sábado, 16 de março de 2013

VINHO BRASILEIRO: A TENTATIVA COOPERATIVISTA DE PATERNÓ


A partir de 1875, com a chegada dos imigrantes italianos ao Rio Grande do Sul, atividades vitivinícolas brasileiras conheceram seu efetivo início. Observa-se claramente que anteriormente não havia o segmento de vinho brasileiro, cujo nascimento se deve ao trabalho dos imigrantes nos seus lotes "coloniais". Na entrada dos anos 1900,essas atividades experimentaram  um grande incremento.

Viviam os produtores rurais, cada um isolado no próprio lote, no interior da nascente zona rural,  enquanto que os comerciantes, instalados nas pequenas cidades trabalhavam no escoamento desta produção. Esses últimos detinham informações importantes sobre a comercialização e o uso do dinheiro, tirando vantagens nas transações com  os ingênuos pequenos produtores.
 
Essa situação disparou o trabalho pessoal e solidário de um padre chamado Amstad que tentou agregar as pequenas forças produtivas do estado em torno de cooperativas, a fim de lhes dar mais força nas negociações. Quando morreu, aos 86 anos, em 1938, suas andanças tinham acumulado ao redor de 129 mil quilômetros pelo interior riograndense, contexto em que participou da fundação de 62 cooperativas de produtores agrícolas.  Foi uma primeira onda cooperativista que não atingiu concretização e, assim, não conseguiu resolver o problema da área vinícola.

Em decorrência desse movimento aconteceram calorosas discussões em congressos agrícolas ao redor do ano de 1908 que deram início intensa propaganda para a aglutinação dos esforços agrários sob a forma de cooperativas.

 
Assim o Brasil havia iniciado a absorver resquícios do pensamento ideológico europeu. No Rio Grande do Sul, esta corrente foi apoiada firmemente pelo Governo Estadual que, para levar avante a tarefa de difundir conceitos e mobilizar simpatizantes, trouxe o ideólogo  italiano Dr. Stefano Paternó, personalidade aderida ao movimento cooperativista europeu de longa data.

 

 
Reunião histórica de Paternó com personalidades gaúchas pelo coopereativismo

 
A absorção e aceitação das idéias cooperativistas, eloqüentemente defendidas por Paternó, ocorreram de forma surpreendente em todas as partes visitadas por ele. Uns por convicção, outros por necessidade e, ainda outros, para agradar às autoridades locais, engrossaram fila em torno do cooperativismo e foram ingressando, em massa, nas sociedades que iam surgindo. Num curto espaço de tempo, foram sendo formadas cooperativas, sob a liderança de Paterno, em Porto Alegre, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi e outras cidades.

 
Estas organizações, totalizando condições operacionais de praticamente 13.000.000 litros, dispunham de uma capacidade de vinificação para atender quase que completamente a produção dos parreirais da região.
 
Tão rapidamente como foram constituídas, também desmoronavam fulminante e desastrosamente, devido, principalmente, aos seguintes fatores:
 
1°) a admissão de sócios despreparados para uma ação cooperativista e outros com interesses ocultos  de fazer capitular essas novas sociedades;
 
2°) a contrapropaganda e o boicote que o negociante fez junto ao produtor;
 
3°) a má administração que geralmente era atribuída a gente sem idoneidade que agia em benefício próprio ou de outros;
 
4°) a deficiência gerencial de elementos despreparados colocados em funções importantes;
 
5°) as múltiplas finalidades sem simetria conceitual a que se propunham as cooperativas;
 
6°) a crítica situação da conjuntura econômica brasileira;

 
O que sobrou de positivo deste movimento fracassado foram as sementes dos conceitos cooperativistas, lembranças marcadas pela eloqüência das palestras e pelo que restou dos grandiosos prédios e equipamentos de produção, que viriam a renascer com força máxima na nova fase de 1929.

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