A todo momento somos surpreendidos por meias-verdades que nos confundem e, se não fazemos uma análise aprofundada, passamos a repetir os falsos conceitos que nem sempre têm correspondência com a realidade. Assim vão se estabelecendo os mitos do vinho.
A bem da verdade, estes vinhos por mais caros que sejam, quando colocados em degustação às cegas, nem sempre arrebatam os primeiros lugares, embora isso não represente qualquer desmerecimento. Para a agradabilidade de um apreciador de vinhos isento a qualidade está na taça, no momento e na companhia, descartando rótulos e indicações profissionaias. Ai repousa a realidade do vinho.
Em socorro a esta tese vem a repetição da famosa Cata de Berlin realizada em São Paulo, em novembro de 2005, que foi um painel de degustação às cegas de vinhos de grande qualidade das vinícolas chilenas, francesas e italianas.
Fomos 40 jornalistas brasileiros especializados e de renome que, em evento coordenado pelo empresário vinícola chileno Eduardo Chadwick e pelo respeitado conselheiro da revista inglesa Decanter, Steven Spurrier, chegando à seguinte classificação:
Obs.: os preços são daépoca do painel.
1) Château Margaux 2001 – Margaux – Bordeaux – França (R$ 1.200,00)
2) Château Latour 2001 – Pauillac – Bordeaux – França (R$ 2.000,00)
3) Viñedo Chadwick 2000 – Chile (R$ 430,00)
4) Guado ao Tasso Bolgheri DOC Superiore 2000 – Toscana – Itália (R$ 400,00)
5) Seña 2001 – Chile (R$ 350,00)
6) Seña 2000 – Chile (R$ 330,00)
7) Don Maximiano 2001 – Chile (R$ 250,00)
8) Viñedo Chadwick 2001 – Chile (R$ 450,00)
9) Château Lafite-Rothschild 2000 – Pauillac – Bordaux – França (R$ 2.900,00)
10) Sassicaia Bolgheri DOC 2000 – Toscana – Itália (R$ 680,00)
Essa classificação não decreta definitivamente a superioridade de um vinho mas aponta, com a clareza da análise de quarenta experts, a agradabilidade maior ou menor de cada amostra naquela ocasião sobre o gosto médio de um grupo de alto nível.
O valor de um vinho resulta de uma série de fatores de distintas naturezas que se somam à sua alta qualidade. Como verdade definitiva, todos esses bons vinhos sobejam indiscutível alta qualidade, ficando a determinação bem diferente de seus preços baseada normalmente em elementos alheios ao valor do produto em si.
Um Romanée Conti, guardadas as devidas proporções enomitológicas, tem correspondência com um Barca Velha (Portugal), um Vega Sicilia (Espanha) ou um Château Margaux (França).
A diferença entre eles é, além dos detalhes de um processo mais ou menos artesanal de elaboração, está no valor da propriedade onde se encontram implantados e na exiguidade de oferta.
O metro quadrado da reduzida área dos vinhedos do Romanée Conti (menos de 20mil m²) torna-o o mais caro vinhedo do mundo! Quem compra o vinho tem que pagar também por isso.
Assim, os custos de elaboração e a exiguidade de oferta, consequentemente, seu preço de mercado, fazem do Romanée Conti um mito, enquanto que a sua indiscutível alta qualidade representa a realidade.
Os chilenos Alma Viva e Don Melchor, os italianos Barolo Percristina e o Brunello Montalcino Col D’Orcia, os australianos Yalumba The Reserve Cabernet Sauvignon/Shiraz e o Petaluma Coonawara Cabernet Sauvignon/Merlot, entre tantos outros, somam-se à galeria da realidade dos vinhos de alta qualidade e mesclam-se no rol dos valores maiores ou menores de acordo com a intensidade do fator mito.
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