectares que foram seriamente afetados no começo dos anos 1900, atacados tardiamente pela filoxera. As mudanças foram radicais e os vinhedos, em sua maioria, foram replantados com videiras enxertadas. Próximo a Colônia, na bodega Cuna de Piedra, pude sorver Tannat de videiras mais do que centenárias, conservadas em pés francos.

Neste início de século aportaram levas de imigrantes italianos que deram novo impulso à vitivinicultura, elevando a área ocupada por vinhedos para a casa dos 16.000 hectares. Porém, na segunda metade desse século, aconteceu uma gradual redução para alcançar qualidade mundial para os vinhos. Na década de 1980, a área plantada se resumiu a cerca de 10.000 hectares, com os vinhedos de maior qualidade cultivando castas nobres para vinho.


Nesse período também acontecia a transição política do Uruguai que estava prestes a abrir seu mercado para o mundo, elimindo o protecionismo para seus produtos, o que sinalizava claramente para o fato de que o vinho uruguaio não iria ter condições de competir com o importado.

Em 1987 foi criado o INAVI – Instituto Nacional de Vitivinicultura, para trabalhar o desenvolvimento do vinho uruguaio na direção da qualidade mundial. No ano seguinte, amparado pelo governo foi iniciado um estudo amplo das potencialidades da vinicultura uruguaia que, para maior efetividade, contou com a contratação de especialistas norte-americanos da Califórnia.

Depois de um longo período degustando todos os vinhos finos uruguaios os consultores chegaram à conclusão que os vinhos de castas finas tradicionais não tinham diferenciais de tipicidade, não apresentavam qualidade suficiente e não exibiam preços adequados para enfrentar a concorrência internacional.

Os consultores só não haviam degustado o Tannat porque este era um vinho rústico. elaborado muitas vezes cortado com Isabel e comercializado em garrafões.

Mas o impasse estava formado. Os americanos interpretaram que os vinhos uruguaios não iriam dar sustentação ao segmento e queriam saber se não havia mais nenhum vinho para ser provado. Como última tentativa, Juan José Arocena, executivo da Vinos de la Cruz, escolheu um garrafão varietal puro de Tannat, preencheu umas garrafas normais e, mesmo sem convicção, entregou aos americanos.

Estava descoberto o Tannat uruguaio em 1989!

O Tannat degustado estava tão mal vinificado quanto os demais vinhos. Acontece que os americanos identificaram no Tannat traços característicos e personalidade que poderiam ser potencializados através de uma vinificação competente.

Daí para a frente desenvolveu-se um programa a vinificação correta do Tannat que, não só foi apresentando melhorias na qualidade do vinho, mas foi se revelando ao mundo como a versão uruguaia da variedade. A década de 1990 marcou a grande evolução do vinho uruguaio, não só de Tannat mas de muitas outras castas clássicas da vitivinicultura mundial.

Em 2002, após visita ao Uruguai, lancei os vinhos uruguaios na mídia brasileira por meio de uma série de artigos. De lá para cá, a indústria vinícola uruguaia só cresceu e atualmente exibe uma grande diversidade de bodegas. uma respeitável carta de vinhos finos de alta qualidade e uma invejável imagem internacional.

Os vinhos uruguaios, de história e sucesso bem recentes, bem que poderiam ser copiados pela vitivinicultura brasileira para fugir da imensa quantidade de vinhos inferiores de híbridas americanas e crescer em produção de vinhos finos para atender uma fatia maior do próprio mercado brasileiro.




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