domingo, 11 de setembro de 2011

AINDA BEM QUE LISBOA NÃO SE JUNTOU A NOVA YORK

Quem teve a oportunidade de ler uma das grandes obras do escritor português Saramago, Barco de Pedra, sentiu o inconformismo dos peninsulares pela maneira segregatória com que os demais europeus ocidentais os enxergavam.

A muralha natural dos Pirineus foi mostrada como a linha divisória entre as terras da alta civilização européia e os domínios da Península Ibérica, dos espanhóis e portugueses. A obra de Saramago imagina os Pirineus como ponto de cisão da península que se separia do preconceituoso Continente Europeu para procurar mar afora seu próprio e grande destino.

Nesse enredo, essa grande massa, tal como uma ilha ambulante, viria a ser um enorme barco de pedra a navegar em direção a Nova York, a capital do mundo, um conglomerado de etnias, religiões, filosofias e de muito dinheiro que, certamente, iria dar muito mais valor aos íberos na sua criatividade e no seu rico  tradicionalismo. Imagino que Lisboa, grudada a Nova York, passaria a ser um bairro desta.

Mas aí que veio meu medo. O americano é o povo da massificação. A Zinfandel, variedade de uva plantada superlativamente na Califórnia, deveria se tranformar na coca-cola dos vinhos! O fast food engoliu o romantismo e o tempo a escorrer prazerozamente nos muitos restaurantes de cozinha típica. Foi a banalização da culinária. Democratização do pior!
 
Provavelmente o restaurante Tavares, o famoso Tavares Rico, no bairro do Chiado, em Lisboa, viria ser uma ampla casa de sanduíches e pratos estandartizados, mediocrizados, para se comer rapidamente tomando um "refri". Seria o fim do mundo, pelo menos do mundo da boa culinária e da enogastronomia maior.
 
Felizmente as idéias do Saramago ficaram na ficção.
 
Para nós, sobreviveram os grandes restaurantes portugueses e espanhois de Lisboa, Porto, La Coruña, Madri  e outros, sempre com boa comida, muito bem acompanhada dos robustos vinhos peninsulares ou do agulhoso vinho verde.
 
Bem, que alívio! Ganhamos todos. Ganhou Nova York que continua encantadoramente plural, ganhou Lisboa que manteve sua tradição e tipicidade. E, afinal, ganhou  Saramago que levou seu premio Nobel!

Nenhum comentário: