quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

MADEIRA – UM VINHO VERSÁTIL

A Ilha da Madeira teve inicialmente na cana-de-açúcar sua cultura predominante, a ponto de figurar em 1500 como a maior produtora de açúcar do mundo. Com a evolução dos canaviais brasileiros, apoiados na mão-de-obra escrava, gerando açúcar mais barato, a ilha derivou suas atividades para a vitivinicultura.

Foi a sorte grande da Ilha da madeira.

A videira que ocupava o segundo lugar nas atividades ilhotas, cresceu consistentemente com as variedades Malvasia, Tinta da Madeira, Malvasia Roxa, Sercial, Verdelho, Boal e a Negra Mole.

As vinhas adaptaram-semuito bem nas íngremes encostas soalheiras do lado sul nas quais são conduzidas no sistema de latadas ou pérgulas, formando sucissivos carramanchões em degraus morro abaixo. A colheita é manual e as uvas são conduzidas em cestos.

O estilo Madeira originou-se dos vinhos embarcados para venda nas transações no Oriente e tinham uma parte não vendida, que retornava novamente no calor márítimo e no balanço oceânico. Verificou-se que esses vinhos voltavam com uma qualidade bem característica.

Com a descoberta deste tipo de qualidade especial dos vinhos Madeira, estes passaram a ser vendidos sob o nome de Vinho de Volta ou Vinho de Torna-Viagem. Essas longas viagens, feitas sob forte calor, induziam o vinho a um envelhecimento suave, cujo gosto foi muito apreciado nas cortes européias.

O vinho Madeira é um licoroso com teor alcoólico entre 18 e 20º, elaborado com adição de aguardente vínica para abafar a fermentação natural e outras providências que procuram reproduzir as condições de envelhecimento das antigas viagens. Tem sempre relação com a uva que o gerou: Malvasia – doce, suave, denso, de cor e perfume acentuados; Sercial – seco, leve, de cor clara e de aroma suave; Verdelho e Boal – intermediários entre o Malvasia e o Sercial.

A tradição nos ensinou que o Madeira pode ser aperitivo, acompanhamento de sobremesas ou companheiro do deleite de um bom charuto para quem o aprecia.

No entanto, experiência que fizemos em restaurante de São Paulo mostrou as qualidades dos vinhos Madeira na harmonização com pratos na sequência inteira de uma refeição.

A salada Caesar de entrada ficou bem harmonizada com Sercial, tanto da Wine Company, (5anos, seco, açúcar 45 g/litro, 19 ° GL, da Mistral) como da Justino’s (10 anos, lote, seco, açúcar 50 g/litro, 19° GL, da Casa Flora).

O primeiro prato, ravioli recheado com ricota e amêndoas, ao molho curry com maçãs e uvas passas saiu-se muito bem com Verdelho, nos dois exemplares testados: Blandy’s Rain Water (3 anos, meio seco, 80 g/litro, 18.9° GL, da Mistral), e Justino’s Madeira Verdelho (10 anos, meio seco, açúcar 70 g/litro, 19°GL, da Casa Flora).

O segundo prato, escalope de mignon ao molho funghi com risoto de tomate seco e rúcula, casou-se perfeitamente com um Bual Borges Reserva (5 anos, meio doce, 18,5° GL), assim como ao Justino’s Madeira (10 anos, meio doce, 19° GL), ambos da Casa Flora.

A sobremesa, torta de chocolate com nozes, calda de chocolate quente com sorvete de creme, a harmonização esteve muito bem com Blandy’s Rich Malmsey Tinta Negra (15 anos, doce, açúcar 00 g/litro, da Mistral, e com Justino’s Madeira Colheita 95 (doce, açúcar 110 g/litro, da Casa Flora).

Navegando pelas surpresas nas distintas harmonizações, os Madeira ajustaram-se aos pratos servidos e se revelaram muito bons de casamento!

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