quinta-feira, 24 de março de 2011

FATOS QUE MARCARAM O ESPUMANTE BRASILEIRO

As tão festejadas estrelas dos espumantes brasileiros iniciaram sua trajetória bem antes da oficialização da Champagne como região produtora única e oficial do espumante champagne.


ESPUMANTE COMEMORATIVO DA CIA VINÍCOLA RIOGRANDENSE

Consta que em Carlos Barbosa (cidade do estado do Rio Grande do Sul) um destacado produtor de vinhos, a vinícola Alfredo Dillenburg, que vinha conquistando espaços importantes no mercado da época, com sua linha composta dos rótulos Rheno, Medoc e Champagne, participou e brilhou na Grande Exposição de Garibaldi de outubro de 1914. Note-se o uso indevido do nome Champagne para o espumante!

Italiano de Trento (Tirol), o engenheiro agrimensor Emanuelle Peterlongo Filho chegou à região de Garibaldi (outra importante cidade da atualidade no estado do Rio Grande do Sul) para trabalhar no traçado da cidade de Garibaldi. Ele ainda não sabia que seu nome um dia estaria ligado ao vinho brasileiro.

Foi nomeado coletor estadual de Garibaldi, dado seu grande talento e capacidade de trabalho. Era grande apreciador de vinhos brancos e aficionado dos espumantes. Em caráter de amadorismo, paralelamente às atividades da vinícola Dillenburg, iniciou um tímida produção em sua casa, com a ajuda do religioso Irmão Pacômio (francês residente no local), de quem recebeu conhecimentos sobre a elaboração dos espumantes, aprimorando-os com o tempo.


Em 1913, ainda em nível doméstico, numa casa de madeira que mandara construir, iniciou de fato a produção de um espumante, pelo processo Asti, obtido a partir da uva Moscato de Canelli, ali cultivada. Foi um sucesso e, na I Exposição de Uvas de Garibaldi, em 1913 conquistou medalha de ouro com seu vinho. 

Emanuelle Peterlongo Filho destacou-se pelo incentivo do plantio de castas finas destinadas a vinhos brancos. Em seguida, introduziu a produção de espumantes com fermentação na própria garrafa, saindo-se como pioneiro no processo champenoise no Brasil.

Um ano depois da primeira medalha, alcançou mais duas, desta vez de prata,em Garibaldi. Foi agraciado, em 1925, com medalha de ouro na Esposizione del Lavoro Italiano (Porto Alegre). Cinco anos depois, em 1930, recebeu medalha de ouro em Antuérpia, Holanda. Foram os marcos que precederam sua trajetória de crescimento e de sucesso nas décadas que se seguiram.

Na década de 1950 aconteceria um fato inusitado na vitivinicultura brasileira. A Georges Aubert, produtora francesa dos espumantes Clairette de Die, vin mousseux naturel, AOC’s Aurel e Saillams, com mais de 75 anos de tradição, enfrentava problemas políticos após o encerramento da Segunda Grande Guerra e tinha planos de deixar a França.


INICIALMENTE, USAVA-SE ERRONEAMENTE A DENOMINAÇÂO "CHAMPAGNE"

Os primos René e Georges Aubert tiveram contato com Irmão Otão, marista de Garibaldi, que estava na França pesquisando o mundo vinícola. O religioso passou estratégicas informações sobre as potencialidades de Garibaldi. Era tudo o que eles queriam ouvir. Em 1950 a Georges Aubert simplesmente arrumou as malas (com todas as instalações vinícolas importantes) e mudou-se para o Brasil.

Fato curioso aconteceu na chegada desses franceses na estação ferroviária de Garibaldi: ao descerem do trem tiveram um choque com a primeira visão panorâmica da pequena cidade: o alongado edifício na encosta oposta mostrava escrito em suas paredes: Champagne Peterlongo. Quase voltaram para a França!.

Em 1951, a Georges Aubert já trabalhava em regime normal de operação. Em 1953 foi iniciada a construção do parque industrial. Em 1956, a Georges Aubert produzia a todo vapor em suas instalações.

A pioneira brasileira Peterlongo e a primeira multinacional Georges Aubert conviveram bem, cresceram e foram os grandes produtores de espumantes brasileiros ao longo das décadas que se seguiram, marcando a consolidação da elaboração deste produto no Brasil. Ao lado desses pioneiros, outras vinícolas, como a Sociedade Riograndense, elaboraram espumantes, mas seu papel não foi tão decisivo ou abrangente, pelo volume produzido.

Em 1973, a indústria vinícola brasileira de espumante daria um grande salto com a constituição da Provifin, atual Chandon, que passou a plantar vinhedos próprios em 1975, trazendo do Chile o jovem engenheiro agrônomo Mário Geisse. A Chandon somou ao parque brasileiro instalações, tecnologia e filosofia de elaboração de espumantes finos de qualidade internacional.

Em 1976, outro acontecimento iria marcar uma nova era da indústria de espumantes brasileiros. Neste ano, o engenheiro agrônomo chileno que vinha trabalhando para a Chandon, iniciou, na Linha Amadeu, paralelamente, o cultivo das uvas européias finas para espumantes, a Pinot Noir e a Chardonnay.

Com a implantação da Cave de Amadeu, Mário Geisse exerceu o papel de difusor das práticas de elaboração de espumantes finos, produziu para muitas marcas famosas e tornou-se o vitorioso criador de rótulos famosos como Cave de Amadeu e Cave Geisse, muitas vezes premiados nos grandes concursos internacionais. Sem medo de cometer injustiças, Mário Geisse foi o grande pai dos espumantes brasileiros de alta qualidade.

As pioneiras Peterlongo e Georges Aubert evoluíram, as vinícolas atendidas pela Cave de Amadeu levantaram-se em vôo solo, a Cave de Amadeu continuou seu caminho de sucessos, este conjunto todo transformando o Brasil no produtor de espumantes entre os melhores do mundo.

Prova maior desta indiscutível situação é o convite, aceito e cumprido, que Mario Geisse recebeu para elaborar champagne ano passado em uma das mais tradicionais casas da região francesa da Champagne.

Um brinde ao espumante brasileiro!






Um comentário:

Naná disse...

Gostei muito de saber da historia do espumante brasileiro. Agora eu vou tomar com mais conhecimento!