Venho acompanhando o vinho brasileiro em todas as suas entranhas faz décadas. Houve evolução em determinadas regiões e ocorreram decadência em outras, cada qual escrevendo sua história e se apoiando em filosofias distintas.
Quem abriu a cabeça para a modernidade, investindo na qualidade de seus vinhedos, na tecnologia de suas cantinas e na natureza não intervencionista de seus métodos, chegou ao nível internacional de vinhos. Quem apostou na tradição de princípios errados terá sobrevida enquanto ainda existir mercado para vinhos rústicos e desprovidos de qualidade. Estão simplesmente em rota de colisão.
O primeiro vinho brasileiro de qualidade que eu tomei foi um Granja União, da adega de meu falecido pai, um varietal de Cabernet Franc, safra 1937, e outro de Bonarda, safra 1949. Tenho umas poucas garrafas fechadas guardadas para lembrar daqueles tempos. Naquelas afastadas décadas o brasileiro médio não bebia outro que não vinhos de híbridas americanas, rascantes ou os famosos docinhos. Resultado, a Granja União foi resistindo e definhando ao longo dos tempos.
As multinacionais que aqui aportaram nas décadas de 1960 e 70, não resistiram à mediocridade do nosso mercado e acabaram desistindo, mas deixaram a semente do vinho fino brasileiro. Atilio Dal Pizzol, Luiz Valduga e Laurindo Brandelli foram alguns dos pioneiros que regaram esta semente e abriram caminho para a nova cara do vinho brasileiro, surgida a partir da década de 1990.
Agora, vencidas as enormes dificuldades, verificamos que nesses últimos dez anos o número de vinícolas brasileiras cresceu 70% no Rio Grande do Sul e, talvez, uns 80% em Santa Catarina.
Conta-nos o site http://www.valedovinho.com/ que nos últimos dez anos, em média, três novas vinícolas nasceram por mês, no Rio Grande do Sul – estado que responde por cerca de 90% da produção de vinhos do país. Atualmente, são 751 empresas, que garantiram o aumento de desde 2001 para cá.
Em Santa Catarina, cuja produção era maciçamente de vinhos de amerinanas, surgiu a ACAVITIS, com mais de duas dezenas de produtores de uvas viníferas e de vinhos finos de qualidade mundial.
Os principais motivos da entrada de novas empresas, que na maioria é de pequeno e médio porte, mas sempre trabalhando com baixa produção por hectare, é o crescimento consistente do consumo de vinhos finos no Brasil e a insuficiência de atendimento pelo setor vitivinícola do país.
Com a atratividade do segmento, uma corrente de novos produtores foi se formando trazendo investidores de outros setores da economia ou encorajando produtores de uva a assumir a elaboração dos próprios vinhos.
O mercado brasileiro de vinhos finos pode ser considerado explosivo e que, a qualquer momento, pode gerar uma demanda adicional enorme. Isso será bom para os países exportadores, mas também garantirá o crescimento da acanhada vitivinicultura brasileira de vinhos finos. Uma das origens desse aumento é a migração dos bebedores de zurrapas para o consumo habitual de vinhos finos.
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