Nada de confusão com o champagne francês. Os produtores brasileiros de espumantes e vinhos estão investindo, cada vez mais, em produtos de alta qualidade e com identidades próprias. Um marco deste processo foi a entrega do certificado da Indicação Geográfica, na categoria de Indicação de Procedência (IP) para os vinhos dos Altos Montes, nas cidades de Flores da Cunha e Nova Pádua, na Serra Gaúcha. O evento de entrega ocorreu na Escola Internacional de Gastronomia (UCS/Icif) em 18 de abril de 2013 - por coincidência, o mesmo dia em que foi entregue o certificado do champagne, no Consulado da França, em São Paulo.
Em Flores da Cunha, o certificado foi entregue pelo coordenador de Indicação Geográfica do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), Luiz Cláudio Dupim, ao presidente da Associação de Produtores dos Vinhos dos Altos Montes (Apromontes), Deunir Argenta.
“Atualmente, somos 13 vinícolas preparadas para receber bem e produzir ótimos vinhos. Este será um marco na nossa história. Estamos, de fato, sendo reconhecidos e recebendo um certificado que possui um significado muito grande. Esperamos que isso possa agregar valor aos nossos produtos, facilitar exportações e potencializar o enoturismo”, destacou o presidente da Apromontes, Deunir Argenta.
Com esta concessão, o Brasil passa a ter três Indicações Geográficas para vinhos e espumantes: Vale dos Vinhedos e Pinto Bandeira se juntam a região dos Altos Montes, todos no Rio Grande do Sul.
Para obter a certificação, os produtores contaram com o auxílio da Embrapa Uva e Vinho, da Embrapa Clima Temperado, da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
POR DENTRO DA IP ALTOS MONTES
Localizada na região vitivinícola da Serra Gaúcha, no nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, a IP Altos Montes possui uma área delimitada de 173,84 km², ocupando parte do município de Flores da Cunha e parte do município de Nova Pádua, na margem esquerda do Rio das Antas.
Segundo a professora Ivanira Falcade, da UCS, a área delimitada de fato faz jus ao nome Altos Montes, já que está localizada na porção mais alta da viticultura da Serra Gaúcha, com altitude média de 678 metros e montes que chegam a até 885 metros. Inclui ainda as áreas de uso vitícola mais altas, sendo circundada por vales de menor altitude e altas declividades.
Área com boa homogeneidade de fatores naturais, apresenta clima temperado quente, sendo que em regiões mais altas encontra-se clima temperado. A geologia corresponde a rochas vulcânicas, incluindo basaltos, riolitos, riodacitos e dacitos.
As classes de solos que ocorrem na região são argissolo acinzentado, cambissolo háplico e neossolo litólico. Os estudos mostraram que a IP Altos Montes apresenta uma área de 14.616 hectares nas classes de solo de aptidão preferencial e recomendável para uso com viticultura, o que corresponde a 84% de sua área total.
Dados do Cadastro Vitícola mostram que os municípios de Flores da Cunha e de Nova Pádua possuem um total de 1.967 propriedades vitícolas, cuja área média é de 12,7 hectares, sendo utilizada basicamente mão-de-obra familiar. Cada propriedade cultiva, em média, 3,13 hectares de vinhedos. Embora a viticultura de vinhos finos ocorra na região desde os anos 1930, em particular pela ação da então Vinícola Rio-Grandense, a viticultura para vinhos finos e espumantes da Apromontes foi retomada sobretudo pelas vinícolas associadas, através da implantação de vinhedos de alta qualidade e vinícolas modernas.
Regras da IP Altos Montes
A produção de vinhos da IP Altos Montes é feita de acordo com o que estabelece o Regulamento de Uso, no qual estão definidos, dentre outros:
a) Os produtos e variedades autorizadas:
- Para Vinho Fino Tinto Seco: Cabernet Franc, Merlot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Ancellotta, Refosco, Marselan, Tannat;
- Para Vinho Fino Branco Seco: Riesling Itálico, Malvasia de Candia, Chardonnay, Moscato Giallo, Sauvignon Blanc, Gewurztraminer;
- Para Vinho Fino Rosado Seco: Pinot Noir, Merlot;
- Para Vinho Espumante Fino Branco ou Rosado: Riesling Itálico, Chardonnay, Pinot Noir, Trebbiano;
- Para Vinho Espumante Moscatel Branco ou Rosado: Moscato Branco, Malvasias, Moscato Giallo, Moscato de Alexandria;
b) No mínimo 85% da uva utilizada deve ser proveniente da área delimitada;
c) A produtividade máxima autorizada e a graduação mínima da uva para vinificação:
- Para vinhos finos tintos secos (estruturados): 8,0 t/ha e 19ºBabo;
- Para vinhos finos tintos secos (jovens): 9,0 t/ha e 18ºBabo;
- Para vinhos finos brancos secos: 8,0 t/ha e 18ºBabo;
- Para vinhos espumantes finos brancos ou rosados: 10,0 t/ha e 15ºBabo para as uvas brancas autorizadas e 9,0 t/ha e 15ºBabo para a variedade tinta Pinot Noir;
- Para vinhos espumantes moscatéis brancos ou rosados: 13,0 t/ha e 14ºBabo;
d) Os vinhos finos brancos e os vinhos espumantes varietais têm na sua composição 100% da uva do respectivo varietal;
e) A elaboração, envelhecimento e engarrafamento dos produtos deve ocorrer dentro da área geográfica delimitada;
f) Todos os lotes de vinhos são rastreados sob o controle do Conselho Regulador da IP; ainda, nenhum vinho pode ir para o mercado sem passar pelo crivo da comissão de degustação que avalia, às cegas, a qualidade dos produtos.
Quem integra a região dos Altos Montes
Fante Indústria de Bebidas, Viapiana Vinhos e Vinhedos, Luiz Argenta, Terrasul Vinhos Finos, Cooperativa Vinícola Nova Aliança, Vinhos Mioranza, Panizzon Espumantes e Vinhos Finos, Vinícola Salvador, Valdemiz Vinhos Finos, Casa Venturini, Vinícola Fabian, Boscato Vinhos Finos e União de Vinhos.
O roteiro enoturístico dos Altos Montes possui algumas das mais modernas e belas vinícolas do Brasil. Berço da produção de vinhos finos no país, a região ainda tem entre seus atrativos paisagens deslumbrantes para o Rio das Antas e gastronomia típica, que tem como seu principal destaque o menarosto, prato típico de Flores da Cunha.
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