quarta-feira, 25 de maio de 2011

PINOTAGE – A SULAFRICANA QUE GANHOU O MUNDO

Em 1925, na Universidade de Stellenbosch, capital do vinho sulafricano, o prof.Abraham Izak Perold cruzou Pinot Noir com Hermitage (Cinsault). O que se pergunta é porque uma das maiores autoridades mundiais de uva e vinho quis cruzar uma princesa francesa, Pinot Noir, como uma humilde e rústica casta do sul francês? Dr. Perold não deixou a justificativa da sua escolha.

Deste cruzamento resultaram apenas quatro sementes. O professor não se abateu e com extremos cuidados pessoais plantou as quatro sementes na sua casa em Welgevallen.

Ao final de 1927 Perold iniciou trabalho na vinícola KWV, em Paarl, para onde se mudou, ficando sua casa praticamente abandonada. A universidade enviou trabalhadores para uma limpeza dos jardins. Outro professor, Dr. Charlie Niehaus, que sabia das quatro sementes, esteve no local e resgatou as quatro videiras.

PROF. KRIEL, UNIV. DE STELLENBOSCH - VINHEDOS DE PINOTAGE DA LABORIE

Niehaus transplantou as videiras francas (sem enxertia) para o Elsenburg Agricultural College, e o Prof CJ Theron fez experiências de enxertia da “Perold’s Hermitage x Pinot” sobre vários cavalos, em 1935, até identificar o melhor par.



Perold entusiasmou-se com as videiras enxertadas e durante uma visita a Theron, mudaram o nome da Perold’s Hermitage x Pinot para Pinotage. Uma das quatro mudas enxertadas mostrou um desempenho muito superior às demais e foi selecionada como material para propagação da nova variedade.


ARQUITETURA TÍPICA (HOLANDESA) DAS VINÍCOLAS SULAFRICANAS

O primeiro vinhedo de Pinotage foi formado na escola de Eisenburg pelo professor C.T. de Waal, que vinificou o primeiro Pinotage em 1941. Mas o primeiro vinhedo comercial da casta foi formado na fazenda Myrthe Grove, em 1943.

No concurso Cape Wine Show, 1962, o Pinotage foi campeão através do Bellevue 1959 e do Kanonkop 1961. Ainda sem grandes méritos como vinho, as premiações mostraram que a Pinotage poderia bater as clássicas em degustações às cegas dos concursos. A vinícola AFW – Stellenbosch Farmer’s Winery foi pioneira ao engarrafar e comercializar o Pinotage 1959 da Bellevue, com o rótulo histórico Lanzerac Pinotage em 1961.


O vinho da Pinotage não repetiu a palidez e o corpo leve da Pinot Noir, como não copiou a maciez da Cinsault, e desde o princípio apresentou aromas próprios de amoras silvestres e um incisivo tanino persistente. Como defeito grave que já foi contornado, aromas químicos de acetona.

Finalmente em 1991, a África do Sul se integrou ao mundo e teve início a produção de vinhos inferiores de Pinotage, Cabernet Sauvignon e Chenin Blanc. No entanto neste mesmo ano, no International Wine and Spirits Competition, Londres, o Pinotage da Kanonkop foi considerado por Robert Mondavi como o “the best red wine” do evento.

Vinícolas exportadoras para mercados sofisticados trabalharam na melhoria do Pinotage com abaixamento da produtividade por videira, antecipação da colheita a fim de garantir uma concentração menor de açúcares. Na adega a fermentação passou a ser conduzida a temperaturas mais altas resultando na evaporação (eliminação) dos ésteres voláteis de acetona. A passagem por carvalho francês trouxe um toque de finura, com especiarias, baunilha e tostados, sobre frutas silvestres pretas e um tanino incisivo e agradável.

Os bons vinhos de Pinotage observa-se a cor púrpura profunda, no olfato um sutil traço de borracha queimada, dominado por um leque de aromas vegetais e de frutas como a ameixa, banana, groselha preta e casca seca de laranja. Não raro, toques aromáticos remetem para o couro de luvas e o chocolate.

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